sábado, 1 de setembro de 2012

The Newsroom (2012)


Pode tornar-se na série monumental que ainda não é.

The Newsroom (10 episódios) foi uma pedrada no charco deste início de Verão. Jornalismo numa série, e criado, imagine-se, por um dos senhores do Olimpo da televisão: 5 anos depois, o monstro Aaron Sorkin, pai de West Wing, decidiu voltar às lides do pequeno ecrã.

A acção é a de um noticiário de horário nobre, do cabo, tradicionalmente leve e pacífico, mas que se torna perfeitamente acutilante, num espaço de comentário duro e imparcial, aquando da mudança editorial que inicia a série. 

The Newsroom é fácil de gostar, fácil de assimilar. Fazer o grande jornalismo, a coisa certa, fazer a diferença. Não ter medo, falar alto, resistir às pressões, educar as pessoas. Se essa é, contudo, a sua face, e uma virtude, é também o seu maior ponto fraco. The Newsroom foi, desde a primeira hora, uma série lírica demais. Muito brilhante e pouco difícil, em vários aspectos, pouco realista. O jornalismo não vive sem o romantismo, mas a realidade é mais crua, obriga a mais concessões, a mais sacrifícios para fazer a diferença. Não pode ser tudo fácil, heróico, não basta só querer. A Newsroom falta dar-lhe o lado feio, a falência dos homens. Apesar de ter tido momentos de nível altíssimo, a temporada acabou nessa toada de conto de fadas, e há que amargar o tom para encarar a próxima.

Isto não significa que a série não tenha densidade, ou que seja banal. Quer dizer que as coisas, sendo já bem feitas, têm ainda de ser engrossadas, tornadas mais realistas, melhores. Porque, como escrevi a abrir, se o forem, então The Newsroom torna-se num absoluto incontornável. Que já provou poder ser. Sorkin ainda está a afinar a coisa, nota-se isso, mas o seu génio já apareceu a toda a linha, e os momentos pele-de-galinha não enganam (o 5º episódio é uma obra-de-arte de princípio a fim). Se a série sair da simpatia da zona de conforto, as possibilidades são infinitas.

As personagens ainda não convenceram totalmente. Tenho dificuldade em gostar de Jeff Daniels. É ele o ícone da companhia, a vedeta, um pivot que fez carreira pela paz com deus e com o diabo, mas que incendeia o seu velho nervo pelo jornalismo, assim que integra a equipa uma antiga e irascível paixão sua. Acho-o muito pouco carismático, pouco venerável, e a sua ocasional postura cómica não ajuda. Emily Mortimer é melhor. Estridente, pouco dada a formalismos, entusiasta, é uma personagem mais cativante. Fica a faltar-lhe, mesmo assim, um pouco de peso e de seriedade. O romance entre ambos, sempre omnipresente, chega a ter um peso exagerado, mas melhora para o fim da temporada.

As minhas personagens favoritas são Sam Waterston e Dev Patel. O primeiro é um patriarca estilo desenho-animado, que é o presidente da divisão de notícias. É ele quem saca quase sempre a performance mais genuína. Patel (Slumdog Millionaire!) é um rookie que sabe todos os segredos da internet, e que nesta sua "estreia" em televisão, demonstra uma altitude digna de registo. 

Das outras personagens mais relevantes, Thomas Sadoski, um produtor truculento, cru e pragmático, mulherengo mas de bom fundo, é o mais interessante. John Gallagher esgota-se em triângulos amorosos, Alison Pill e Olivia Munn são fracas.

The West Wing foi uma série perfeita desde o pontapé de saída. Em cadência, em agressividade, em crueza, nos temas, nas personagens. É também a obra-prima que acontece uma vez na vida, e não pode ser termo de comparação. The Newsroom tem grandeza em si, e isso é a chave de tudo. Falta que Sorkin a trabalhe, que a torne mais dura e adulta. E as expectativas são altas, obviamente, para quando se der o regresso, em Junho de 2013.

P.S. - O genérico, musicado pelo colossal Thomas Newman, é dos mais apaixonantes que já ouvi.

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