quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Provavelmente, o melhor monólogo que já vi em Cinema

"Michael. Dear Michael. Of course it's you, who else could they send, who else could be trusted? I... I know it's a long way and you're ready to go to work... all I'm saying is wait, just wait, just-just-just... please hear me out because this is not an episode, relapse, fuck-up, it's... I'm begging you Michael. I'm begging you. Try and make believe this is not just madness because this is not just madness. Two weeks ago I came out of the building, okay, I'm running across Sixth Avenue, there's a car waiting, I got exactly 38 minutes to get to the airport and I'm dictating. There's this, this panicked associate sprinting along beside me, scribbling in a notepad, and suddenly she starts screaming, and I realize we're standing in the middle of the street, the light's changed, there's this wall of traffic, serious traffic speeding towards us, and I... I-I freeze, I can't move, and I'm suddenly consumed with the overwhelming sensation that I'm covered with some sort of film. It's in my hair, my face... it's like a glaze... like a... a coating, and... at first I thought, oh my god, I know what this is, this is some sort of amniotic - embryonic - fluid. I'm drenched in afterbirth, I've-I've breached the chrysalis, I've been reborn. But then the traffic, the stampede, the cars, the trucks, the horns, the screaming and I'm thinking no-no-no-no, reset, this is not rebirth, this is some kind of giddy illusion of renewal that happens in the final moment before death. And then I realize no-no-no, this is completely wrong because I look back at the building and I had the most stunning moment of clarity. I... I... I... I realized Michael, that I had emerged not from the doors of Kenner, Bach, and Ledeen, not through the portals of our vast and powerful law firm, but from the asshole of an organism whose sole function is to excrete the... the-the-the poison, the ammo, the defoliant necessary for other, larger, more powerful organisms to destroy the miracle of humanity. And that I had been coated in this patina of shit for the best part of my life. The stench of it and the stain of it would in all likelihood take the rest of my life to undo. And you know what I did? I took a deep cleansing breath and I set that notion aside. I tabled it. I said to myself as clear as this may be, as potent a feeling as this is, as true a thing as I believe that I have witnessed today, it must wait. It must stand the test of time. And Michael, the time is now."
Arthur Edens (Tom Wilkinson), in Michael Clayton

Fazendo uma análise idiossincrática sobre a situação política, social e ideológica do país, parece-me evidente que vamos morrer todos

Esteve a dar um programa qualquer sobre política, ideologia, filosofia e o futuro do país na SIC-N. Não é que me apeteça ver programas sobre política, ideologia, filosofia e o futuro do país agora à tarde, porque até está frio e eu estou agoniado por ter outras coisas para fazer e não as fazer por ser um pamonha, mas, na generalista, a Fátima Lopes anda a entrevistar pessoas para acabarem a chorar ela, a própria pessoa, o público e nós em casa, e essa merda de inspirar outras pessoas ao chorar muito e dizer que somos uns coitadinhos chateia um bocado. Vai daí, também por estar de barriga cheia, e aproveito para fazer a achega, a quem não sabe, de que eu tenho problemas de digestão que podem eventualmente perturbar o meu humor, acabei por parar na SIC-N. Confesso que não percebo um cu de política, pelo que achar que o que se diz para ali é uma merda, vale justamente zero, porque eles são espertos e eu é que sou o burro. Os que estão a falar sobre situacionismo e sobre procurarmos ajuda fora da União Europeia (hum?) não têm piada, pica só a tem um senhor professor de barbicha e tal, e ar muito sério, que falou lá para o meio. Disse o homem que o que está a acontecer agora aconteceu na primeira república (acredito), e que o nosso sistema político está esgotado e clientilizado (palavra nova, hehe) e que o Sócrates pode governar até ao fim do mandato, mas pode é já não ter país para governar. Lá está. Ia o meu dia nublado, e alguém apelou ao meu irreprimível fetiche de menções nos media à morte do país. Estava habituado a ver o António Barreto a falar numa noite eleitoral na SIC a dizer que o país ia acabar, depois a dar uma entrevista ao i a dizer que o país ia acabar, mas cheguei a pensar que era só ele que era tonto da cabeça e dizia estas merdas, mas hoje, ao ouvir este senhor professor, que diz que é Medeiros qualquer coisa, toda uma espiral de percepção irrompeu da minha cabeça, e eu compreendi. Vendo bem, agora toda a gente diz isto, que o país vai acabar, e diz em todo o lado. Quer-me parecer que, para os nossos intelectuais, isto está na moda. "Ah e tal, muito boa tarde, sobre o desemprego? Repare, para mim acho que o país vai acabar". Tem estilo, percebem? Não venham com mariquices sobre como é que vai acontecer ou o que é que quer dizer. Ah mas vamos explodir, vamos ser invadidos, vamos para uma guerra civil, porque é que estes filósofos do caralho nasceram todos aqui? Não interessa! Isto é filosofia, meu povo, intelectualidade pura. Aproveitai, que não há disto lá fora.

Assinado, Michael Bay


Há qualquer coisa nos blockbusters que me irrita. Sou dos que acha que há um espaço natural para as boas comédias e para os bons filmes de acção, por si só, longe do drama e do romance, e irrita-me que a maioria dos filmes de super-heróis não tenha a coragem de se afirmar, na verdadeira essência, pelo espectáculo visual e pelo ritmo, muito mais do que por argumentos que, devendo dar mais cor e mais profundidade ao filme, são mutilados pelos desejos comerciais, além de ocos por natureza, e acabam por se tornar numa papa barata de salvar o mundo e salvar o amor da vida, sem ponta de novidade. Este Transformers tem muito disso, de facto. Tem péssima comédia, tem uma estória de amor mal encaixada em momentos do filme, tem o salvar o mundo, e tem, até, algo porventura mais inglório do que um argumento pouco criativo: tem um que é muito mais ambicioso do que se poderia supor, até dada altura, mas que não se concretiza no fim, porque isto é uma saga e não podia ser, o que sabe a desilusão.

Ainda assim, Revenge of the Fallen tem quase tudo o que um verdadeiro filme de acção deve ter, ou não fosse obra e graça de Michael Bay. Para mim, é inferior ao primeiro (que me surpreendeu a toda a linha), muito pela péssima comédia, mas é impossível não gostar dele. Mais do que os efeitos, as personagens, a banda sonora, ou o que quer que seja, este é um filme de realizador, que vive do talento dele para percorrer os inebriantes caminhos da acção, numa cadência incrível, que quase nos deixa afogueados de seguir, algo superiormente combinado com os luxuosos bonecos de Mr. Bay. É que um filme não tem de ser suportado sempre por um argumento denso, extenso sequer, e este é um caso típico, extensível, diria mesmo, ao género Acção, em que, quanto mais curto for o argumento, melhor. Devem haver linhas gerais, contexto, algumas boas ideais, mas um bom filme de acção só pode viver do jogo de cintura e da condução do realizador, justamente da acção em si. O grande defeito de Revenge of the Fallen é, tão-só, a falta de confiança no estofo do género, essa vontade de trabalhar mais as coisas quando elas não deviam ser mais trabalhadas. A incapacidade para keep it simple, apesar de, repito, muita qualidade estar lá.

Para acabar, não seria honesto, para comigo próprio, não falar da Megan Fox. Como actriz, há ali muito pouco, de facto, e os momentos em que o enfoque está nela, têm uma aura de fragilidade permanente, como se ela não se sentisse bem à vontade com o que está a fazer, não tivesse jeito ou estivesse presa de movimentos. Já como personagem, acho que é difícil não admitir que ela é é um ícone de beleza muito maior do que qualquer Transformers poderia alguma vez aspirar. Cada qual terá a sua opinião, seja que ela é burra, vulgar ou que há muitas outras mais apaixonantes do que ela. Para mim, a valer o que vale, Miss Fox é, hoje, a mulher mais sensual do mundo.

domingo, 27 de dezembro de 2009

África do Sul, 24 anos depois

«Hombre, desfrutávamos mais nos treinos do que nos jogos. Você tem ideia do que ele fazia com a bola? Encostava-me a um poste, de braços cruzados e pensava para mim: isto não é humanamente possível (...)

Em 1986 ganhei quase tudo, mas era impossível sentir-me o melhor. Ainda hoje falo com o Ruggeri e o Enrique e fartamo-nos de rir. No fundo, limitámo-nos a aproveitar o talento excessivo que o Maradona tinha. Eu era apenas um bom guarda-redes»

Pumpido, guarda-redes da Argentina Campeã do Mundo em 1986, via maisfutebol

Oh happy days

Tive uma quantidade pornográfica de presentes, incluíndo uma preciosa Canon A380, quando eu já me preparava para juntar tostões e comprar uma Fujifilm A320, que, vendo bem, era melhor mas não era Canon, daí que não a vá trocar. Tenho comido como um bem apelidado leitão, pela madrugada fora, até ficar maldisposto, que é, como todos sabeis, o ponto de consciência que marca o fim da animalidade, e sem o qual nunca sabemos se fruímos o suficiente. Tenho a casa recheada de decorações, cortesia da mamã, o que a faz tornar mais pequena, uma vez que era impossível ter 30 presépios numa casa grande, todos uns ao pé dos outros, e, ao mesmo tempo, ainda mais acolhedora. Tenho lido O Hobbit, perfeito para estes dias, e que assimila, por si só, a ideia de que O Senhor dos Anéis é o filme mais natalício da história do cinema, ao ponto de, nos dias que correm, o Natal se situar entre a Noite do Mercado, em que miraculosamente não choveu este ano, depois de duas semanas a banhos, e o dia em que a SIC passa O Regresso do Rei, pelo que o meu Natal começou bem e acabou melhor, ontem, às cinco e meia da manhã. Hoje, já preparado para preparar a preparação do fim de ano, acordei na minha cama de 3 cobertores (luxos que um emigrado cuja cama foi recentemente destruída não tem), mas ainda com o In Dreams a tocar na minha cabeça (im a jukebox). Talvez o Tolkien, o Peter Jackson e o Howard Shore não soubessem, mas Natal só pode ser isto.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Surpreendente, de facto


O maior elogio que posso fazer ao District 9 é dizer que foi possivelmente o primeiro filme de ficção científica que vi, com quase nada que já tivesse visto noutro lugar qualquer. O filme distingue-se da larga generalidade por uma criatividade de abordagem verdadeiramente incomum, que nos apanha desde o primeiro minuto, e que atinge, depois, um ritmo duro o suficiente para nos manter colados até ao fim. Facto é que as explosões, as armas, a caracterização das personagens, tudo é dalguma maneira secundário ao pé do argumento em si, e isso é incrível, num filme deste género, obra dum desconhecido vulto chamado Neill Blomkamp, que não só escreveu como realizou o filme, sob a benção do mestre Peter Jackson. District 9 fala de sobrevivência, de fé e de transcendência, primeiro duma comunidade, de extra-terrestres sim, mas dos que não têm super-poderes nem condições para inverter o rumo das coisas, incapazes de voltar para casa, mesmo que em 20 anos nunca tenham deixado de acreditar que era possível, e tratados como lixo pelos humanos, numa metáfora admirável. Retrata, depois, a vontade de acreditar dum homem, um homem comum, de que era possível voltar à vida comum que sempre tivera, algo de que nunca abdica mesmo no limite (o fim do filme é de outro género que não ficção científica, sem dúvida). Neste papel de protagonista encontramos um senhor chamado Sharlto Copley, um sul-africano que assombra neste filme, por fazer parecer tudo aquilo tão sofrido e tão genuíno o que, como é bom de ver, é tanto mais difícil quanto mais ficcionado é o universo que o envolve. Não podia deixar ainda de mencionar a banda sonora, tanto mais magistral à medida que o filme se encaminha para o fim, a exploração incrível das possibilidades de uma personagem computadorizada como Christopher Johnson, o alien-protagonista (chega a ser arrepiante) e ainda a técnica de filmagem, à falta de nome mais técnico, de câmara na mão, ao que ainda se juntou um enquadramento da estória num estilo-documentário, do qual sou um confesso fã.

Pese a originalidade do filme, não devo, ainda assim, deixar de dizer que todos quantos não gostem por aí além de ficção científica, talvez não se apaixonem por ele, como eu também não absorvo plenamente o género, apesar de reconhecer a sua extrema qualidade, nem tanto pelos pontos fracos do filme, que também os houve (não acho que a interacção com os aliens funcione plenamente, mercenários ao barulho e o sogro boss e mauzão é mais do que batido, por exemplo). De qualquer maneira, mesmo para quem não é fã de efeitos especiais, que estão presentes, apesar de tudo, e duma certa dureza sanguinária, entre outras características, este é um filme altamente recomendado. A mim, pelo menos, mostrou o género com uma profundidade como eu nunca o tinha visto.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Because sometimes the truth isn't good enough

Revi o Dark Knight. Um ano depois, continua a exercer sobre mim o fascínio da primeira vez, o que é admirável, de facto. Ainda hoje, vomito o preconceito que se abateu sobre o filme desde o primeito minuto, no que a prémios diz respeito, possivelmente o episódio mais revoltante a que assisti, desde que vejo filmes como gente grande, qualquer coisa de um autismo tão sem paralelo, que acredito ainda viverei muitos anos para presenciar coisa parecida. O Dark Knight é uma obra de arte invulgarmente açambarcadora, dos efeitos às personagens (nem vale a pena tentar tipificar o que faz o Heath Ledger, mas veja-se o que fazem o Bale, o Aaron Eckhart ou o Michael Caine), da riqueza visual ao argumento, este, sublinhe-se, ao nível do que de melhor já se fez em drama e único, verdadeiramente NUNCA FEITO, no contexto de um filme como o Batman. Ainda assim, à excepção do mais do que obrigatório Óscar ao Ledger, infelizmente manchado pela sua morte, o Dark Knight só justificou outro Óscar, e para essa categoria retumbante que é melhor edição de som, à laia de esmola. Sinceramente, era melhor que não tivesse ganho nada. Numa cerimónia extraordinariamente anti-preconceituosa, que passou à história pelos prémios ao lobby dos pobrezinhos (melhor filme e realizador para o hiper-overrated Slumdog Millionaire) e ao lobby gay (melhor argumento original e melhor actor para o Milk, aqui com a aberração de atropelo ao papel de uma vida do Mickey Rourke), não deixa de ser irónico que não tenha havido espaço para estas coisas da acção, como sempre a viram, que só poderia, fosse qual fosse a circunstância, descredibilizar tão distinta cerimónia. Tão irónico como, um ano depois da perturbadora falta de coragem para nomear o Dark Knight, os Óscares deste ano se preparem para ter dez nomeados para melhor filme, justamente para não ser preciso voltar a decidir entre delicados The Readers, condenados crónicos ao esquecimento, e qualquer coisa como filmes para uma vida. É irónico. Sobretudo porque ficar à espera dos Dark Knights que devem aparecer todos os anos é continuar, um ano depois, sem perceber a verdadeira dimensão do que o génio do Chris Nolan conseguiu.

O dia em que o Porto perdeu um jogo do ano

Ganhou o Benfica. Não nego que tenha sido um tanto ou quanto superior a um Porto que, apesar do crescendo dos últimos jogos, está longe do tractor de outros tempos, nem que o empate seria desajustado, dada a pobreza do jogo, nem sequer que o Lucílio, dentro da aberração de presença que lhe conhecemos, conseguiu ser tão mau como poderia, e acabou por influenciar o decurso dos acontecimentos, não necessariamente em benefício de ninguém. Certo é que o que vale a pena sublinhar aqui, por mais la palissiano que isso o seja, é exclusivamente o resultado final. Derbies são jogos para ganhar, jogos para equipas saudáveis de cabeça e com uma capacidade competitiva distinta, jogos, no fundo, que, desde que aprendi a ver futebol, eram do Porto, por definição. A vitória do Benfica, não no acaso, mas no corolário dum campeonato de inverno absolutamente fantástico, traduz justamente, muito mais do que superioridade no campo, que esteve longe do indiscutível, como já disse, uma cultura de vitória desde há muitos anos invulgar ao clube, condenado crónico, vai para o quarto de século, a não mais do que à resignação e à derrota. É óbvio que a vitória de hoje não muda verdadeiramente seja o que for, porque falta jogar meio campeonato e, sobretudo, porque estofo de campeão não se compra na esquina, muito menos se adquire num par de meses. Mesmo assim, valendo o que valha, e à distância a que estamos, digo que estes são jogos que valem muito mais do que se pode fazer crer à primeira vista. E o Porto deve sabê-lo melhor que ninguém.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Angelito

Já li hoje todo o tipo de coisas em relação à letra do Di María. Que é um hino ao futebol, a razão que leva as pessoas aos estádios, mas também que não foi mais do que um fogacho egocêntrico, um pormenor displicente dum jogador que não estava a levar o jogo a sério e que, com este tipo de atitudes, nunca vai ser ninguém. Confesso que há merdas que não entendo. Desde que está no Benfica, pese os pormenores de talento que foi tendo, o Di María sempre me pareceu um jogador muito overrated, claramente o pior dos três miúdos-canhotos-problemáticos-maravilha dos grandes, atrás do Vukcevic e do Hulk. Um miúdo que teve um Mundial de sub20 e uns Jogos Olímpicos a fazerem muito pela sua imagem mas que, na dureza dum campeonato, pese o maravilhoso pé esquerdo, sempre mostrou, mais do que a imaturidade natural da idade, uma tendência preocupante para ter más decisões e uma incapacidade para sair da sombra durante tempo de mais (porque é melhor, para alguém com o potencial e com a idade dele, perder a bola depois de fintar dois jogadores, do que andar sempre longe dela). Este ano, o Di María está diferente, e, sem sequer entrar no campo da culpa do Jesus no sucedido, que nem me parece discutível, de tão evidente, e pese os problemas que continua a ter (ao nível do passe, sobretudo), a sua produção disparou. Sem o fantasma do banco ao virar da esquina, este é um Di María mais seguro, que arrisca muito e que, por isso, tem acertado muito mais. É um jogador, hoje, numa espiral de criatividade permanente, de quem se pode esperar, sempre, mais uma finta improvável, mais um remate de primeira, mais um chapéu. Ontem, foi mais uma letra. Marcar um golo de letra, arrisco a dizer, é a execução mais rara do mundo do futebol, que, deduzo, faça espantar, no limite da baba, qualquer verdadeiro adepto de futebol, como me fez a mim, que, sendo mais ou menos desconhecedor dos meandros mundiais da bola, só tinha visto alguém marcar um golo assim na playstation. Aquele foi um golo dos que não se esquecem para o resto da vida, um daqueles que é mais do que justificação para ir ao estádio, pagar bilhete, e contar aos amigos, aos filhos e ao raio que parta. Talvez o Di María ande egocêntrico, talvez não fizesse aquilo num jogo a valer e talvez nunca venha a ser um jogador de dimensão mundial, e se perca inapelavelmente, por um conjunto de razões que também não interessam abordar (e comuns a muitos outros, a maioria com menos talento do que ele). Mas é desonesto e de uma irritante pseudointelectualidade vir dizer que são gestos com a displicência do de ontem que o vão continuar a afastar do futuro prometido ao seu potencial. Golos como o de ontem traduzem um apetite pelo risco e uma vontade de experimentar tão incomuns, que são, eles próprios, a verdadeira razão pela qual vale a pena olhar para ele, cada vez mais, como um caso sério. É que marcar golos de letra nunca vai ser coisa de um miúdinho irresponsável. É coisa de um miúdinho genial.

Assombroso.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Éveribrétitake

O Ídolos é giro. No meio de tanta merda que anda por aí, é das poucas coisas que ainda dá para se sentar a ver, e acho que a maioria concorda que aquilo resulta, além de que é sobre música e não tem canalha de 5 anos, nem famílias, esse conceito estratosférico que pretendia lançar para o mercado mundial, quiçá, dois parentes com um dom para a canção, mediante o critério científico-univeristário do "porque eles gostavam de ser famosos" (isto enquanto a Clara de Sousa se fazia ao filhote do senhor que lembra o Pai Tomás, da Cabana do Pai Tomás). Depois é um projecto recuperado pelo Nuno Santos, que é um gajo que merece ter sucesso porque é bom no que faz, entre o novo Daily Show dos Gatos e as paredes do Marco Horácio e da Diana, uma dupla arriscada, mais por ela, verdade, mas que foi o sucesso tutti frutti summer love que se sabe. O problema é que o maluco do Nuno não acerta sempre. Quando o programa é o M/F, o povo até esquece a papa que vertiam a Barbára e o Eduardo Madeira, porque, no fundo, aquilo foi tão mau e tão rápido que se calhar nem existiu mesmo; quando é o Ídolos, condenado a ir para a frente de qualquer maneira, a coisa fica mais negra. Ao Manzarra, embora o tenham chapado de cópia do Alvim, sempre achei piada. À Cláudia, digamos que também. Mas foda-se, o resultado dos dois é um filme de terror doente, onde o Manzarra, mesmo com a merdinha que faz, ainda salva a pele, tão miserável é o efeito coitadinha do outro lado. Conseguir perder uma hora de programa com "como é que te sentiste no palco?" e "gostaste de estar no palco?" e "achas que o público gostou de ti?" seguidos de "huuummm... bem" e "nem sei" e "não senti nada!" é tão coitadinho que deixa um gajo em casa com vontade de chorar, sem forças, sequer, para sentir pena dela, o que nem era tão difícil quanto isso. É que a Cláudia, apesar de linda e perfeita, não consegue articular duas frases seguidas com sentido, não vai ter piada em que circunstância for na sua, esperemos, longa vida, e vai passar à história do mundo da televisão como a quase-apresentadora com menor talento para falar em directo, e reparem, seja para dizer o que for, qualquer coisa mesmo, dum "bom dia" a um "every breath you take", cuja consequência lógica foi o Sting ter entrado, de imediato, numa espiral de pânico e de angústia de viver. Porquê Cláudia? Não bastava teres ido fazer porcalhices com o maricas do Teixeira? Tinhas de vir abrir a boca em horário nobre? Tinhas?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

À conta de gajos que dizem merdas como esta, eu vou para o desemprego

O Marítimo, maior clube do mundo como deveis saber, perdeu ontem em casa com o Rio Ave. Fora o facto de ter sido uma merda, porque podíamos ter ido para 4º isolados, dadas as derrotas do pequeno nacional e do sporting, adversários directos, e porque ainda não tínhamos perdido com o Mitchell, o grande momento do jogo foi o comentário final. O comentador da TSF Madeira, único lugar onde se pode ouvir o relato, disse que o resultado é justo, porque o Rio Ave foi mais eficaz. Perturba-me uma coisa, que não o facto do Rio Ave ter sido mais eficaz do que o Marítimo, ou do Marítimo ter sido menos eficaz que o Rio Ave: tendo em conta que, num jogo de futebol, se uma equipa ganha é porque foi mais eficaz do que a outra, SEMPRE, o que é que era suposto aquilo significar? Era que o Rio Ave ganhou porque marcou mais um golo? Será que ele recebe amendoins com o salário?

domingo, 13 de dezembro de 2009

No mundo animal, existe muita putaria

Ante-anteontem, quando acordei, estava alguém a amanhar varas de ferro com uma fúria assassina, à frente do meu prédio (tarefa, de resto, anormalmente comum por estes lados). Devo acrescentar que sou uma pessoa complicada a acordar e que já adormeci vezes de mais quando não era suposto, e, portanto, um gajo cria anticorpos, daí que os meus sejam acordar com um misto de ódio à sociedade e de angústia existencial, que exala tanta alegria de viver como a cena do Dumbledore depois de beber o litro de aguínha na caverna do Voldermort (só estou a meter nojo porque revi a coisa há pouco tempo). É complicado para a minha saúde mental, digamos, assim que, também por isso, resolvi substituir o baixito do alarme pré-definido do telemóvel, o único que me garantia que eu não ia ouvir uma música vezes sem conta até odiá-la de morte, como o first of the gang do morrissey, pelo mundo animal dos mamonas. O mundo animal dos mamonas é uma canção que, além de ser impossível odiar, mesmo que ela me acorde todos os dias, começa com um "vai começar a baixaria" e essa parece-me, como é bom de ver, uma forma adequada para começar um dia em que é preciso usar alarme para acordar. Ante-anteontem, eu, que sou um gajo que acorda mal e, ainda por cima, que tem um passado tenebroso no acto que consiste em carregar no "repetir" do alarme e não na merda do "parar", acordei em sentido, e, do admirável som dalguém a amanhar varas de ferro à frente do meu apartamento, algo, repito, incrivelmente normal, e que, por isso, deve fazer reflectir toda a gente que não vive nesta esquina e a quem falta, na vida, o sal do som de amanhar varas de ferro pela manhã, ouvi, clarinho, um indiscutível Eye of the Tiger, indo ao ponto de, ainda no estado meio catatónico de como se acorda, ter curtido o som das varas de ferro a bater, trauteando a louca da batida inicial do Rocky. A reflexão que se impõe é a seguinte: se eu, com umas bestas a amanharem varas de ferro mesmo à frente de casa, achei que era o Eye of the Tiger, como é que, com esta jukebox na cabeça, eu não estou nos Ídolos?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A profanação da santíssima trindade (porque este post tem o seu quê de religiosó-metafísico)

A Empire fez um top das 50 mulheres mais sexy do mundo do cinema (e vou omitir, a partir daqui, que fizeram a barbaridade de copiar a ideia para tudo o que é macho). O que é que é normal um gajo pensar? Ok, no top 10 vão estar de fora algumas senhoras absolutamente deslumbrantes e extraordinárias, por culpa da estupidez aleatória do responsável pelo dito top, mas a dignidade da coisa não há de ser posta em causa, porque, em 10, uns 8 nomes hão de ser indiscutíveis. Mais: na conjuntura políticó-económicó-cinematográfica do ano de deus de 2009, o top 3 tem de ser composto por três seres não necessáriamente do nosso pobre mundo terreno, que dão pelos nomes de Angelina, Scarlett e Megan, não necessáriamente por esta ordem, apesar desta ser a ordem que qualquer gajo de bem deve professar. Claro que a Eva Mendes, a Bellucci, a Keira, a Penélope e a Liv Tyler deviam estar naturalmente presentes a fechar o top, mas isso até é uma coisa que eu podia dar de palmatória se me tivessem arranjado mais nomes como o da Kristen Stewart ou da Portman, que eu não me teria lembrado de caras, e que realmente partem loiças, ou até dalguém chamado Mila Kunis, que continuo sem fazer ideia donde é que existe, mas da qual me tornei fã de carteirinha desde o vislumbre desse tal número 8 do top. O chavascal começa é no número seguinte. A nona mulher mais sensual de todas as mulheres sensuais do enlouquecedoramente sensual mundo do cinema é a Bellatrix. HÃ??? Sensual e Helen-Bonham-Carter-Lestrange na mesma frase é algo grave, produzido por alguém que deve estar a passar por um inenarrável sofrimento físico e psicológico, possivelmente alguém capaz de achar o Snape o 7º gajo mais sensual do mundo e que precisa do mais urgente apoio. Ajudem-no. Como uns sacanas desalmados, a cavalgada continuou com a sequinha da Winslet em 10º e com uma tal de Zoe Saldana (quem?), imagine-se, em 5º, a meter a Livy, à patroa, a alguns 36 lugares de distância. Jesus. Claro que a crème da estória é o top 3. É que, de facto, miss Megan e Miss Jolie são primeira e segunda (ordem que me custa a aceitar, pese o exército de canalha que rodeia, nos dias que correm, miss Jolie, assim como o mancebo repugnante a quem ela tão públicamente se anda a esfregar), mas o terceiro lugar não é da Scarlett. Por obra e graça da puta de tarado-potter freak que meteu as mãos neste top, o lugar é, nada mais, nada menos, do que da Hermione... Yap, a do Ron. Girinha? É sim. À frente da Scarlett? Um minuto de silêncio a pensar nesta merda.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Group G

"When the sun comes out in Africa, the fastest lion knows he has to run faster than the fastest antelope, if he wants to eat . When the sun comes out in Africa, the fastest antelope knows he has to run faster than the fastest lion, if he wants to survive. So, the bottom line, baby, is, when the sun comes out in Africa, you'd better start running"

Provérbio africano apanhado de ouvido, com possíveis erros, mas suficientemente ilustrativo

Brasil e Costa do Marfim. Um gajo até se esquece que, em 2006, também não éramos cabeças-de-série, e acabamos num grupo com o México, Angola e o Irão. O sacana do mojo do Scolari era mesmo bom, tão bom quanto é reles o do Queiroz. Ah e tal, isto é sorte e não tem nada a ver com o Queiroz. Errado. Se é sorte tem tudo a ver com o Queiroz porque, com ele por perto, é dado adquirido que a dita vai cagar em nós. Reparem que nem era preciso termos ficado no grupo de mortos da África do Sul, como os franceses, depois da puta de vergonha de como se qualificaram, e depois do castigozinho da FIFA de não serem cabeças-de-série, porque valia era o ranking de Outubro e não o do Novembro, algo que, extraordináriamente, acabou por nos foder também a nós, nem sequer no da Holanda, os nossos empacotáveis ad eternum, mas porra, os merdosos dos espanhóis e os italianos tinham as Honduras e a Nova Zelândia no lugar da Costa do Marfim, e nenhum desses tem o Drogba feito um cavalo sanguinário no ataque. Não que eu esteja a dizer que estávamos condenados a jogar para o segundo lugar, mas não compro as estórias de que, para ganharmos aquilo, temos de andar agoniados desde o primeiro minuto. Jogar com os outros monstros só é fixe depois da fase de grupos, quando é a eliminar e quando já a passámos como garantia de dignidade e com um par de vitórias que nos põem a pensar que somos os maiores. Ainda por cima agora, numa campanha em que termos sorte e andarmos motivados é directamente proporcional ao espírito de balneário do Queiroz.

Feito o choradinho, devo dizer que tenho fé num grande Mundial. É que nós, vendo bem (Queiroz à parte), somos uma cambada de loucos, e se, em 2000, comemos ao pequeno-almoço aquela coisa que nos saíu como grupo, este, às tantas, ainda o tornamos outra vez numa coisa de meninas. Além de que, se sobrevivermos, temos uma possibilidade substancial de apanhar espanhóis nos oitavos. E toda a gente sabe o que portugueses fazem a espanhóis.

P.S. - Da próxima vez que o Dunga disser "Vâmu jógá cóm u Brásiu B", acho que tinha mais piada o Queiroz chamá-los logo de colonos, do que dizer "se pensarmos nos antepassados que chegaram ao Brasil e passaram os nossos genes a esta geração de jogadores brasileiros, ou pelo menos a muitos deles, será um Portugal B contra um Brasil D ou E". Mas é só uma sugestão, Mister.

sábado, 28 de novembro de 2009

Isabella


Surpreendeu-me. Não pelo interesse dos personagens ou até da história em si, já perceptíveis no Twilight, muito menos por ter conseguido ultrapassar problemas graves de diálogo, porque não o conseguiu, mas pela saga ter sobrevivido à sequela, e, sobretudo, à histeria, sem se ter deixado avacalhar, ou seja, sem ter perdido a suavidade que a caracteriza. A maior qualidade do filme é, sem dúvida, a realização. Meticulosa e lúcida, soube contornar quase todos os exageros e gerir muito bem a edição dos planos (há sequências que, visualmente, são muito muito boas, e não estou a falar de efeitos especiais), não descurando, sequer, o enquadramento de uma excelente banda sonora, que, apesar de ser inferior à do Twilight, volta a resultar muito bem.

As personagens têm uma densidade natural, e parte do cast volta a sobressair, porque foi uma boa escolha. É o caso do par Bella-Edward, que resulta claramente, quer porque a Kristen Stewart tem uma delicadeza genuína no papel, quer porque (vá lá saber-se porquê, cof cof) o Patinson consegue vender-se como vampiro de uma maneira que, pelo menos a mim, me surpreende. O caso do Jacob é o oposto, porque o personagem tem condições para ter uma expressão tremenda neste filme, mas não a concretiza, quer pela falta de traquejo do Taylor Lautner, quer pelo aberrante caparro com que ele se apresenta no filme, que mata, à nascença, tudo o que ele poderia vir a fazer ali como actor.

A personagem do Jacob remete, também, para um dos pontos mais pobres do filme: os lobos. Os efeitos especiais ficaram deslocados e a bonecada só desacredita a história, quando uma abordagem metafórica, além de mais lógica, teria resultado infinitamente melhor. No mesmo pacote, estão as enervantes aparições do Patinson pelo filme, qual Nossa Senhora, algo só batido pelo que este New Moon tem mesmo de pior: os diálogos. A edição do livro falha rotundamente neste ponto, e os diálogos, sobretudo os mais pessoais, são uma muito pouco comestível papa de soundbytes, que só vêm dar ao filme um muito empobrecedor tom cliché. Não deixa de ser curioso, contudo, que o soundbyte final, a última linha, resulte incrivelmente bem. Ela e o tacto de acabar o filme no segundo seguinte, têm o dom de criar uma última imagem muito própria, daquelas que se dá ao luxo de continuar a pairar na nossa cabeça. Na verdade, longe de ser motivo para se escabelar, este New Moon não deixa de ser um filme agradável, porventura injustamente underrated.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

My name is quase Traveller

Não sei se mais alguém se lembra do Traveller. A coisa começou a dar na RTP, no tempo em que a RTP tinha tradição nas séries de fim-de-semana, e, na altura, na ressaca de Losts e Prison Breaks, não me escapou. Versava, tricas para dominar o mundo à parte, sobre um rapaz supostamente normal mas que afinal era um agente secreto (buésda criativo, eu sei) o qual, no seu processo para ser visto como um rapaz supostamente normal antes de explodir com qualquer coisa, passou um par de anos na faculdade, a fazer amigos. Quando ele lá decidiu abalar para ir explodir as tais coisas, e acharam de ir atrás dele, toda a gente procurou uma foto e pumba!, o bandalho escapava em todas. Estava sempre tapado, de costas, na sombra, ou seja, pura e simplesmente nunca tinha existido na faculdade. Devo dizer que me sinto, nestes dias, um quase Traveller. Não por ser um agente secreto (e até posso realmente ser, sublinho), mas porque a minha existência na faculdade foi ferida de morte. Outra vez. Na infinitesimal probabilidade de acontecer, eu, que não sou gajo de andar a saltar em cima dos meus computadores, muito menos de andar a lhes pegar fogo, consegui queimar dois discos rígidos, de dois computadores diferentes, nos últimos 5 meses. Isto quer simplesmente dizer que, dado os 70 euros dos discos externos sempre me terem posto a olhar para os bichinhos de longe, eu perdi toda a merda de apontamentos e de trabalhos que fiz no meu bendito ano e meio de faculdade. Pois que caralho. Ok que já está tudo apresentado, que, nos apontamentos então, provavelmente nunca mais ponho a vista em cima, mas por amor de deus, havia necessidade? Agora é ver-me andar aí, feito um triste, a catar trabalhos de grupo, a pensar em digitalizar merdices impressas que já estão fartas de arrotar pó em cima do vestuário, só para salvar uma réstia de dignidade, perdidos que estão, ad eternum, um montão de individuais. Os do Milan, ainda por cima, que foram os que deram mais gozo, e mesmo uns portefólios para a Tininha que, do alto dum rol de impossibilidades, até correram bem. Isto não se faz.

domingo, 22 de novembro de 2009

A great artist can come from anywhere

Menosprezei, durante muito tempo, os filmes de animação, e, portanto, fui perdendo, pelo caminho, muitos filmes que não deveria ter perdido. É por isso que só ontem, alguns 2 anos e 3 meses depois da estreia, depois de um Óscar e de outra nomeação na bagagem, é que acabei por ver uma pequena pérola chamada Ratatouille. Espantou-me, de facto. Como sempre. Não a capacidade indizível da Pixar para fazer bonecos inesquecíveis, mas o seu talento ÚNICO para contar histórias. Na Pixar, é possível fazer argumentos incríveis sobre tudo, sem qualquer ponta de exagero. De super-heróis até peixes balão longe de casa, de robôs apaixonados até casas que voam com balões. De tudo, até de um rato que pode ser o melhor de todos, no país dos cozinheiros.

Vendo bem, dizê-lo assim é redutor, e não traduz a verdadeira dimensão do que está, aqui, em causa: não há nada nem ninguém que mereça tanto um Óscar de melhor argumento como a Pixar. Ninguém. Ratatouille não é um filme para crianças, é só um filme que qualquer criança, e qualquer outra pessoa, de qualquer idade, devia ser posta a ver. Não é, sequer, um filme sobre ratos, é um filme sobre humildade e paixão por uma causa, um filme que ensina a toda a gente que o talento pode estar em qualquer lado e pode aparecer a qualquer altura. Sem limites, sem excepções, sem impossíveis. É claro que, depois, a cor da Pixar e a riqueza das personagens, dum ícónico chefe Gusteau ao altivo vulto de Anton Ego, fazem o resto. Até o pequeno Remy é lindamente esgalhado, e é só um rato. Dos feios, por definição. É bonito que a história se passe em Paris, é bonita a exaltação da cidade no contexto do filme, e o argumento ainda tem o dom de ser muito fluido, fruto de uma edição superior.

O fim condiz. O filme acaba, simplesmente, com um monólogo desse monstro chamado Peter O'Toole, um ancião e uma referência, a emprestar, ao bom romance, uma daquelas vozes que respeitamos mal a ouvimos sibilar. Um dia, gostava de fazer coisas assim.

sábado, 21 de novembro de 2009

Toda a Monarquia tem a sua Família Real

"Os centros de vacinação da Região estão a ministrar a vacina contra a Gripe A aos titulares de cargos públicos de acordo com listas enviadas pelas próprias entidades (...) O certo é que nos últimos dias, no Centro de Saúde de Santo António, familiares de governantes foram tratados como grupo de risco e vacinados.

Esse foi, pelo menos, o caso da família do vice-presidente do Governo Regional que recebeu a vacina em Santo António na última quarta-feira. (...)

Estas vacinas foram ministradas sem a apresentação de uma credencial. (...) A única justificação apresentada foi de que a "ordem veio de cima"."

in Diário de Notícias da Madeira

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ensaio sobre a Cegueira

"Os velhos do Restelo devem guardar o veneno para outras núpcias. Aqui, hoje, agora, temos de ser claros: Carlos Queiroz, a Selecção Nacional e a FPF estão de parabéns.

(...)
Os instrumentos de tortura verbal, os espartilhos da confiança e as penas crivadas de saudosismo bacoco têm de se submeter a um recolher obrigatório. Sem santinhas, sem mezinhas, sem agressões a atletas adversários, sem exemplos de arrogância e malcriadez para com a comunicação social (quem não se sente não é filho de boa gente), Portugal está no Campeonato do Mundo.

(...)
Carlos Queiroz trouxe organização, trouxe método, trouxe seriedade. Estas valências não podem ser colocadas em causa por alguns jogos menos conseguidos.

(...)
Sem ter uma geração de ouro à sua disposição (Figo, Rui Costa, Sérgio Conceição, Fernando Couto, Pauleta, por exemplo), Queiroz soube edificar o conceito de equipa. Retirou o conjunto dos escombros da desconfiança, sustentou-o e entregou-o à vitória."
Pedro Jorge da Cunha, in maisfutebol

Passámos em Zenica como gente grande. Com qualidade, conscientes do que valíamos, como uma equipa a sério. Não chegou a haver um único momento, um único, em que a Bósnia tivesse conseguido pôr em causa o nosso controlo do jogo, e isso é fantástico, por toda a instabilidade que rodeou esta Selecção e por toda a motivação que rodeava os bósnios. Esta Selecção não tremeu na fase do tudo por tudo, e essa presença de espírito, essa capacidade competitiva, retrata uma evolução clara da equipa como equipa. Isto será, talvez, o aspecto mais constituinte duma Selecção e, neste âmbito, concordo que podemos acreditar que o futuro tem tudo para ser mais risonho.

Agora, o facto de nos termos realmente qualificado, depois de eu e muitos outros já não o acreditarem, não torna tudo num mar de rosas, como uns quantos chicos-espertos querem fazer passar. Não é por estarmos finalmente lá, com uma selecção que tem melhores do mundo e que tinha a obrigação de ganhar um grupo onde era infinitamente melhor, que se legitima a versão destes anedóticos ceguinhos pró-Queiroz de que tudo está bem quando acaba bem. Dizem eles que, ok que a Selecção não joga um caralho, ok que anda com o coração nas mãos, jogo sim, jogo sim senhor, mas agora tem método e seriedade, e isso é que interessa! Por favor, defender isto é demente, tão demente como atacar o Scolari, num vómito declarado, ressuscitando o soco a um sérvio e a lenga-lenga da geração de ouro, para recusar a dimensão extraordinária de tudo o que ele conseguiu cá. Teve tudo a ver, imagine-se, com as mézinhas e as santinhas daquele imbecil, que só nos tornou em vice-campeões da Europa e em quartos melhores do Mundo com uma geração de ouro, não com coxos como um Bosingwa, um Ricardo Carvalho, um Pepe, um Bruno Alves, um Deco, um Ronaldo, um Simão, um Tiago, um Meireles ou um Nani. Com estes, só um milagreiro como o Queiroz podia resultar!

Enfim, estamos lá, e isso ninguém lhe tira. O Queiroz cumpriu um objectivo, numa carreira de quases e de insucessos, teve mérito, e, isso, dou-lhe de palmatória. Agora, não esperem é que eu engula convocatórias desiquilibradas, uma gelante falta de espírito de balneário, os bloqueios tácticos e a total falta de postura no banco, só porque ele cumpriu o que qualquer um de nós tinha o direito de lhe exigir, mas com o triplo do sofrimento. É bom que o Queiroz tenha consciência disto e, sobretudo, que tenha a humildade de querer mudar algumas das suas formas de estar. É que se lhe faltar a lucidez que falta a muitos dos que o defendem, perde ele, e vamos perder todos nós.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Eles não têm excesso de confiança, Dr. Merdaíl, eles só querem ser violados

Não gostei. Anda um gajo chateado por não ter computador e por o Queiroz ser uma besta, naquela chateação em que queremos que a Selecção se qualifique mas queremos odiar o Queiroz à mesma, e os cabrões dos bósnios recebem-nos desta maneira. Deu para nos empurrar e cuspir no aeroporto, para nos deixarem sem autocarro, para meterem gente a fazer barulho à porta do nosso Hotel e para o nojento do treinador deles vir dizer que nos vai pôr de joelhos, enquanto eles nos saltam em cima como lobos. A Bósnia anda a dizer isto, a BÓSNIA. Mas que caralho é este??? Amanhã vamos àquele fim de mundo humilhá-los, sem eles sequer perceberem o que lhes passou por cima. O Queiroz vai acertar na táctica e vamos marcar os golos que falhamos na qualificação toda. Eles vão pensar que estão a ser bombardeados outra vez (não resisti). Bring it on, motherfuckers.

sábado, 14 de novembro de 2009

Vou evitar fazer piadas que envolvam sermos bombardeados em Sarajevo

Dizer 500 vezes que o Queiroz, afinal, não é um pé frio, é uma forma bastante irritante de pôr as coisas, mas tem a ver com isso, sim. É que até deu para o pessoal fazer as piadinhas com a senhora do caravaggio quando o bruno alves marcou nos descontos na albânia e quando o liedson marcou nos descontos na dinamarca, mas esta coisa dos bósnios acertarem, nos descontos, duas vezes nos postes, em 5 segundos, já veio tornar tudo muito esquisito. Agora, um gajo quer é acreditar que vamos brincar à Bósnia antes de reservar as passagens para a África do Sul, porque, com esta leiteira descomunal do professor, qual mago mais poderoso do que o sacana que empacotou o Ronaldo nos últimos 2 meses, nada de mal nos há de acontecer, mas toda a gente sabe da probabilidade elevadíssima da própria sorte se fartar de fazer cafunés em burros de merda e, esse dado neste contexto, é muito problemático para nós. Vá lá, vendo bem, também podíamos ter despachado os bósnios mais cedo e, se já lhes tivéssemos enfiado 3, ninguém ia estar amanhã a fazer graçolas sobre postes e o rabinho do Queiroz. Mas toda a gente tem idiossincrasias, e as nossas idiossincrasias (gostei, repeti, problemas?) são falhar golos à frente da baliza, critério, acredito eu, suficiente para naturalizar jogadores, como o bom liedson o ilustrou eloquentemente hoje, e, contra essas, ninguém pode fazer mesmo nada. Bem, se calhar até há o banco e as substituições e a táctica e a convocatória mas, por azar (AZAR, VÊM???) nenhum destes é o forte do Queiroz. Portanto, o que resta dizer é: apesar do mister ter metido na gaveta um losango que tinha vulgarizado a Dinamarca, apesar dele continuar a ignorar o Makukula, o único ponta-de-lança português que tem aquela merda de hábito de marcar golos, e dele levar o Coentrão como única alternativa aos nossos extremos (porque um gajo que ande pelas reservas do Inter deixa de ter necessáriamente qualidade, ou então o Assis, visto que não me lembrei de nenhuma metáfora para ele como a que usei para o Quaresma) e dele ficar satisfeito com um 1-0 em casa, numa eliminatória, até ao minuto 85, isto continua a ser um Portugal-Bósnia e nós somos melhores que eles. A escolher, preferia que o Queiroz tivesse, na 4ª feira, outro porradão de sorte (sabem, não confio muito nele). Mas, se os bósnios não acharem de passar mais 90 minutos a fazer tiro ao poste, e, sobretudo, se entrarem em campo num ambiente enlouquecedor e diabólico, típico de qualquer república ex-soviética (e toda a gente sabe que os ex-soviéticos são loucos e diabólicos), então era fofinho que o Queiroz não fizesse de espantalho outra vez o jogo todo. É que, depois, ficam a faltar 7 meses, nós esquecemo-nos todos desta merda e, em Junho, já somos todos amigos outra vez. Vá lá, professor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

The Illusionist (na medida em que enganei a gripe A duas vezes)

Já tive duas gripes desde que o Inverno começou. A primeira era só para me provocar, que eu já não as conheço, e espetei-lhe logo com um boost de benurons (que é um nome bué parecido ao do primeiro ministro de israel na fórmula de deus do rodrigues dos santos) e claritines, que acabaram com ela nem em 3 dias. Para repararem na qualidade da minha intervenção, nem me chegou nada à garganta. Parecia um pro, eu. Vai e tal, um gajo tenta enganar-se. Fui um gajo problemático que aos 8 aninhos teve de arrancar as amigdalas cá para fora, e que desde aí, apesar de ter deixado de correr o risco de sufocar a dormir, as gripes passaram a achar ainda mais piada em vir falar comigo. Mas um gajo tenta enganar-se, e pensa que, apesar de ter arrotado com uma gripe logo no início de outubro, não era assim tão impossível que a sacana fosse a última. Pois claro que não era. Num assomo de revolta das gripes, aposto que por ter arruinado com uma nos tais três dias, como orgulhosamente já vos fiz passar acima, e na linha do tumor que me assolou o lábio inferior em pleno verão e em plena semana dos meus 19 aninhos, sou atacado por uma outra gripe na semana do primeiro jantar de curso cá da faculdade. Os sintomas começam quase com uma semana de antecedência, mas não estamos aqui a falar de nenhum patinho, e eu decido abrir as hostilidades com uma rajada de benurons (os tais parecidos ao primeiro ministro de israel no livro do outro), porque os jabasulides fazem mal ao fígado. O resultado não foi tão efectivo, mas, pensava eu, do alto da minha experiência a enfiar merdinhas de comprimidos, que estava contido. Afinal fui forçado a perceber que não. E o que é que um gajo acaba por associar logo a isto tudo? Ora eu vivo no Porto, que é gelado como tudo, já tive uma gripe este inverno e a sacana da gripe A, tipo a raínha das gripes, anda por aí a abater toda a gente. Raisparta que desta vez fui eu. De qualquer maneira, nada de alarme, ia tentar resolver por mim mesmo. Tinha ali o assassino do claritine mesmo à mão, mas disseram-me que não, que a aposta certa era o jabasulide. Tomei. E tomei outro. Isto num espaço de 12 horas que senão o fígado ainda me saltava pela boca. E não melhorei. Faltei a uma aula e a mais outra até que acabei por medir a minha linda temperatura. Vale a pena fazer um parentesis aqui para dizer que eu nunca tenho febre. Tenho gripes como o raio, já tive uma úlcera, que ainda não sei se curei de vez, um tumor, benigno vá, mas febre nunca tenho. Deve ser porque em miúdo eu alucinava, de olhos abertos (woohooo, hehehe) com 40 de febre, e então deixem-me disso. Daí que o momento de medir a temperatura tenha sido iconográfico. Trinta e oito e meio. Foda-seeeeeeeeeeeeee, a sacana da gripe A apanhou-me. Resignado, conformei-me com a ida ao centro de saúde. Já derrotado, ainda tive de ouvir que, com gripe A, tinha de ligar primeiro para a linha e não devia sair de casa. Liguei no limite da depressão e reencaminharam-me para um centro de saúde com um spot para quarentena, com avisos de "não use transportes públicos e leve uma máscara". God, parecia a fase do Heroes em que o vírus se espalhou pelo mundo. Só que comigo e em pior! Lá fui, sem máscara, porque sou uma pessoa muito anti-segregacionismo, e entrei logo no quarentena spot, mal cheguei. Uma máscara, álcool pelas mãos abaixo, reencaminhado para uma sala isolada. Weird. Iam fazer o quê a seguir? Vestir-me uma bata branca, trancar-me num quarto e dizer que era preciso esperar pela cura?? Afinal não. Era só uma inflamação de garganta. Já não as tinha há uns tempos valentes, e a cabrona então aproveitou-se da história da gripe A para me vir meter medo. Haha, i was born ready! Acabei por evitar uma fila de todo o tamanho porque tinha gripe A, e por garantir um atestado para a semana toda, para evitar o frio do Porto, que é gelado como tudo. Não vou à mesma ao jantar de curso e tenho a garganta a arder, mas acho que ganhei. Tenho é um ror de trabalho e só me apetece jogar manager. Mas que se lixe, foi melhor que nada. E que fique claro que eu já sobrevivi à possibilidade de ter gripe A duas vezes. Beat that, motherfuckers! Bah, agora vou escrever qualquer coisa sobre o saramago.

sábado, 7 de novembro de 2009

Querido, eles mudaram a nossa despensa e a nossa vida mudou para sempre

A ideia é gira. Ah e tal arranja-se uns patrocínios, recebem-se candidaturas, e depois vai-se a casa das pessoas remodelar uma divisão. Isto com uma apresentadora de olho azul, uma designer com jeitinho e um mestre falador, e um gajo até fica a pensar que a coisa só pode ter piada. Só há um problema. É que o objectivo não é ter piada. Isso de piada é para coisas sem importância, e as pessoas não gostam disso, não vale nada. Ainda por cima o programa é num canal para mulheres, e toda a gente sabe que piada é uma coisa javardona só para homens. Vai daí, qual poderia ser a solução para o dito programa? Torná-lo dramático, ÓBVIO! Aqui, impõe-se uma paragem, porque é indispensável dar uma achega a toda a gente (pelo menos a toda a gente que não vê outros programas para gajas como eu): num canal chamado people + arts (reparem na paneleiragem que é o "+"), existe um programa chamado extreme makeover, produzido pela ABC. Nesse programa também se arranjaram patrocínios, uma malta que aparece muito bem em TV, uma equipa de mão-de-obra, uma designer catita, e também se recebem candidaturas para ir a casa das pessoas trabalhar. A diferença, coisa pequenita, é que estes malucos vão a casa das pessoas para deitá-las abaixo e construí-las de raiz, do bom e do melhor. Isto significa, na maior parte das vezes, tirar gente miseravelmente pobre de roullottes, e construír-lhes uma mansão. Quando um gajo ouve isto, pensa o quê? Eh pá, eles mudam a vida das pessoas! Nem mais. Tirar uma família de 10 pessoas duma roullotte, para dar um quarto a cada uma, medicamentos se forem doentes, e carros se der pela certa, é efectivamente mudar a vida das pessoas. Ponto. É aqui que o círculo acabou de se fechar.

Ontem, depois de reformular a cozinha duma senhora cuja maior aflição na vida era achar que não era mesmo fixe fazer o comerzito ali, a apresentadora, de olhinhos azuis, saíu-se com um "mudámos a vida de mais uma pessoa". Foda-se... Pintar de fresco e decorar uma cozinha (destaque para os tampos novos, super finos!), numa casa evidente de classe média, passou a ser, a partir de ontem, mudar a vida de uma pessoa. E não fazem ideia dos nervos que aquilo foi, porque o João (esse personagem impagável, misto de pateta alegre e jogral dos nossos tempos) mesmo no fim, furou um cano de gás e ele e o seu amigo careca tiveram de ligar a milhares de senhores que consertam canos de gás (mesmo com o João a ser brincalhão e a dizer que não foi ele) até se acabar o trabalho. E isto com a apresentadora dos olhos azuis e a designer com jeitinho a proporcionarem momentos kodak únicos, Oscar-worthies, de desespero e consternação (só para quem não sabe, os americanos malucos fazem isto, meio a sério, quando têm de mudar de cidade e ainda não acabaram uma casa). Eu, por mim, só gostava de saber uma coisa: quem foi o gajo que um dia se lembrou dum "vamos fazer um extreme makeover com aquele drama todo... mas a remodelar salas de estar!". Imaginem outras ideias que ele pode ter!

P.S. - Vejam nem que seja um episódio desta saga, pelo João. Ele é mesmo mesmo mesmooooooo engraçado! :')

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Times they are a-changin'

"Daqui a pouco temos de mudar a matemática, porque o sinal mais é uma cruz"
via SIC

Tal como li um dia, sou dos que acredita em Deus, não nas igrejas. Cresci, como dizia o Saramago há tempos, empapado em valores cristãos, e à conta deles engoli 12 anos de catequese, algo cujo único resultado palpável foi um violento e radical universo de anticorpos em relação à religião. Apesar disso, e apesar de não resistir a puxar pelo passado aberrante da igreja católica, da inquisição ao fascismo, relevo sempre um ponto, que me parece incontornável: o facto da igreja ter feito coisas absurdas, não valida que todos os que a ela estejam ligados sejam lixo. A igreja católica assenta em bons valores e, acima de tudo, teve a sorte de ter a gravitar à sua volta pessoas genuínamente boas, que a marcaram e, felizmente, marcaram muitas outras, e isso não pode ser posto em causa. O que não significa que se deva esquecer o resto.

Ontem, o tribunal europeu dos direitos humanos determinou que é proibida a afixação de símbolos católicos nas escolas, na linha do que já há muito se fazia. O tempo, no entanto, passa, mas o eco é sempre o mesmo. Ouviu-se de tudo, do atentado à matriz católica da Europa, à imposição de caprichos de uma minoria. Caprichos de uma minoria, imagine-se. A igreja católica acha que as outras religiões todas são uma minoria caprichosa. Tudo isto repugna-me, sinceramente. Não porque ache que crucifixos na parede influenciem as crianças a enveredar pelo que quer que seja, nem sequer por achar que judeus ou muçulmanos se sintam mais ou menos marginalizados por terem de levar com esta ou aquela figura. O que me dá uma volta ao estômago é o caciquismo, a rudeza de ideias, a paragem no tempo. Irrita-me que, ao fim deste tempo todo, a igreja católica continue a achar que tem um palavra a dizer, continue a agir como se ainda tivesse autoridade. Mesmo enquanto estrebucha, moribunda, não é capaz de uma concessão, de uma mão na consciência. E é pena, de facto. É pena que a igreja católica opte por morrer como sempre viveu. Autista.

"Para fazer crítica cinematográfica, é preciso ter conhecimentos de semiótica fílmica"

Se eu algum dia tiver conhecimentos da coisa, cinema vai-se tornar algo chato. Mas mesmo chato chato chato. Oxalá nunca tenha. (estou a fazer por isso).

terça-feira, 3 de novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

sábado, 31 de outubro de 2009

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Podiam meter este formato na gaveta? Podiam. Mas não era a mesma coisa.

Era só para dizer que acho que correu bem. O Zé Carlos não tinha corrido assim grande coisa, muita gente disse que eles se iam espalhar à bruta desta vez, e eles não fizeram por menos e decidiram meter o Daily Show ao barulho... E acho que correu bem. Ok que o Araújo é um génio e que o Góis não acerta uma piada em televisão, que o Dores e o Quintela foram meio encostados em nome do projecto, mas aí estão os Gato outra vez. Cheios de fôlego. Grandes audiências, grandes convidados, um mês com o país colado. Eles é que sabem o que querem fazer no próximo formato. Mas acho que correu bem.

"We're Never Gonna Die"

The Boat that Rocked é um filme apaixonante. Podia sê-lo, em particular, por muitas razões, do elenco à banda sonora, mas diria que a maior de todas é o espírito. Há uma envolvência que é absoltuamente contagiante e que nos transporta para outra era, outros tempos, marcantes e inesquecíveis, pela música, pelos movimentos, pela vontade de viver. E o filme carrega tudo isso. Diria mesmo que nos chega a fazer sentir nostálgicos, mesmo por um tempo que nunca vivemos. Um tempo único, de toda uma escola de saber e querer viver, materializada, aqui, simplesmente num barco. Como diz o Seymour Hoffman, a dada altura, aquele é o tempo de uma vida. Deixa-nos a pensar.

The Boat that Rocked é um filme despretensioso, porque a mensagem é pura: amar a música, amar uma época, amar uma forma de vida. E as opções resultam quase todas. O elenco é das melhores massas em funcionamento que me lembro de ver. Bill Nighy, Nick Frost, Tom Wisdom, Rhys Ifans, todos fantásticos. O monstro Seymour Hoffman, cada vez melhor, acima de todos, iconográfico. Junta-se-lhes uma banda sonora fácil, talvez, mas assustadoramente boa, obrigatória. E o fim é como devia ser, como tinha de ser, porque The Boat that Rocked não precisava de twists nem de grand finales. Acaba como nos sabe bem que acabe. Era bonito a Academia lembrar-se dele.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Monumental.

The Crashing of Pelham 123

Este Pelham não é um sequestro, é um desastre. Podia ser só um sequestro, qualquer coisa para passar mais ou menos esquecida, mas estamos a falar do Tony Scott a realizar o Denzel, o Travolta e o Gandolfini, e, portanto, desculpas não estão aqui à mão. Ok que o filme nunca induz em erro, no sentido de negar a sua génese comercial, mas há limites para tudo, e gente com este traquejo, não devia acabar numa coisa tão pobrezinha.

Acima de tudo, acho que o filme é mal gerido. O mauzão podia ser ou um capote a nível ideológico, tipo Joker, ou um sangessuga por dinheiro, tipo mauzão do costume, e acaba por ser meio dos dois, o que, para mote, é fraco, ainda por cima pela linha que o filme toma durante muito tempo. Depois, não se explora a personagem do presidente da câmara, um paupérrimo Gandolfini, temos uma figura de chefe só a mandar papaias, e temos um bando de quatro gajos em que três são espantalhos, o que é das coisas mais constrangedoras que existe. Até uma boa ideia, como o plano de fuga do golpe, que tinha o seu charme, é toda rebentada da maneira mais estúpida possível. E, claro, a cereja no topo do bolo são os sound-bytes à lá american hero, essa aberração transversal, como o namoradinho-que-está-a-morrer-e-diz-pela-webcam-que-ama-a-namorada, ou a mulher-do-protagonista-que-não-só-exige-que-o-marido-volte-a-casa-vivo-como-que-lhe-traga-"four-gallons-of-milk!" ou o presidente da câmara a dizer ao herói improvável, ao simples controlador do metro, que quando disser que Nova Iorque vale a pena, vai-se lembrar dele e saber porquê. Não há nada tão lixo como estas tiradas fofas.

Com um Denzel novamente mortiço, pouco intenso e com pouca alma, depois dos muito fraquinhos American Gangster e The Great Debaters, apesar da boa vontade, o filme valeu, única e exclusivamente, por um Travolta fantástico. Já disse que o background da personagem foi mal conseguido, porque um doido puro, ali, tinha partido tudo, mas, ainda assim, estamos perante uma senhora interpretação. Frio, sempre no limite, genuínamente perdido, louco até. Não salva a honra do convento, mas marca um pontinho de dignidade. E é sempre bom ver um nome como o dele, ainda ir a tempo de fazer umas coisas destas. Pese a envolvência.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Coisas Fantásticas #4

"Terá o número 27 um significado que nós desconheçamos?"
via Nós por Cá, SIC

Eu vi um sapo, um grande sapo (hehehehehe...)

"Masca chiclete de boca aberta e pragueja no banco"

"Dá-me gozo ficar à frente do mestre da táctica"

"Apenas uso um bloco de papel e, mesmo assim, fiquei à frente de alguém tão especial, talvez o Especial 2"
Manuel Machado, sobre Jorge Jesus

Jorge Jesus, na reacção ao Benfica 4-1 nacional

terça-feira, 27 de outubro de 2009

One man show


A defini-lo em duas palavras, The Informant! seria, definitivamente, qualquer coisa como "Matt Damon". Sinceramente, nunca fui com a cara dele, nunca achei que valesse muito mais do que o miúdo dos Ocean ou o robot dos Bourne, e não esperava que, ainda por cima a solo, fosse capaz de fazer uma coisinha assim. Mas enganei-me.

Não que The Informant! seja um filme por aí além, porque não o é. É um filme feito para ter um protagonista, para estar dentro da cabeça dele, para seguir os passos dele, para se ouvir falar dele, para ouvi-lo falar a ele, e não tem assim tanto sumo para sobreviver só disso, além de que acaba por se alongar para lá do que devia. O que não invalida que o filme tenha, ainda assim, várias virtudes. Uma delas, muito particular: a capacidade para ser refinadamente enervante. Ao acompanhar a história de Mark Withacre, acabamos por entrar numa espiral de irritação, mas no bom sentido, genuína, que acaba por dar sal ao filme. Depois, o tom de tragicomédia, em que tudo mergulha, tem piada, a maneira como se embala a história, o tom como se trata tudo aquilo, dá cor ao filme, e fá-lo ganhar pontos. E claro, há o Damon no seu papelão, num mundo à parte, a viver quase com a naturalidade do próprio Withacre, doentio. Ainda hão de falar dele para o Óscar, digo eu...

Coisas Fantásticas #3

"Os bilhetes para os concertos dos U2 em Portugal, no próximo ano, foram comprados em 27 países diferentes"
via SIC Notícias

domingo, 25 de outubro de 2009

Coisas Fantásticas #2

"Known to be the "magic" number in sex, 27 is identified as the ideal number of participants for an orgy"
via Wikipédia

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Crowe a ser jornalista = obrigatório

Um bom filme não tem, necessariamente, de ser denso a nível psicológico, nem tem de ter uma grande mensagem subliminar, e este State of Play é um óptimo exemplo disso. O filme vive de uma candência incrível, dum ritmo perfeitamente fantástico, e essa capacidade para explorar a dimensão e as potencialidades do cinema, para nos deixar boquiabertos e expectantes, faz dele, sem dúvida, um trabalho muito bom. Para quem gosta de thrillers então, é um absoluto must. Longe de exagerar na acção, como poderia ser tentado a, é um filme que triunfa pelo facto de ter uma escrita muito, muito boa, co-autoria dum senhor chamado Tony Gilroy, que um dia criou um dos melhores argumentos que já vi em cinema, esse portento chamado Michael Clayton. É uma escrita, se quisermos, "cinematográfica", no sentido em que, como já disse, o impacto que caracteriza a indústria, o poder, está todo lá. O que está longe de ser uma coisinha fácil. E, imagine-se, até dá para sentir o perfume de redacção no ar.

O elenco assusta, só de o ler. E a verdade é que corresponde, com o enorme Russel Crowe à cabeça. É o regresso duma referência, depois dos fraquinhos American Gangster e Body of Lies, na pele dum jornalista-velho-caminhante, que lhe assenta como tudo. O Crowe tem carisma, tem estilo, e o papel é aquilo, só pode. É muito bom tê-lo de volta. A Helen Mirren ganhou a minha admiração. Fui dos que nunca chegou a ver A Raínha, infelizmente talvez, mas facto é que a senhora é um vulto, um colosso. A Rachel McAdams, sem brilhar, e com um início um tanto ou quanto deslocado, consegue acabar muito bem, a fazer um contraponto giro, e não podia deixar de falar na Robin Wright Pen, muito bem encaixada, pese o papel ter sido pouco explorado, que é linda, do alto dos seus 43 anos. Só não consegui gostar do Affleck. Pode ser mania minha, mas, para mim, ele continua a valer pouco, a ser inconsistente, muito menino bonito e pouco actor. Além de que não está muito para colega de faculdade do Crowe, definitivamente.

O filme só fraqueja nas ideias-chave. Algures entre o cliché e o previsível, são elas que borram a pintura, que não honram uma escrita que merecia melhores acabamentos, um nadinha de maior inspiração. Não era preciso ter feito a coisa à volta duma grande conspiração, muito menos jogar tanto com coincidências, nem pôr o jornalista e o congressista a serem amigos desde sempre, etc. Felizmente, mesmo rodeado de certas linhas fracas, e mesmo a roçar o previsível, o fim acaba por elevar a fasquia, e o filme conclui-se de uma forma poeticamente inglória, que o sela com chave de ouro. Para quem goste duma coisa ritmada, com um grande elenco, uma boa história e um cheiro a jornalismo, é vivamente recomendável.

sábado, 17 de outubro de 2009

Pesetero.

"Enxotaram-me de Madrid"
Figo no i, via As

Antes de mais, uma consideração prévia: numa geração de jogadores incrível que juntou Zidane, Ronaldo, Beckham, Rivaldo ou Henry, o Figo foi porventura o que jogou mais tempo a um nível mais alto. Barça, Real, Inter, 15 anos, títulos espanhóis e italianos, a Champions e a Bola de Ouro. Um vulto de dimensão em todo o lado onde jogou, um nome incontornável do futebol europeu do último quarto de século. Não houvesse Eusébio e teria sido o nome maior da História do Futebol Português mas, mesmo com ele, foi com Figo e com a Geração de Ouro que moraram as maiores glórias do nosso futebol, o 2º e o 3º lugar dos Europeus, o 4º no Mundial, os Mundiais de sub20. Figo foi, talvez, a maior bandeira do país no último meio século, e isso nem é discutível.

Tudo isto não invalida que seja possível não gostar de Figo. Porque o futebol tem tudo a ver com paixão, e porque essa não tem que ver necessariamente com resultados e títulos e produtividade. O Figo foi um jogador monstruoso, um colosso, mas nunca vai ser uma lenda, e por uma razão muito simples: não soube assumir fora do campo o que representava dentro dele. Leio muitas vezes que ele soube gerir a carreira de uma forma ímpar, mas quem diz isso, não consegue perceber a verdadeira essência do futebol. O Figo tinha tudo, tudo, tudo para ser um perfeito ícone, mas optou por desprezar tudo isso no dia 24 de Julho de 2000, quando trocou a braçadeira de capitão do Barça, depois de ser um dos únicos estrangeiros, na História do clube, a ter a honra de a usar), pelos muitos milhões com que lhe acenaram de Madrid. Já ouvi que é injusto e hipócrita condenar alguém por querer melhorar a vida, por querer subir na carreira, mas lá está: futebol não tem nada a ver com ser racional. E quem faz o que ele fez, não vai ter nunca a idolatria das pessoas.

Esta semana, Figo falou da sua traumática saída de Madrid. Na altura, pagou, valha a verdade, pela imagem de galáctico, e foi afastado mal e porcamente, logo que o Real tentou lavar a cara depois dum período duro, pós-grandes resultados. Figo disse, agora, de maneira amargurada, que foi enxotado. Foi-o, de facto, e a verdade é que não o justificava. Não o merecer é que já não tem nada a ver com isso. Figo saíu do Real pelo negócio, porque foi para lá pelo negócio. Se queria respeito e devoção, que tivesse ficado na Catalunha. Não sei se existem muitos com moral para falar ou não, mas ele, definitivamente, não a tem.

Oh My Fucking God

Eu vou. (faltam 350 dias).


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Vaya Con D10S

«Eu não fazia milagres, ele faz»
Maradona, sobre "El Loco" Palermo

A Argentina continua viva na luta pela África do Sul, a depender apenas de si, graças a um golo de "El Loco" Palermo, contra o Perú, no último minuto de descontos. Na próxima 5ª feira, segue-se um jogo épico em Montevideu, com o Uruguai a estar, apenas, a um ponto de distância (e o Equador a dois, quando só se qualifica directamente o 4º classificado). Esta Argentina pode não ter, de facto, quase nada à imagem de Maradona. Mas o coração, esse, está todo lá.


(actualizado)

«Chupem e continuem a chupar. Os que não acreditaram, os que me trataram como lixo, agora vão ter de aceitar. Qualificámo-nos para o Mundial com todas as honras. Hoje vários jogadores que ganham um monte de dinheiro suaram a camisola como nunca, esforçaram-se e merecemos a qualificação»

Maradona, após a vitória por 0-1 no Uruguai

Foram mesmo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Tu eras o herói, Son Goku


Sinceramente, não consigo ter noção das horas que passei a ver Dragonball. Devo ter visto as séries todas algumas 3 ou 4 vezes, no tempo em que o Bueréré era uma religião, comprei e lidei com quantidades massivas de cromos, às centenas mesmo, quando a Panini ainda era uma instituição, tive bonecos, desenhos, tudo, tudo. Se há alguma coisa que marcou verdadeiramente a minha geração, essa foi, sem sombra de dúvidas, o Dragonball.

Apesar de preconceitos raramente me impedirem de ver seja o que for, não posso dizer que não sabia, à partida, que este Dragonball: Evolution ia ser um desastre. Não ia deixar de ver por mim, claro, quanto mais não fosse quase por um questão de respeito, mas toda a gente não podia estar enganada. E não me surpreendi, realmente. Este Dragonball é uma anedota. Podia ser só mau, ter maus efeitos especiais, ter uma história parvalhona de acção, seca, mal interpretada, ter feito más opções de cast. Mas não, é muito pior que isso.

O pior de tudo são os clichés. Nunca vi nada assim. Este Son Goku é um Son Goku moderno, um miúdo do Secundário, o que já de si é uma aberração e um atentado à essência do Dragonball, mas a coisa é mais refinada, consegue ser uma matrioshki de estupidez: ele não só é um miúdo de Secundário, como é o miúdo-de-secundário-totó-que-gosta-da-namorada-linda-do-gajo-grande-e-mau-que-o-goza-a-toda-hora. Familiar? Não faltam, depois, as frases de último fôlego, os conselhos no leito de morte, os "nunca te esqueças de quem és", isto na secção melodramática, porque na do amor temos os momentos Bulma-Yamcha, com coisas fofas como "é bom saber disso no dia antes do fim do mundo", ou o Son Goku a aprender em segundos a técnica basilar da série... porque a Kika lhe prometeu uns amassos.

As personagens são, também elas, miseráveis. A suposta Kika (pelo menos não me lembro do Son Goku se agarrar a mais ninguém) é deslumbrante, mas deve ter resultado dalgum exercício para encontrar o completo oposto do que a personagem devia ser, o Yamcha é só rasca, o Son Goku é aparvalhado, a concubina do Satã ainda não percebi o que foi, o boneco do Satão dispensou uma vista de olhos pelo boneco da série, e esqueceram-se do Tartaruga Genial para pôr lá um palhaço (é, talvez, a pior personagem de todas). Só sobrevive a Bulma, talvez fruto da maior rodagem da Emmy Rossum (The Day After Tomorrow, Mystic River, Poseidon), a fazer uma intepretação minimamente legítima para com a personagem, com as míticas cápsulas que se transformavam em coisas mesmo grandes e úteis e o radar das bolas de cristal (apesar deste estar mais para GPS). O que não salva o filme, como é óbvio.

Num filme que tem pouco mais de uma hora e um quarto, acabou por ser também inevitável o vazio retundo no fio da história, cujo corolário, piadas asneironas à parte, é empacotar o Satã em 2 segundos, como se isso fosse uma brincadeira de crianças. Não faltaram, ainda, uma cena à filme asiático maluco (que acaba com uma mosca na boca de alguém) e uma sequência nada mais nada menos do que made in Senhor dos Anéis, desde bolas de cristal em que se vê o futuro e o gajo mau até Uruk-hais à moda do Dragonball, a aparecerem num caminho meio manhoso para um montanha com lava. Só faltou o Gollum, a dizer que sempre em frente e chegavam a Mordor.

Enfim, há coisas que nunca vou perceber, e esta é uma delas: como é que alguém fez isto a um Dragonball?

domingo, 4 de outubro de 2009

Ouvi uma conversa em português numa série americana e não era uma empregada de limpeza

Apesar de ter acompanhado, no AXN, o início das transmissões para cá, acabei por nunca me tornar fã de NCIS. O Mark Harmon até tinha pinta, mas a série sempre me parece um tanto ou quanto seca e óbvia demais, sempre me pareceu ser só mais uma, e portanto, deixei-a cair naturalmente. Estava o assunto enterrado até que, nos fins da última temporada televisiva americana, surgiu uma pequena pérola para o nós por cá: a Daniela Ruah ia entrar numa spin-off da coisa. Ok que não era a Ruah que ia tornar a série num must, mas, e estejam à vontade para mandar vir com o saloiísmo, esse NCIS Los Angeles tinha acabado de se tornar obrigatório.

Ontem, vi o primeiro episódio da série. Devo dizer que ainda não foi desta que um NCIS me apanhou verdadeiramente. Continuo a achar que o argumento é pouco aliciante, pouco tentador, e que se cai no óbvio ou no exagero muito mais do que se devia. Contudo, o cast é francamente interessante. O Chris O'Donnell encaixa como tudo (ainda me lembro dos velhos tempos em The Tree Musketeers e, claro, no ASSOMBROSO Scent of a Woman), o LL Cool J dá o relief à coisa, Linda Hunt é daquelas actrizes iconográficas em tudo o que faça e, eh pá, depois há a Daniela, no seu inglês perfeito, como menina do bando, a dar o pontapé de saída na história com uma toda atarefada conversa no nosso delicioso português. Não digo que ela seja uma referência ali, um foco (como aliás não seria lógico que fosse), nem sequer que, numa primeira impressão, seja uma personagem especialmente carismática. Apesar de tudo isso, nesta coisa de Hollywood se ter lembrado de nós para fazer umas coisinhas, é impossível não ficar com um certo gosto.

Não sei se vou mesmo seguir a série até ao fim, mas, pelo menos, hei de vê-la concerteza nos próximos tempos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quo vadis Marítimo?

Carlos Carvalhal já não é treinador do Marítimo. O técnico abandona o clube depois da derrota nesta jornada frente à Naval (1-2), e quando o Marítimo soma cinco pontos em seis jornadas da Liga.

in Maisfutebol

Há 3 anos, Carvalhal ganhou a Taça da Liga. Na mesma época, levou o Setúbal à UEFA com um dos orçamentos mais baixos do Campeonato e, um par de anos antes, levou o Leixões, na altura mergulhado na 2ªB, à final da Taça de Portugal (qualificando o clube, impensavelmente, para a UEFA do ano seguinte). Também é verdade que falhou no Belenenses e, principalmente, no Braga, clubes com mais condições e onde, pela lógica, deveria ter maior facilidade em materializar o seu trabalho. O que não o rotula necessáriamente seja do que for.

No Marítimo, os números foram claros: 2 vitórias em 18 jogos oficiais, razões, a seco, mais do que suficientes para fazer rolar a cabeça de qualquer treinador. Podia argumentar que, a entrar em Março e sem ter tido, como é óbvio, uma única palavra a dizer sobre o plantel, seria muito injusto lhe imputar responsabilidades, e que, ainda assim, em termos de produção de jogo, a equipa subiu muito em relação aos tempos do Lori Sandri. Podia ainda dizer que a equipa foi claramente prejudicada em Braga e na choupana, jogos que poderiam ter mudado muita coisa e que, já este ano, a derrota nos Barreiros com o Braga é fruto dum penalty fantasma. Nada disso mascara, contudo, o essencial. Apesar de ser um admirador do Carvalhal e de ter sido um entusiasta da sua chegada, admito que ele já não tinha condições para continuar. No fundo, foi muito pouco 1 vitória em 11 jogos na época passada, como é muito pouco 1 vitória em 7, nesta. Além de que é difícil engolir que, ao fim de 3 meses, um plantel com a qualidade do do Marítimo não tenha uma equipa, que se empate com o Trofense, se perca em casa com a Naval, se leve um banho do Braga e se perca na choupana com um nacional a jogar meia parte com 10. O Carvalhal falhou mais do que devia, e é óbvio que tem culpa disso. O que não o torna um mau treinador, muito menos garante que a mudança vá mudar tudo. É que o problema do Marítimo é muito mais fundo, e o Carvalhal não é nenhuma excepção. Ele foi só mais um dos que, na última década, teve a infelicidade de passar pelo Marítimo. Só mais um dos que falhou, dos que saíram pela porta pequena.

Vou aos Barreiros há 10 ou 11 anos, e só conheci um presidente: o Carlos Pereira. Digo, sem desvalorizar, que o Marítimo lhe deve muito, porque nos salvar da falência para nos tornar capazes de pagar do próprio bolso um centro desportivo, não é coisa que se esqueça. Contudo, não é só disso que se viveu na última década. Infelizmente, a acompanhar a gestão patrimonial, esteve quase sempre uma gestão desportiva absolutamente ruinosa e isso, num clube de futebol, não pode ser nunca um segundo plano. Pelo menos, não no Marítimo. Nas últimas 7 épocas, o clube teve 11 treinadores, plantéis refeitos, quase do zero, permanentemente e, com um orçamento sempre entre os 5 ou 6 maiores do campeonato, só se qualificou 2 vezes para a UEFA. Pior do que tudo isso, o clube sofreu um esvaziamento humano arrepiante. Subimos pela primeira vez em 1978, fomos à UEFA pela primeira vez em 1993, e, nesses anos, mesmo sem apoios do governo, sem orçamentos chorudos, sempre fomos o clube do Caldeirão, do estádio cheio, o clube que era a bandeira de uma região, o clube do povo. Hoje, com o governo regional imiscuído numa SAD inócua e ridícula, com um rival a dar sinais gritantes de maior competência desportiva, somos o Marítimo que já não consegue encher meio estádio dos Barreiros. Somos o Marítimo que faz casas de 2 mil e tal pessoas, o Marítimo que cada vez diz menos às pessoas, o Marítimo que recebe os três estarolas para encher a Central de adeptos deles. Somos o Marítimo que perdeu as referências, que se converteu num enorme negócio, o Marítimo que jogou de azul e amarelo na Luz porque o governo regional quis, o Marítimo que vai ter um estádio novo azul e amarelo porque o governo regional quis. Somos o Marítimo que já não mete medo a ninguém, o Marítimo que se tornou numa piada, o Marítimo que, no fundo, já não é o Marítimo.

É estranho olhar para o Braga, um clube com as mesmas condições, o mesmo dinheiro, o mesmo potencial regional, e ver os resultados estrondosos, o método, o projecto. Ver a incompetência que grassa tanto por cá. Em 7 anos só tivemos dois treinadores verdadeiramente bons, o Cajuda e o Lazaroni, e, para cúmulo, qualquer um deles, depois de cumprir os objectivos aos quais o Marítimo tem sempre de se vincular, foi ESCORRAÇADO do clube, o primeiro porque afrontou o presidente em relação à composição do plantel, o segundo porque reclamou um prémio por objectivos que o presidente nem admitiu negociar. O presidente que come e cala sempre que o chefe do governo regional abre a boca, é o mesmo presidente que converteu o Marítimo numa pequena ditadura. O Marítimo que, nas palavras do próprio Alberto João Jardim, lhe provocou a única verdadeira derrota política na vida. Foi nos Barreiros, a 25 de Maio de 1997. Nesse dia, antes dum jogo do Marítimo, 6 ou 7 mil pessoas apuparam-no em uníssono enquanto subia a escadaria da bancada Central, em resposta à sua intenção de fundir Marítimo, nacional e união num Clube Único da Madeira. E isso ele nunca vai esquecer.

Em 12 anos de presidência, o Carlos Pereira secou o Marítimo. Os adeptos estão afastados, a equipa tornou-se numa piada que vagueia ao sabor do vento, e, neste Marítimo, já nenhum treinador tem verdadeiramente condições para ter sucesso. Não sei se interessa a alguém que o Marítimo seque, se o Marítimo ainda é uma espinha encravada nalguma garganta, nem sei se o Carlos Pereira optou por determinados caminhos pela própria cabeça ou pela de outros. Sei é que, a um ano do centenário, está na hora.