quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Em que situação se encontraria o país sem a acção intensa e ponderada, muitas vezes discreta, que desenvolvi ao longo do meu mandato?

Cavaco anunciou a recandidatura esperada. E em grande, tanto que até deu para anunciar que o país estaria muito pior sem ele nesta crise. É que hoje, ao contrário de há um ano atrás, o cenário parece bem menos difuso, e Cavaco já nem tem de omitir o insuflado auto-elogio. O que se escreve é que Manuel Alegre tomou quase todas as más opções, e ficou perdido algures a meio caminho, entre o suporte institucional quase obrigado do seu próprio partido e o apoio declarado dum Bloco de Esquerda que já o cortejava há muito tempo. Hoje, ao contrário de há um ano atrás, diz-se que Manuel Alegre está esgotado, na cabeça e no discurso, e as sondagens pendem quase inevitavelmente para Cavaco. O mesmo Cavaco titubeante de sempre, o mesmo Cavaco na sombra, que só na sua cabeça teve uma acção impagável que evitou que Portugal estivesse hoje ainda mais fundo no poço.

O Cavaco "discreto", que nunca diz verdadeiramente, nem afirma, nem pensa nada, e que se vende como entidade superior, acima da sujidade que é a política actual, logo ele, senhor de 10 anos como Primeiro-Ministro e de 4 como Presidente da República, nos últimos 25. O mesmo Cavaco assustadoramente anti-carismático, ou, como escrevia Daniel Oliveira ontem, o Cavaco que "é a política em tudo o que ela falhou", que é "o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos".

Para mim, não importa se Manuel Alegre geriu mal os apoios do BE ou do PS. Não importa se falou mais do que devia, ou se soou demagógico, ou se foi exagerado, ou se se colou a posições aqui ou ali esquerdistas de mais. Hoje, como há um ano, continua a interessar-me somente uma coisa: quando olho para ele, ou quando o oiço, sinto a atitude, o mote, a genuinidade e a vontade de fazer alguma coisa. Vejo a vontade de mudar. E vejo, acima de tudo, um líder. O líder que Cavaco nunca vai ser.

1 comentário:

karmatoon disse...

A meu ver, é a demagogia pura que faz o povo sonhar. O discurso político do Alegre é demagógico, sim, mas é uma boa forma de levantar o cu gordo dos portugueses do sofá para participarem na vida política de um país a nanar.
Como acham que o Obama venceu as eleições?