quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Os culpados


Descobrimos todos esta semana que o governo afinal é um bando de jagunços que, para chegar ao poder, mentiu grosseiramente sobre as razões da crise, e sobre as medidas para tratá-la. Descobrimos também que a sua agenda é tão extraordinariamente de Direita, mais troikista que a troika, como lhe chamam, que ameaça arrancar pela base o próprio nível de vida como o conhecemos. É extraordinário que tenha demorado um ano. A dialéctica do Sócrates-diabo foi sempre patética, a inspiração ideológica deste PSD foi sempre evidente. Sabia-se quem eram, ao que iam, as motivações foram sempre extremas. O país, porém, primeiro deu a maioria, para então indignar-se. E agora pede revoluções como se tivesse sido enganado. Como se estupidez fosse remissão de culpa.

No sábado pede-se que venhamos todos para a rua queimar coisas. O facebook diz que os gregos é que é, que partir esta merda toda é a solução, todos no coro unânime de como somos um país de frouxos, que gosta de levar na cara. Pelo facebook parece que queremos ir todos matar pessoas, e os militares, coisa confortável de se saber, já anunciaram que estão com o povo na indignação. Fizemos a merda, e agora mal podemos esperar para ir brincar no abismo, falando disto com uma ligeireza pavorosa, própria de quem não tem noção.

E o pior? O pior é que sem partir coisas provavelmente já não vamos lá. Batemos com a cara no fundo. Temos parte da própria Direita, todos os moderados, aí pasmados em todas as colunas e em todos os debates, com esta criação demente do homem novo português, pobre até onde der. Claro que tínhamos de mudar. A crise despejou-nos isso na cara. Não somos competitivos, tínhamos de ser. Enquanto houve dinheiro, esquecemos o mérito, a eficácia, o rendimento, fomos um país a brincar. Claro que tínhamos de cortar, sacrificar, mudar para melhor. Vergonha a nossa, ser preciso vir gente de fora para nos dizer. Azar o nosso, termos posto no poder uma Direita profética, decidida a reinventar o país à imagem dos seus livros.

Ir partir coisas é uma ideia perigosa. Mas sem ir para a rua estamos destinados a este limbo insuportável, com um Presidente absurdo, vegetal e catatónico, um rato cuja magistratura de influência é ver a borrasca no horizonte e esconder-se no escuro, só porque fugir do barco ainda não é opção. Com um Primeiro-Ministro esvaziado de credibilidade, rodeado de radicais, sem pingo do estadismo que precisaríamos como de pão para a boca, que já não tem maneira de esconder as contradições, a plasticidade, a ligeireza e a impreparação. Com um Ministro das Finanças a quem o carisma de um cyborg faria inveja, que vai debitando bombas no tom de um retardado a dar um aula chata de Liceu. E, para ser perfeito, com um líder de Oposição que é a caricatura de um chefe temporário, que ninguém leva a sério.

Estes são os nossos políticos por nossa causa. Este é o nosso governo por nossa causa. O país está no limite por nossa causa. Não fomos bons o suficiente, fomos, aliás, muito piores do que isso. Resta-nos conter esta demência. Fazer pela vida nunca foi o nosso forte. Desta vez é capaz de não haver alternativa.

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