terça-feira, 17 de abril de 2012

Fechar meio país


Eficiência, oferta e procura, etc, eu, pelo menos, esforço-me por compreender. Não sou do tipo de criticar a direito, gosto de fazer um esforço antes. Portugal é um país litoralizado, bipolarizado, em crise, e desequilibrado, e que, portanto, tem de fazer opções e sacrifícios. Faço um esforço por compreender. E a verdade é que, em muitas coisas, somos um povo mal habituado, ineficaz, acomodado, àquem do seu potencial e habituado a viver acima das suas possibilidades. Não que entre no discurso do sofrimento que liberta, que marcou o primeiro ano de Passos Coelho, mas temos de repensar o país, para nosso próprio bem. Tento sempre racionalizar.

Ao mesmo tempo, vejo a normalidade atroz com que se vai ceifando o interior, e não me consigo convencer do certo daquilo. Fecham-se hospitais, esquadras, tribunais, porque os números aconselham, e os números é que mandam. Não há pessoas suficientes, dizem os números, então deixa-se as que sobram à sua própria sorte. Que venham para a costa, emigrem ou esperem pelo destino no sítio onde tiveram o azar de nascer, porque este é um país que já não se pode dar ao luxo de ter gente em Bragança, em Beja ou em Viseu.

Tira-me do sério que haja gente a fazer manifestações pelo fecho de uma maternidade em Lisboa, porque os filhinhos nasceram lá, e que o encerramento de tribunais em Bragança seja uma nota de rodapé. Gostava de continuar a acreditar que, com todos os defeitos, este é um país que continua a valer a pena, de Trás-os-Montes ao Atlântico. Infelizmente, quando é para fazer sacrifícios, o pão nosso de cada dia é continuar a despovoar. Podíamos ter um país mais equilibrado, mais saudável, e mais competitivo; para quem nos tem governado, contudo, o que não seja Lisboa ou Porto, é tempo perdido e dinheiro gasto. Somos um país condenado a pensar pequeno.10 milhões parece pouco, mas, para nós, é demais.

Afinal, estou-me a cagar para os números. Se achamos razoável fechar meio país, é porque já desistimos dele.

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