sábado, 10 de dezembro de 2011

Sí, se puede


Segundo a lenda, Mourinho deve ter passado a semana a rever um único DVD: Camp Nou, 29 de Novembro de 2010. Provavelmente a maioria das pessoas não se lembrará, mas no ano passado, à boca do Clássico, as coisas estavam surpreendentemente parecidas ao que estão hoje. A Espanha e a Europa estavam rendidas ao futebol do Real, que chegava ao seu primeiro derby também na liderança isolada do campeonato. Os próprios blaugrana transpiravam respeito e, apesar de o jogo ser no Camp Nou, acreditava-se que aquela estava destinada a ser a primeira pedra do projecto Moudrid. Em campo, no entanto, o que houve foi um abismo perfeitamente colossal. Mourinho sofreu a maior derrota e a maior humilhação da carreira, o Barça acelerou de maneira irremediável para o tri-campeonato.

É um jogo que assombrará Mourinho para todo o sempre. Nem ele, feiticeiro, foi capaz de o prever nos seus piores pesadelos. A sorte quis que Barcelona e Real se voltassem a encontrar mais 4 vezes durante a época, e que passasse à História o Madrid do futebol agressivo, duro e de faca nos dentes, dos três trincos e do anti-jogo. Quase ninguém se lembrará, contudo, que nessa já distante noite na Catalunha, Mourinho entrou... ao ataque, disposto a jogar o jogo pelo jogo. E que no miolo estava Ozil, ao invés do combo Pepe-Xabi-Khedira que foi sempre usado depois.

O destino, irónico e incontrolável, achou que era altura de voltar a tentar Mourinho. E lá está o Real, ainda mais supremo, ainda mais líder, ainda mais candidato. Desta vez até a abrir as hostilidades em pleno Bernabéu. E, no entanto, resume-se tudo ao mesmo: querer jogar, como no histórico 0-5, e poder pôr tudo a perder outra vez? Ou cerrar fileiras, sacrificar as maiores possibilidades de vitória, mas ser pragmático?

É um dos jogos da vida de Mourinho, sinceramente. Empatar é continuar numa posição muito boa, privilegiada; por outro lado, só a vitória será a verdadeira legitimação deste Real. A equipa precisa deste jogo. Mourinho saberá melhor do que ninguém que não pode perder - porque os três pontos à maior rapidamente se esfumariam num desalento tremendo -, mas terá a consciência de que não haverá maior oportunidade de ganhar do que esta: o Real providencial e contagiante, com o Bernabéu a explodir, frente a um Barça muito menos incondicional, atrás de 6 pontos de prejuízo.

Atacar o Barcelona será sempre uma armadilha. Mas, se fosse Mourinho, era uma armadilha onde hoje arriscaria entrar. Porque manter a vantagem não prova nada; ganhar, contudo, é um cheque-mate.

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