quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Homeland (2011)


Primeiro estranha-se. A série não tem uma grande química, não dá espectáculo, não tem momentos de levar o queixo ao chão. É sóbria, contida e, nos primeiros episódios, nem se dá ao trabalho de lançar grandes iscas para a acção. Dá-se a conhecer, suavemente.

Depois entranha-se, de facto. Não é monumental, mas é ousada, surpreendente, realista e, sobretudo, magistralmente tensa. Não inventa nada ilógico ou exagerado, pegando, pelo contrário, em situações absolutamente realistas para torturar-nos os nervos. O argumento é notável justamente porque torna situações comuns num thriller brilhante, sem precisar de espalhafato nenhum. Muitas vezes só nós e o protagonista é que sentimos o que está a acontecer, perante o alheamento geral.

Homeland (12 episódios) é a história de um prisioneiro de guerra americano desaparecido no Iraque há oito anos, e que se julgava morto, que é resgatado e volta a casa como herói nacional. No seu encalço está, contudo, uma obstinada agente da CIA a quem uma fonte, pouco antes de morrer, garantiu que a Al-Qaeda convertera um prisioneiro americano.

Já salientei o argumento, também tenho de sublinhar a excelente cadência da realização, algo que falta muitas vezes em televisão: não há tempos mortos. Isto porque se eliminam aqueles momentos de reconhecimento que não acrescentam grande coisa. Os episódios, por exemplo, nunca começam no exacto momento em que o anterior parou.

Por fim o cast, que é a jóia da coroa. Damian Lewis e Claire Danes são duas das estrelas do ano, seguramente. Ele é o Sargeant Nicholas Brody, esfíngico e assombrado. O seu permanente esforço de contenção para aparentar equilibrado é colossal; a gestão do regresso a casa e dos segredos que não pode partilhar é de uma violência a toda a prova. Lewis é perfeito para o papel porque tem o dom de nos inquietar. Exala um mistério tão natural que parece uma bomba sempre no limite de explodir.

Danes é Carrie Mathison, uma genial e inortodoxa agente da CIA, que esconde uma desordem bipolar. É provavelmente a melhor female lead que já vi em televisão. O seu talento e instinto misturados com a obsessão pelo novo herói nacional fazem-na parecer genuinamente enlouquecida. A sua cruzada a ver o que mais ninguém vê, sozinha contra o mundo, é brilhante.

Mandy Patinkin, o mítico Gideon de Criminal Minds, é o secundário de luxo. Saul Berenson é uma lenda da CIA e o mentor de Carrie, é a voz da consciência sempre presente. O seu farto carisma faz o resto.

Homeland corre nos Globos para Melhor Drama, Actor e Actriz dramáticos. Lewis e Danes são candidatos de peso. A série não é a melhor do ano, mas que ninguém duvide que é um thriller de todo o tamanho.

Sem comentários: