domingo, 22 de abril de 2012

A noite dele


Como nas grandes histórias, os heróis tinham de aparecer todos ontem, e numa das noites que o futebol mundial lembrará por muito tempo, a coroa foi de Ronaldo. Não consigo descrever a alegria que senti por aquele golo. Ninguém precisava tanto, e ninguém o merecia tanto como ele. Numa das rivalidades mais celebradas que o Jogo já viu, Ronaldo nunca teve uma folga, uma escapatória. Como disse Scolari há tempos, o único problema de Ronaldo é Messi. Sem ele, estes seriam os anos de Ronaldo, sem ninguém sequer remotamente perto. Calhou-lhe, contudo, viver o auge ao mesmo tempo de um dos pouquíssimos que alguma vez também marcou tanto, a um nível tão alto, e durante tanto tempo, e que, por acaso, joga numa fábrica de filosofia, que concebeu a melhor equipa da História. Ronaldo será um gigante, mas terá de viver sempre com a injustiça do termo de comparação com um extraterrestre.

Nos três anos que leva em Madrid, o estigma de perder para o Barça e para Messi teria sido suficiente para consumir quase todos. Mas não Ronaldo, e, sobretudo, não ontem. Messi é talento, tem a iluminação dos predestinados, mas Ronaldo tem a resiliência, a vontade avassaladora de ser melhor, e uma capacidade de transcendência que Messi nunca terá. Às pequenas vitórias, como o golo na Taça do Rei ou a Bota de Ouro do ano passado, faltava a derradeira afirmação, o passe para o Olimpo, o momento em que Ronaldo tivesse sido o número 1, e o número 1 sozinho. Aconteceu ontem, no segundo em que a bola saiu açucarada da canhota de Ozil, e foi tão perfeito como poderia ter sido. Naquele cheque-mate, três minutos depois do empate, Ronaldo dobrou sozinho toda uma Armada Invencível. Naquele instante, não existiu nenhum Messi no mundo.

Ontem foi o dia mais alto da carreira de Ronaldo. Nunca, nos últimos 4 anos, a Bola de Ouro esteve tão perto.

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