domingo, 31 de outubro de 2010

Veetle plugin


Isto de consumir canais pagos de graça via net é tudo muito injusto. A SportTv paga a sério pelo exclusivo dos jogos, tem qualidades, tem os melhores comentadores, os melhores programas, a melhor cobertura e a maior dedicação, pelo que a realidade é que eu roubo, e irrita-me reconhecer a minha idiossincrasia de português chico-esperto, que reclama de tudo e pede justiça, mas só até poder tirar proveito e enganar e ser porcalhão, estejam garantidas as facilidades e atropelados os privilégios dos outros.

Agora agora isso também não interessa grandemente. Idiossincrasia é uma palavra muito bonita, e isto de ser latino tem toda uma poesia envolvente, que nunca poderemos renegar verdadeiramente. É assim que nós somos. Além de que o facto de eu fazer mea culpa abona a favor da minha integridade existencial, e também é facto que, no pré-faculdade e sobre a asa paternal, eu paguei durante anos o serviço da TV dos Oliveirinhas bem caro, e para não o ter usado assim tanto. Isto tudo para falar do estupendo mundo dos streamings. Só lhes toquei quando cheguei à Universidade, ainda que, sendo justo, deva dizer que só os descobri à gente grande há pouco mais dum ano, andava eu ingénuo e menosprezado nas JustinTvs desse mundo. O cerne de toda a minha felicidade chama-se Veetle plugin, e é, como o próprio nome indica, um plugin que é como que um ad-on ou uma espécie de acrescento em português mais mastigado, e que permite que eu veja futebol não com cortes sucessivos e imagem tremida e comentários eslovacos, mas em qualidade HD, emissão ininterrupta e comentários no mais divinalmente matizado português (isto para a nossa ZON Sagres, que não me negam a boa da Sky ou da ESPN quando sucede).

A par dos senhores que fazem as legendas de graça, e alimentam a minha preguiça eterna tendente a bloquear mentalmente a aprendizagem progressiva do inglês falado, este pessoal que se lembrou de inventar o Veetle, mesmo apesar do nome sonante a produtos de higiene feminina, residirá durante muito tempo no meu coração.

sábado, 30 de outubro de 2010

Reis são para os mortais


50 anos neste mundo, por D10S.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Quoteando Boston Legal #1


Alan Shore: Remember when we went skeet shooting together?
Denny Crane: I do.
AS: I barely remember you heading a single skeet.
DC: I'm a game player.

(...)
AS: Tara told me that once she almost died and she thought of those who loved her. But I found in that moment it wasn't who loved me but rather who I loved. You know whose face I saw, Denny?
DC: Mine.
AS: Liza Minnelli's.
DC: Crazy son of a bitch.

(James Spader e William Shatner no eternamente assombroso Boston Legal, Temporada 1, Episódio 10)

Desta vez não é entre Ronaldo e Messi

Pela primeira vez, a Bola de Ouro da France Football e o troféu de Melhor do Ano da FIFA juntaram-se para eleger o melhor futebolista do planeta. Fazia confusão há bastante tempo que assim não fosse. A FIFA criou o seu galardão em 1991 e criou-lhe progressivamente impacto e respeito, mas a France Football andava nestas coisas desde os anos 50, e mantinha o seu prestígio muito tranquilamente inabalado. Dada a dimensão dos dois, era cada vez mais pertubador (e raro) a Bola ser dada a um e o Melhor do Ano a outro, pelo que, nos últimos anos, a Bola, entregue poucos meses antes, cada vez mais servia para anunciar o vencedor FIFA, em Dezembro.

Curiosamente a fusão surge num ano em que os dois melhores e mais determinantes do mundo, Messi e Ronaldo, não merecem absolutamente ganhar. Apesar dos naturais anos fortíssimos a nível pessoal, tanto um como outro falharam a Liga dos Campeões e o Mundial (menos Messi sim, mas também), pelo que uma eleição que caísse num dos dois representaria uma descredibilização pública, que acredito nenhuma das entidades deseja desde o ano um. Sobrará por isso uma boa dose de indefinição, e pelo menos uma mão cheia de grandes temporadas a premiar. É um ano invulgar e entusiasmante nesse sentido, já que o provável vencedor será um nome “menor”, depois de Messi, Ronaldo e Kaká.

Antes de aprofundar os que estão, é imperioso, no entanto, falar de quem foi esquecido, e do nome em particular que suscitou polémica desde o anúncio da lista, na minha opinião mais do que justificada: Diego Milito. O trintão que Mourinho descobriu em Génova, então já quase condenado para sempre ao ocaso dos grandes palcos, só não cabe numa lista destas para quem não tiver visto futebol na última época. Logo Milito, o homem do golo que valeu o campeonato ao Inter, do golo que valeu a Taça de Itália e do bis no Bernabéu que valeu a final da Liga dos Campeões. Logo ele, quando estão Dani Alves, Eto’o ou Klose. Milito não ganharia de facto, mas se são nomeados 23 é porque isto tem muito de simbólico, e trocá-lo pelos nomes mais importantes é tão só cair no ridículo. E é pena.

Dos candidatos, acredito que a justiça determinaria um quinteto desenhado entre Xavi, Sneijder, Robben, Forlán e Müller. O alemão foi a suprema revelação da época, e espantou do Bayern que foi à final da Liga dos Campeões à Alemanha caída nas meias-finais da África do Sul. Robben foi o jogador mais determinante desse extraordinário Bayern, e a segunda força motriz da Holanda finalista do Mundial. E Forlán, aos 31 anos, ganhou a Liga Europa e bateu toda a gente como o Melhor Jogador do Campeonato do Mundo.

No entanto, a verdadeira discussão residirá no duelo entre dois baixinhos de 1,70m. Xavi é extraordinário, toda a gente sabe disso, e além de tudo o que já tinha ganho nos últimos dois anos, fez questão de ser o jogador mais determinante da Espanha dona e senhora do Mundo. Seria um vencedor natural. Ainda assim, o meu prémio seria holandês. Das botas de Wesley Sneijder, o Pequeno Genial, proscrito em Madrid e ressuscitado a preço de saldo por um feiticeiro português, saíu uma triplete em Milão, a consagração como Melhor Jogador da Liga dos Campeões e a incrível caminhada da Holanda mecânica até à final de Joanesburgo, na qual muito poucas almas acreditariam. Perdeu, é verdade, mas nem por isso a época de Sneijder é menos perfeita. No ano dos underdogs, não haverá melhor vencedor para a Bola de Ouro FIFA.
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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Em que situação se encontraria o país sem a acção intensa e ponderada, muitas vezes discreta, que desenvolvi ao longo do meu mandato?

Cavaco anunciou a recandidatura esperada. E em grande, tanto que até deu para anunciar que o país estaria muito pior sem ele nesta crise. É que hoje, ao contrário de há um ano atrás, o cenário parece bem menos difuso, e Cavaco já nem tem de omitir o insuflado auto-elogio. O que se escreve é que Manuel Alegre tomou quase todas as más opções, e ficou perdido algures a meio caminho, entre o suporte institucional quase obrigado do seu próprio partido e o apoio declarado dum Bloco de Esquerda que já o cortejava há muito tempo. Hoje, ao contrário de há um ano atrás, diz-se que Manuel Alegre está esgotado, na cabeça e no discurso, e as sondagens pendem quase inevitavelmente para Cavaco. O mesmo Cavaco titubeante de sempre, o mesmo Cavaco na sombra, que só na sua cabeça teve uma acção impagável que evitou que Portugal estivesse hoje ainda mais fundo no poço.

O Cavaco "discreto", que nunca diz verdadeiramente, nem afirma, nem pensa nada, e que se vende como entidade superior, acima da sujidade que é a política actual, logo ele, senhor de 10 anos como Primeiro-Ministro e de 4 como Presidente da República, nos últimos 25. O mesmo Cavaco assustadoramente anti-carismático, ou, como escrevia Daniel Oliveira ontem, o Cavaco que "é a política em tudo o que ela falhou", que é "o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos".

Para mim, não importa se Manuel Alegre geriu mal os apoios do BE ou do PS. Não importa se falou mais do que devia, ou se soou demagógico, ou se foi exagerado, ou se se colou a posições aqui ou ali esquerdistas de mais. Hoje, como há um ano, continua a interessar-me somente uma coisa: quando olho para ele, ou quando o oiço, sinto a atitude, o mote, a genuinidade e a vontade de fazer alguma coisa. Vejo a vontade de mudar. E vejo, acima de tudo, um líder. O líder que Cavaco nunca vai ser.

sábado, 23 de outubro de 2010

Era só para dizer que vos amo a todos,

E que o Ronaldo vai com 11 golos nos últimos 6 jogos.

E que o Real de Mourinho passou da fase "estamos a crescer sustentadamente" para a fase "isto é a puta da loucura".

Nada a acrescentar.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ainda o duelo

Pelé faz amanhã 70 anos. Para muitos o Melhor Jogador da História, FIFA incluída, o brasileiro fez por começar uma semana tão especial, e na qual teria sempre a atenção mediática de que tanto gosta, bem cedo: veio insistir que Maradona, além de não jogar de cabeça nem de pé direito, é um drogado, e que drogados nem são exemplo, nem deviam ter trabalho. Ou seja, os anos passam, mas a obsessão continua a mesma: Pelé não existe sem Maradona, não é falado sem Maradona, e cúmulo, nem sequer é notícia sem ele, mesmo às portas dos seus jubilosos 70 anos.

Com 20 anos, é evidente que não vi nenhum dos dois jogar. Nunca lhes poderei julgar o talento, mas poderei sempre absorver o mito, e, sobretudo, ver o que, tantos anos depois, os dois representam. António Boronha escreveu uma vez que, entre os dois, o maior seria sempre Maradona, porque um viciado em droga merece mais respeito do que um viciado em dinheiro. Devo dizer que, para mim, Pelé sempre foi isso: um viciado em dinheiro. Da publicidade ao discurso, do politicamente correcto ao carácter, sempre o vi obcecado por aparecer e doente por atenção. Só o concebo nessa sua construção eterna de homem-modelo, a imagem que idealizou para se associar às multinacionais e fazer render.

No processo, contudo, nunca conseguiu disfarçar a sua profunda falta de carisma, e é por isso que, por milhares de votações que o elejam o maior seja do que for, Pelé vai ser sempre um personagem secundário na visão da grande maioria dos seguidores do futebol como desporto-paixão. Porque qualquer um pode construir uma imagem, mas ninguém pode construir empatia. E Maradona é exactamente isso.

Foi consumido pela cocaína, dopou-se, aproximou-se da Máfia, falhou e voltou a falhar, desiludiu, perdeu, agrediu e ofendeu mas foi sempre, sempre, genuíno. Maradona exala o que sente, mobiliza e apaixona, e continua a ser, em tudo o que faz, maior do que a própria vida que foi tão ingrata para com o seu talento. Maradona é daqueles de seguir até à morte, porque temos a certeza que existe convicção até no seu gesto mais pequeno. Isso não se compra nem se constrói. E sim, talvez ele nunca vá ser um exemplo. Mas, para mim como para muitos outros, será sempre uma inspiração.

É por isso que, mesmo com os tais 30 anos a cimentar o mito, se compreende facilmente o porquê de, ao auto-intitulado Rei, continuarem a não bastar os mil golos, os três Campeonatos do Mundo, a adoração do seu país, o endeusamento da própria FIFA, o patrocínio da Mastercard ou os 15 milhões de euros que alegadamente faz por ano em direitos de imagem. Infelizmente para ele, Pelé só queria verdadeiramente o que nunca vai poder ter: devoção da parte de quem o segue. A mesma devoção que fará perdurar um baixote gordo que se drogava e que, para o Rei, não sabia jogar de pé direito nem de cabeça.

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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Lá está

"Teixeira dos Santos foi apanhado desprevenido. Nunca pensou que o governo chegaria até Outubro."

e

"Como se isto, em matéria de erros, não fosse o suficiente, a Ascendi - da Mota-Engil - alertou para que "só nos são devidos 150 milhões de euros, relativos a 2010", correspondentes a alterações nos contratos das SCUT (auto-estradas sem custo para o utilizador) concretizadas no ano passado.

Os 587 milhões de euros inscritos como "Reposição do equilíbrio financeiro - Ascendi" nas Despesas Excepcionais de 2011 do Ministério das Finanças, são "um lapso, que já pedimos ao Ministério para corrigir".

Ou seja, há 400 milhões que foram colocados a mais
[no Orçamento do Estado].


Podemos ter o leite com chocolate de volta, sff?"

no sempre bom espírito do 31 da Armada, aqui e aqui

A realidade é dura, mas é a realidade

"O Orçamento do Estado que vai ser votado, a 29 de Outubro, no Parlamento, é mau. Todos os portugueses sabem isso, porque todos (ou quase todos) vão sofrer as consequências. Vai provocar uma significativa contracção do consumo e do investimento e provocar recessão? É natural; podia ser mais contido na procura de receitas e mais ousado na diminuição da despesa? É provável; tem incongruências, como a aplicação da taxa do IVA a 23% ao leite com chocolate e a taxa de 13% ao vinho? É evidente; vai provocar protestos sociais, nomeadamente nos segmentos mais protegidos e com maior capacidade sindical, como os juízes e os funcionários públicos? É inevitável; é possível reduzir o deficit orçamental para 4,6 %, em 2011, de maneira substancialmente diferente? Duvido."

Belo belo belo


Voltei ao Boston Legal.

domingo, 17 de outubro de 2010

Eleanor

Já vi muitos filmes muito bons. Já vi alguns dos melhores de sempre, e tenho consciência do que são os melhores que alguma vez vi. Tenho-os da minha lista pessoal do IMDB à minha estante do quarto, e tenho-lhes, sobretudo, devoção. É por eles que o cinema me apaixona. Ainda assim, essas interpretações, essas estórias e essas músicas não são dos filmes da minha vida. Os filmes da minha vida são os que eu já vi 10 vezes, e que, sobretudo, cresci a ver, vez sobre vez, naquelas tardes eternas da SIC para que eles foram feitos. Os filmes da minha vida são os filmes imperfeitos, que têm clichés e exageros e que nunca poderiam ser reconhecidos ou ganhar alguma coisa. Os filmes da minha vida são dois: o Armageddon e o 60 Segundos. Curiosamente, não via nenhum dos dois há muito tempo. Hoje revi a última meia hora do 60 Segundos e, até para um mancebo como eu, que cresceu alérgico a carros, o deslumbramento continua a ser inevitável: se um dia eu for um gajo muito rico, vou continuar a ser alheio a carros. Mas também vou ter a Eleanor na garagem.


Quando o Teatro dos Sonhos é assombrado

Liga Inglesa, 8ª Jornada

Manchester United - WBA, 2-2

Para quem só viu a 1ª parte, o 2-2 é um desfecho chocante. Curiosamente, para quem viu tudo também. Depois de 2 empates seguidos, o United entrou determinado a afastar fantasmas, e aos 25 minutos até já ganhava por 2-0, mercê do seu melhor futebol, o típico jogo de transições rapidíssimas em que a equipa de Ferguson se sente tão bem. E isto sempre perante um West Bromwich absolutamente inofensivo e cinzento, que antes ou depois dos golos, nunca jogou nada que se visse. Acontece que, depois do 2-0 e do intervalo, a equipa de Di Matteo marcou mesmo 2 golos. Logo no reatamento, do nada, um livre absurdo resultou num auto-golo e no 2-1, e esse é o momento que decide o jogo: o coração do United caíu-lhe aos pés, e a equipa de Ferguson ficou aterrorizada perante um adversário tão inofensivo como o West Bromwich. Tanto que os baggies tiveram mesmo de explorar tamanhas fragilidades emocionais. O WBA aí sim carregou, e conseguiu empatar naturalmente nem 10 minutos depois, num exemplo perfeito do desnorte do United, um frango imenso de Van der Sar. No 3º jogo seguido a empatar, e com 5 empates em 8 jogos, o United precisa de resolver a sua cabeça com urgência.

Para o desfecho muito terá contribuído a saída de Giggs por lesão, aos 40 minutos, num jogo em que andava a fazer enormidades, do alto dos seus 36 anos. Quebrou o capitão, com a sua sobriedade e capacidade de gerir o jogo, e viu-se a falta que fez no início da 2ª parte. Nani está no momento brutal que se sabe, e foi o melhor em campo, com um golo, uma assistência e a jogada mais perigosa do United em toda a 2ª parte. Pena que que, depois do 2-2, também se tenha eclipsado. Nota ainda para Berbatov, finalmente com espaço e confiança a titular, a demonstrar, além de tudo o resto, a qualidade que tem a jogar de costas para a baliza.

A Van der Sar começa a faltar pujança, e não é só coincidência que o United tenha a pior defesa entre os 5 primeiros. Naquela que deverá ser, aos 39 anos, a última época do holandês, Ferguson terá de saber gerir muito bem a situação. Chicharito continua a marcar como gente grande, mas na altura emocionalmente mais difícil do jogo foi um a menos. Gibson é uma piada, e Anderson não admira que queira voltar a Portugal, tão distante anda do que já prometeu: sem rasgo, distante do jogo e donde gostava de jogar, acabou por comprometer muito mais do que ajudar.

Vai hallando o Madrid

Liga Espanhola, 7ª Jornada

Barcelona - Valência, 1-1

Só vi a última meia-hora do Barça - Valência. Pese o início de época um tanto ou quanto irregular, e num jogo de risco com o líder, que estava empatado nessa altura, não se viu nada menos do que o Barça de sempre. A equipa de Guardiola pôs em campo a confiança inabalável nas suas capacidades, no toque, no desiquilíbrio e na classe, e, com um Valência completamente anulado, tenha sido por mérito catalão ou demérito próprio, o Barça só precisou de rondar e insistir normalmente para desfazer o empate. Mais do que Messi e Villa (que falhou bem mais do que devia, ao contrário do que é da praxe), jogo para Xavi, Iniesta e Pedrito, que está melhor de cada vez que o vejo.

Málaga - Real Madrid, 1-4

O Real entrou na época das goleadas: depois dos 6 ao Deportivo, 4 ao Málaga de Jesualdo. Insisto que o 11 de Mourinho ainda está distante do que pode jogar, e que a melhoria dos resultados não está necessariamente associada a uma maior produção consistente de jogo. Esta é resultado, e isso foi evidente na Rosaleda, dum grande crescimento emocional da equipa. Mesmo sem entupir de jogo a área adversária, e mesmo a comprometer alguma coisa atrás, o Real tem agora uma facilidade quase perturbadora em materializar a maior qualidade individual dos seus jogadores. Num jogo que nem estava interessante, as duas primeiras oportunidades tinham sido logo duas bolas aos postes, antes de Ronaldo ter isolado Higuaín e marcado ele próprio. O Real ainda não é uma máquina de jogar futebol, mas está a evoluir de maneira indiscutível, e sustentadamente. E, para já, é líder e única equipa sem derrotas, com a melhor defesa, o melhor ataque e o melhor marcador.

Mais um jogo fantástico de Ronaldo. 2 golos e 2 assistências, e está mais do que regressado o colosso, que até já é o melhor marcador do campeonato. Higuaín segue para o pecúlio do costume, e agora é Ozil, mais do que Di María, quem anda a dar nas vistas: grande trabalho no 2-0 e um penalty ganho. Apesar de tudo, mantém-se a sensação de ainda faltar "peso" ao ataque do Real: Kaká, claro. A defender, duas notas: acredito que Lass pode dar bem mais à equipa do que Khedira; e Arbeloa e Pepe não dão garantias suficientes.

sábado, 16 de outubro de 2010

Um rei que nunca vai ser

«Eles [argentinos] passam o tempo a tentar encontrar alguém que possam comparar a Pelé. Na época áurea do Santos e do Real Madrid, na década de 1960, diziam que Di Stéfano era melhor que Pelé – e Di Stéfano fintava com a direita e com a esquerda e cabeceava bem. Maradona só jogava com a esquerda e não cabeceava bem. Por isso, quando vou à Argentina, digo-lhes: discutam primeiro quem é o melhor da Argentina e depois tentem ver quem é o melhor do Mundo».

(...)
«[Maradona] teve muita sorte porque, apesar de tudo o que lhe aconteceu de errado na vida, como as drogas, há pessoas que ainda lhe oferecem emprego. (...) Se essas pessoas fossem conscientes, dir-lhe-iam que ou se reciclava ou não teria trabalho. Não há maneira de apresentar como um exemplo alguém que faz coisas erradas.»


Pelé é ridículo. Continua a só ser notícia quando fala dum Maradona que nunca fala dele, como um velho senil a quem já ninguém dá crédito, e a quem ninguém pergunta nada, mas que insiste em gritar aos ventos que ele é que é o Rei, o maior de todos, e, sobretudo, que ele, o viciado em dinheiro e o doente por atenção, é que é o exemplo de homem modelo. Ao absurdo Pelé continua a não bastar a vénia do seu país, o endeusamento da FIFA e o patrocínio da Mastercard. Infelizmente para ele, Pelé só queria verdadeiramente o que nunca vai poder ter: o respeito e a devoção do povo. Os tais que farão perdurar o baixote gordo drogado, que não sabia jogar de pé direito nem de cabeça.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A impotência do Benfica

Luís Filipe Vieira voltou a vir a público esta semana desencorajar a ida de adeptos do Benfica aos jogos fora de casa. Na semana passada, teve a honra de ser recebido por um ministro, para exigir que o autocarro do Benfica não seja apedrejado quando for ao Porto. E garantiu que o Benfica não joga no Dragão, se tal acontecer. Antes disso, já tinha vindo dizer que, em virtude da perseguição que está a ser movida ao Benfica pela Arbitragem, o clube estava a ponderar o boicote à Taça da Liga, para passar uma mensagem de força à organização que gere o futebol profissional em Portugal.

Ou seja, depois de perder a Supertaça, de perder 3 das 4 primeiras jornadas, e de perder em Gelsenkirchen para a Liga dos Campeões, o presidente do maior clube português acha que a melhor forma de se justificar perante os seus adeptos, é fazer a promessa absurda de desistir duma competição oficial. Ao mesmo tempo, Vieira bate-se para que a equipa não tenha apoio fora da Luz, numa tentativa orgulhosa de atacar as já mais do que depauperadas receitas do clube-médio da 1ª Divisão, porque isso era ser justiceiro e estar à altura da sua dimensão.

Ainda houve tempo para consumar mais um épico choro público, graças à conivência dum ministro que, aparentemente, não terá grande coisa para fazer, nos dias calmos que o país atravessa. E claro, a cereja no topo do bolo foi ameaçar o boicote ao próprio campeonato, porque a Liga precisa do Benfica, mas o Benfica não precisa da Liga.

Toda esta odisseia de Filipe Vieira para branquear o falhanço que foi o início de época do clube a que preside, e a sua tentativa desesperada para condicionar as arbitragens e inculcar a opinião pública, já passaram do absurdo. Além de associar o maior clube português a este manual de dirigismo terceiro-mundista, Vieira passa, na verdade, noções bastante evidentes: o Benfica actual sente que é inferior ao Porto, sente que não vai ser Campeão, e, no futuro imediato, está aterrorizado por ter de ir ao Dragão daqui a menos de um mês.

Em vez de defender os meios e a força do seu clube, Vieira escolheu o caminho mais fácil, e tentou estupidificar a opinião pública e os seus próprios adeptos. Como há de perceber mais cedo ou mais tarde, raramente o caminho mais fácil dá bom resultado.
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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Porque será que o ambiente era mau e era casos em todo o lado?

"é claro para todos - para todos, não! ainda há alguns 'observadores' que insistem em não querer observar o óbvio - de que se respira um novo ambiente, incomparavelmente muito mais saudável, em torno e no seio da 'selecção nacional'.

(...)
a título de exemplo: uma das primeiras decisões do actual seleccionador foi a de acabar com as salas de jantar separadas.

(...)
comentário de joão abreu recebido no 'facebook':

«É verdade. No tempo de Queiroz havia uma sala separada para os técnicos que não integravam o grupo do seleccionador (os que falavam ingles até à mesa de refeições) que ficou conhecida por RDA. Essa questão foi a causa de um quase levantamento de rancho dos jogadores, da primeira vez que estiveram em Port Elisabeth. Os responsáveis do hotel desconhecendo essas bizarrias de Queiroz tinham posto as mesas de jantar todas na mesma sala e Queiroz decidiu que enquanto ele não acabasse de jantar os ditos técnicos não se poderiam sentar à mesa. A cena acabou com C. Ronaldo, perfilado à frente da mesa de Queiroz, onde também se encontrava Madail, a dizer que os jogadores também não jantariam se a cena se voltasse a repetir. Queiroz, como é seu timbre, levantou-se intempestivamente e largou para o quarto a mandar àquela parte todos os que lhe apareceram pela frente...»"

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ah mãe!, ah mãe!, AH MÃE!

Acabaram de adivinhar que a palavra é recibo!! RECIBO!, nunca pensei!

Uns orgulhosos 18 anos de televisão privada, que estimulam a criatividade, e, sobretudo, põem a qualidade lá em cima

O novo programa da Fátima Lopes é assustador. Não que os outros fossem bons, mas este, por ser o primeiro depois da luxuosa transferência à la Figo de Carnaxide para Queluz, é um transtorno tanto maior. Não que a SIC os faça melhores, mas estou só a analisar uma merda de cada vez. A Fátima Lopes, provavelmente a mulher com mais audiências da tv portuguesa, o que diz muito sobre a nossa televisão diária, ainda mais sobre a nossa matriz sócio-cultural, e nos faz desejar ver novelas o dia todo, passou os últimos 20 minutos a gongar uma merda chamada "nanana", à média de 3 vezes por minuto, para se referir à palavra secreta "RECIB_", que tem a ver com trabalho e é verde!, só para, requintadamente, não desvendar em directo a mítica palavra. Entretanto, ela como que paga contas de supermercado às pessoas, mediante estas se abrutalharem à vista do mundo, ora a rodarem dentro de frigoríficos, ora a levarem com bolas bombeadas na tromba. Ah, e aproveita para, no meio disto tudo, contar as estórias de quem se vem prostituir, num tom bués fofo e brincalhão.


Querido FMI, prometes que se entrares cá, aproveitas e também acabas com esta merda?

Growin up


The Boys Are Back é um filme sobre família. Não a família perfeita, a dos filmes, mas a família da vida real, uma que foi talhada, e que teve de se reerguer, e, sobretudo, de reaprender a viver. É um filme necessariamente sobre amadurecimento, e sobre as dores de crescimento não só dos filhos que já não têm a mãe, mas dum próprio pai, que, do nada, passa a ter o mundo às costas.

Um dos trunfos mais curiosos do filme é a contenção e a continuidade da acção. Não há surpresas, nem nada chocantemente cinematográfico, mas sim a permanente preocupação em manter uma âncora para com a vida a sério, numa tentativa de nunca poetizar a acção, e de humanizá-la o mais possível. E é um filme que, mesmo sem esses twists, produz momentos emocionalmente fortes.

A fotografia é muito cuidada, e a banda sonora é bonita. Clive Owen cumpre, como lhe é costume, e o pequeno Nicholas McAnulty (8 anos!) é um nome a reter para o futuro. Recomendado.

domingo, 10 de outubro de 2010

Quando uma comédia acerta


Get Him to the Greek é uma das melhores comédias do ano, ao que não será alheia a sua aura britânica (realizador/argumentista e protagonista). A estória mergulha no mundo do rock, nos dias imediatamente antes do possível comeback duma lenda desacreditada, e contrapõe o esforço dum novato numa produtora musical, que tem de garantir que o mito cumpre os planos e faz o concerto, com todo o universo de exagero e luxúria que esse continua a alimentar à sua volta. É um filme todo ele de abuso e de perversão, com um texto de calão agressivo mas sempre divertido (nunca ofensivo), que recria superiormente a transição do tipo normal, para o mundo do sexo, do álcool, das drogas e da ausência de quaisquer limites. Mais do que ter piada, é um filme que, por toda a sua provocação e despudor, faz-nos rir sinceramente, e não estamos a falar só de piadas circunstanciais, mas da base das próprias cenas, ou seja, das pequenas estórias que constroem e fazem avançar o filme.

Os ambientes são muito bons, e a realização de Nicholas Stoller (Forgetting Sarah Marshall) é excelente (músicas, slow-motions, cortes rápidos de cenas), pois, além de "pintar" o filme muito bem, dá dinâmica, o que é sempre determinante, ainda mais numa comédia um pouco maior do que o normal (1h50). Jonah Hill (Superbad) sai-se muito melhor num papel mais de constrangido do que de funny man, como é costume fazer, mas a estrela é o imparável Aldous Snow, interpretado por um Russel Brand que transborda realmente toda a essência duma lenda de rock, dos fantasmas à redenção, e do sucesso à vida "total", à queda e ao regresso.

Get Him to the Greek acaba por ter romance sem ser romance, por ter drama sem ser drama e, muito especialmente, por ter comédia sem termos a sensação de que já vimos aquilo tudo em qualquer lado.

sábado, 9 de outubro de 2010

Estamos de volta


Sobre a equipa, não haverá muito a dizer. Jogo fantástico de Nani, segunda parte assombrosa de Ronaldo (e é mais do que justo notar isso), Moutinho como o mais indispensável durante todo o jogo, mais dois laterais determinantes no processo ofensivo. As soluções do 11 mostraram-se, quiseram, puderam e gostaram de jogar, e quanto isso acontece, fica à vista o que podemos ser.

O jogo teve, portanto, pouco de táctico ou de técnico. Na essência, foi todo ele emocional. Paulo Bento não será nenhum deus da psicologia, mas se os curtos 3 dias de treinos pouco poderiam fazer pela mecânica da equipa, o que seria um pesadelo para outros, certo é que foram determinantes para a cabeça desta Selecção. Portugal fez o jogo que fez, e na minha opinião, o melhor de qualificação pós Euro-2008, porque finalmente sentíu que não era preciso complicar. Não era preciso condicionar o nosso jogo pelo do adversário, não era preciso um respeito desmedido que se tornava invariavelmente em medo, não era preciso ter receio de atacar e de jogar bonito e, sobretudo, de atacar e de jogar bonito quando já está 2-0 e, ainda mais, quando está 2-1 e o jogo até nos pode fugir das mãos. Deixámos de pensar pequeno, e isso voltou a ser a chave de tudo.

Talvez nem fosse tão difícil assim, e é provável que, em especial depois da catástrofe que foi o pós-Mundial, uma boa mão de treinadores entrasse e tivesse um efeito destes sobre a equipa. Para já, ficámos com a certeza de que Paulo Bento é um deles. Depois, a noção do que deve ser esta Selecção fez o resto.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Vaya con dios

É discutível concluir se Paulo Bento saíu ou não do Sporting “por cima”. De facto, pese os quatro segundos lugares, as duas Taças e as duas Supertaças, quando saíu do Sporting, Bento carregou consigo uma certa aura de perdedor, a de um líder que nunca conseguiu dar o salto, já que, com época sobre época de trabalho, não chegou a ser capaz de contrariar o tetra de supremacia portista. Quando saíu de Alvalade, Paulo Bento já era acusado de ser pobre tacticamente, pelas dificuldades em optimizar uma maneira de jogar do Sporting que já vinha dantes dele, e juntou a isso muitos casos, que o levaram de disciplinador a ditador, e às críticas por não saber privilegiar os interesses da equipa (de Stojkovic a Veloso, passando por Vukcevic). Somada a tudo isso, ficou a imagem pública conservadora, que o celebrizou numa ou noutra graça fácil.

Acontece que Paulo Bento é muito mais do que isso. Não é, nem nunca será, uma figura para colorir os jornais, nem tem um passado de pedagogo ou filósofo, nem dele se deverão esperar grandes reflexões, ou especiais teorias sobre quem se deve convocar, ou como se deve jogar. Mas se tivesse de dizer que Paulo Bento é alguma coisa, diria que é honesto. Honesto para com as suas ideias, para com os outros e, sobretudo, para com o jogo. Não chega à Selecção para dar largas a vaidades pessoais, mas para trabalhar e viver o futebol, como sempre o fez. Depois, acredito que tenha garantido, à partida, o verdadeiro respeito dum balneário que já foi seu durante muitos anos (o respeito que, tal como se vê agora, andou bem distante nos últimos tempos), e juntará a isso a abordagem positiva de sempre, ideias claras no campo (porque não pensa que é um mestre da táctica) e, muito especialmente, uma mentalidade competitiva admirável, daquelas que tivemos até um passado não tão distante assim. E que nos fizeram grandes, nos jogos em que éramos bem menores que isso.

Talvez Paulo Bento até não tenha sucesso, e só passe à História como uma boa ideia que nunca foi mais do que isso. Mas à partida, alguém como ele será sempre bem-vindo.

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Lá foram 2 anos, mas a gente ainda se lembra daquela merda em Alvalade, pá

Eduardo; João Pereira porque é melhor que Sílvio, Bruno Alves porque é mais fiável que Pepe, Ricardo Carvalho e Coentrão; Manuel Fernandes porque é o único trinco, Moutinho porque está melhor que Meireles e Tiago, e Carlos Martins, porque é o único verdadeiro 10, e anda a jogar enormidades; Nani, Ronaldo e Hugo Almeida, sem sequer discussão entre ele e Liedson. Vamo lá.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

E um dia escrever sobre futebol assim

"Fico sempre um tanto arreliado quando um jogo me obriga a cancelar a aula de Salsa de Segunda-feira à noite. Se é verdade que não resisto às viagens de Hulk à Choupana, também é evidente que ninguém pode pensar fazer vida na América Central sem o domínio de um outro passo de Salsa, facto mais grave para uma pessoa que alimenta legítimas expectativas de ir morrer a Bogotá. No entanto, antes de deixar os meus ossos naquela terra afeita tão à mortandade, gostaria de ir beber um copo ao alpendre do Falcão, perorar longamente sobra a vitória do Porto na Liga Europa em 2011 e, no fim, receber nos braços a filha dele, na altura um mulheraço (com a tatuagem do Hulk estampada no braço) incapaz de negar a última Salsa a um velhadas que viu todos os jogos do pai. "

Já tem umas semanas, mas andei desactualizado

"A Europa está, outra vez, a enlouquecer, como lhe aconteceu no final dos anos 30 do século passado. A cultura democrática, liberal à moda antiga, esvai-se com medo das minorias. Perde o respeito à maior riqueza que possui: o respeito pela diversidade. Teme que os homossexuais lhe destruam a reputação, porque preferem o segredo das casas de banho e das sacristias; teme que lhe roubem o emprego, como se desejasse ardentemente trabalhar na construção civil e afins; teme que os muçulmanos lhe levem a mulher para a cama, como se tivesse mulheres que valesse a pena o esforço; teme o modo de vida dos ciganos, como se pretendesse vaguear por aí sem raízes, sem ordenado fixo e sem destino. As crises financeiras e económicas antecedem sempre estes recuos. Foi assim no passado. E é assim, agora. Até os suecos se deixaram embalar pelo medo das minorias ao dar expressão eleitoral a uma extrema-direita troglodita, para não falar na deriva do senhor Sarkozy. A Europa está a caminho de uma pobreza que há muitas décadas não conhecia. Mas, ao menos, que mantenha a dignidade democrática. Que não se prepare para queimar livros."

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A dog's tale


Homens e cães. O mote está longe de ser novo, mas é sempre de emoção fácil, e projectos do passado recente, como Eight Below ou Marley & Me, tinham produzido resultados com franca qualidade. Hachi não entra nessa categoria. Tem uma parte final forte, mas, pese só ter 1h30m e nunca se tornar insuportável, mais de 3/4 da sua duração são perfeitamente banais. Num filme que é construído, desde o início, com o propósito de ilustrar um caso "especial", o que se apreende, durante a maior parte do tempo, é uma acção meramente mortiça, com alguma chama, mas muito longe do extraordinário. E o filme até cai no erro de tentar empolar essa acção, com clichés emocionais bastante fracos. Richard Ghere também não é nada de carismático, e eram de evitar determinados efeitos visuais que são adicionados aqui e ali, especialmente a visão a preto e branco do próprio Hatchi, que não fazem qualquer tipo de sentido.

A única coisa realmente bem feita é a parte final, que, no fundo, é o cerne de toda a estória. Chega a arrepiar, aqui e ali, e acaba por ser evidente que tudo foi construído a partir desse fim, baseado em factos verídicos. Pena ter sido construído mal.

Que colossal

Foi tão grande como eles


Mesmo 48 horas depois, continua a ser assustador. Foi como ter visto Maradona a jogar, o Che a falar, ou o Bob e os Queen a tocar. Para quem cresceu a ouvi-los, é tanto mais mítico. É ver lendas à nossa frente, ver a única banda do mundo que podia esgotar, em Portugal, dois estádios de 40 mil pessoas em 10 horas, ver aquela que é a banda maior dos últimos 30 anos e, definitivamente, a mais colossal da actualidade.

E é fácil perceber porque é que eles o são. Da logística aos luxos visuais, do palco extraterrestre ao ecrã que se fragmenta em milhares de mosaicos, dos 12 operadores de câmara suspensos a dezenas de metros de altura à interacção deliciosa (sobre a Universidade de Coimbra e o que poderiam ter sido se tivessem frequentado uma, um genuíno "I am what I would have been... a travelling salesman. I sell songs with this group, my three best friends"). Depois ainda o peso das causas, só mobilizadoras para quem pode, e por fim a música, claro, numa lista quase infindável de canções de sempre, como que numa playlist da nossa vida toda.

With or without you foi belíssimo, como tinha de ser, e como o foram City of Blinding Lights, Moment of Surrender ("we surrender to Portugal!") ou a divinal Miss Sarajevo, arrancada até num italiano poderoso, quando assim teve de ser. Mas os momentos altos terão sido Sunday Bloody Sunday e, especialmente, Walk On e I Still Haven't Found What I'm Looking For, esta cantada em uníssono pela multidão, durante segundos que pareceram uma eternidade.

Não percebo de música e mal vou a concertos. Mas, mesmo com a improbabilidade de ter conseguido ir a Coimbra, sei, agora, que era obrigatório ter estado lá. Toda a gente devia poder ver U2 uma vez.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Not cool, dude

"Alberto Contador ameaça abandonar o ciclismo se o caso de doping em que está envolvido não for resolvido de «forma favorável e justa»."

sábado, 2 de outubro de 2010

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Bleep My Dad Says!


Podia dizer que Shit My Dad Says foi originariamente uma conta Twitter, criada por um argumentista de comédia meio falhado quando, aos 28 anos, voltou para casa do pai. Podia dizer que, duma brincadeira, a coisa chegou aos milhões de followers no Twitter, e daí evoluíu para nada mais do que New York Times Best-Seller e, agora, para série da CBS. Podia dizer que, como era fácil de prever, o argumento é delicioso, e que a série tem um potencial de crescimento indiscutível. No entanto, só há aqui uma coisa verdadeiramente importante: o William Shatner continua a ser um grande DEUS.


Tranquilidade, dia 1

Paulo Bento entrou muito bem, e a primeira convocatória é excelente. Desde logo, recupera gente que, pela qualidade, deve estar, como Postiga. Depois, consuma as entradas naturais de João Pereira, Carlos Martins e Varela, e acaba até a ressuscitar um proscrito de qualidade indiscutível, como é Paulo Machado. O próprio Rui Patrício, pelo crescimento evidente neste início de época, faz sentido. Ver estes 23 nomes, a que ainda se juntam os lesionados Quaresma e Amorim, mais Micael, Manuel Fernandes e Makukula, que nem cabem, fala pelo potencial deste grupo. O mesmo grupo para o qual o delirante Toni desafiava há tempos que Scolari voltasse, a ver "o que ele fazia com estes", estes podões todos!... Dos 23, só não concordo com Liedson.

Na outra questão importante, absolutamente correcto manter Ronaldo como capitão. Concordo quando se disse que ele foi capitão cedo demais, e concordo que Ronaldo ainda não gere como poderia, dentro e fora do campo, o peso que tem nos ombros. Mas é ele um dos dois melhores do mundo, e é ele, aos 25 anos, o seleccionável mais internacional de todos (85 jogos, parece-me). Era absurdo começar um novo ciclo com invenções ao nível do anterior.

Uma última nota sobre a posição de Pepe, que, com Queiroz, jogou repetidamente a médio-defensivo. 2 anos depois, Pepe voltará a ser opção para o centro da defesa. Graças a Deus.

Contador e o futuro

Comecei a ver a Volta a França com 13 ou 14 anos. Dizem-me que, em Portugal, o ciclismo já foi qualquer coisa grande, mas esses já eram tempos distantes para a minha geração. Graças à cobertura fantástica da Eurosport Portugal, que mantém, até aos dias de hoje, transmissões dirigidas pela dupla Luís Piçarra e Paulo Martins, passar Julho a conhecer o interior de França tornou-se numa fé anual. Orgulho-me muito de ainda ter chegado a tempo dos anos do mítico Armstrong, o maior de todos os tempos, e dá-me um gozo especial ter visto ciclismo quando os nomes grandes das grandes provas, fosse por falta de meios de controlo ou pela velha honra, ainda era nomes incólumes, no que aos escândalos e ao doping diz respeito.

O pós-Armstrong foi madrasto nesse sentido. Logo em 2006, Floyd Landis fez o brilharete de ganhar, só para ser apanhado logo depois. Basso e o extraordinário Vinokourov, ciclistas de pódio nas Grandes Voltas, foram os seguintes. E, pelo meio, a Operação Puerto, com a suspensão de equipas inteiras e de vários outros nomes importantes. Ainda que desacreditado, o ciclismo sobreviveu pelo excelente impacto de jovens com muito valor. Os irmãos Schlek, Cavendish, e claro, Contador, o nome maior nesse pós-Armstrong, e o único que, pela pujança e pela segurança de si, se chegou a parecer a ele. Os últimos dois anos trouxeram mesmo de volta grandes duelos na estrada. O futuro parecia promissor.

É por isso que ter ouvido, anteontem, que Contador acusou uma "anormalidade" num controlo antidoping, deixa-me perturbado. Num ciclismo que foi sombrio na última década, saber que alguém tão bom como Contador pode ser uma farsa é uma realidade capaz de arruinar todas as pequenas vitórias dos últimos tempos. Se cair, Contador levará consigo muito mais do que o nome e a marca à sua volta. Levará, por certo, quase toda a boa aura da modalidade no passado mais recente e abalará pela base todos para quem acreditar no ciclismo já era difícil. Para mim, pelo menos, se Contador cair, nunca terá feito tão pouco sentido continuar.
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