quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Boardwalk Empire, season 2


Verdadeiramente brilhante.

Não acredito que alguém seja capaz de ver Boardwalk Empire sem reconhecer a sua venerabilidade. É uma daquelas obras que valeria a pena ver qualquer episódio por si só, tamanha é a classe da realização, a qualidade da recriação dos espaços e da época, a fiabilidade do vestuário e da música, e a reinvenção das personagens históricas. Tem uma base tão rica que a distingue necessariamente, um requinte e um glamour que tornam tudo aquilo um prazer.

A primeira temporada resultou num Emmy de Melhor Realizador para nada menos do que Marty Scorsese, e Globos de Ouro para Melhor Série Drama e Melhor Actor (Buscemi), mas até admito que tenha vivido um pouco mais da forma que do conteúdo. Esta segunda, contudo, foi a definitiva afirmação de Boardwalk Empire como um dos pesos-pesados da actualidade.

A bruta qualidade da realização manteve-se, mas o argumento passou ao nível seguinte, e as personagens cresceram desmesuradamente. Boardwalk sempre se evidenciou pelo potencial das diferentes figuras; nesta segunda temporada esse potencial é absolutamente cumprido.

O palco é Atlantic City, New Jersey, na década de 20, época da Lei Seca. A personagem central é Nucky Thompson (Steve Buscemi), inspirado na figura verídica do barão do crime Enoch Johnson, e a série acompanha a luta pelo poder entre os senhores corruptos da América desses tempos. Buscemi é denso e imponente, tudo o que um protagonista deve ser. É cirúrgico, capaz de manter tudo no bolso, e conhece o meio como ninguém. É um diplomata na realidade absolutamente temível, que não esquece, não é engolido, não se redime, não perdoa.

O outro protagonista é Jimmy Darmody (Michael Pitt), um jovem veterano da 1ª Guerra Mundial, que foi criado por Nucky quando este era o número 2 do seu pai, o antigo mandante da cidade. É ele a grande estrela da season 2. É monumental a forma como cresce, depois de no fim da primeira temporada se rebelar contra o seu mentor. Mal aconselhado, nunca consegue ter legitimidade incontestada para controlar os destinos da cidade, o que o deixa numa situação irremediável. Os últimos episódios da temporada são de uma crueza apaixonante e, com justiça, levá-lo-ão a ganhar qualquer coisa este ano.

A série distingue-se, como já disse, pela quantidade de grandes personagens. Tenho de destacar as seguintes: Margaret Schroeder (Kelly Macdonald), a cerebral companheira de Nucky; Gillian Darmody (Gretchen Mol), a insinuante e viperina mãe de Jimmy; Chalky White (Michael Kenneth Williams), o carismático líder da comunidade negra; Richard Harrow (Jack Huston), o desfigurado e leal braço direito de Jimmy; Michael Stuhlbarg, imponente como o verídico Arnold Rothstein, gangster de Nova-Iorque; e Manny Horvitz (William Forsythe), um icónico gangster russo de Filadélfia.

O último episódio da temporada é outro dos marcos de 2011. Providencial, duro, negro, um dos desfechos mais majestosos que já vi. Boardwalk Empire é daquelas que vai ser lembrada daqui a muito tempo. Agora só volta em Outubro de 2012. Para quem nunca viu, é pôr tudo em dia até lá.

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