O melhor professor que tive na Faculdade adormecia nas aulas. Não me parece propriamente pedagógico, nem me lembro de mais nenhum fazer isso. Também não era técnico, usava poucos power-points, e ainda menos plataformas digitais. Parece extraordinário que, mesmo assim, tenha sido o melhor. Mas foi, porque bastava-lhe falar. Nunca precisou de malabarismos, tecnologias, doses cavalares de trabalho, e não me lembro de alguma vez chamar alguém à atenção. Mas tinha sempre toda a gente ligada, bastava-lhe estar. Era um natural.
Claro que não podem ser todos assim, mas lembro-me sempre dele quando apanho, pelo contrário, um professor, digamos, muito dedicado. Fazem-me muita confusão. Na Faculdade, como em quase tudo, simples é melhor, e o trabalho de um professor é tão simplesmente cativar. Os melhores professores que tive eram todos professores "de aula", que as faziam valer, e que eram conscienciosos, ou, pelo menos, normais, no que nos pediam fora delas. Excesso de trabalho é uma cortina de fumo para maus professores:
tentam lá ir pelo KO, para ficarmos dormentes, numa confusão pouco sadia
entre quantidade e qualidade. O importante é fazer muito, e, de preferência, que doa muito. Que nos fique alguma coisa é pormenor.
Não é por estar de mau humor, com um desses casos no colo, que deixa de ser verdade: os grandes professores são subtis. Parecem desligados, na exacta medida em que têm uma confiança extrema na sua capacidade para passar a mensagem. Não precisam de injecções psicóticas de trabalho porque valorizam que tiremos algum gosto dele, e porque sabem ao que vão, e sabem que, no fim do dia, os ouvimos. É essa a superioridade moral, a pequena vitória, nossa e deles. Qualquer um pode ser professor; mas só alguns "existirão" daqui a muito tempo, quando nos lembrarmos do porquê destes anos terem valido a pena.
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