quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Champions 12/13, a jornada dupla


SURPRESAS - Imenso o Borussia. Dizer que o bicampeão alemão é surpresa pode ser discutível, mas o grupo era do Madrid e do City, e os homens de Klopp tinham falhado com estrondo no ano anterior. O empate em Manchester ainda não tinha esclarecido ao que vinham, mas a monumental jornada dupla com o Real, que os deixa na liderança isolada do grupo da morte, foi showdown que chegue. Um gigante físico, técnico e táctico que enche o campo com uma senhoria violenta, assente no talento farto de Goetze, Lewandowski e Reus (mais uma defesa toda ela de excepção). Que estará nos oitavos parece dado adquirido, mas este Borussia é uma das 8 melhores equipas da Europa.

O Málaga confirmou a sua orgulhosa campanha de antologia. Pouco importa se o Milan anda na amargura ou se o Zenit é um erro de casting gigante: na estreia na prova, os malaguenhos cometeram a proeza de, em pleno San Siro, serem os primeiros da competição, a par do Porto, a chegar aos oitavos. Isco e o nosso Eliseu dão-se a conhecer ao mundo, Demichelis, Joaquin e Saviola descobrem a sua segunda ou terceira vida. Sensacional.

Também merece referência a afirmação do Shakhtar que, no último minuto dos descontos em Stamford Bridge, era líder e deixava o Chelsea fora da qualificação. Perderam, é verdade, mas a Juve já não é favorita a seguir em frente. O Celtic, por quem ninguém daria nada, reforçou a campanha tremenda (e pouco reconhecida) que estava a fazer, ganhando um dos seus jogos da década. Que só aconteceria uma 1 vez em 10, sem dúvida, mas os homens de Neil Lennon estão prestes a sair do nada para a melhor campanha europeia a que a memória permite chegar. Finalmente, honra seja feita ao Schalke e ao seu relógio suíço (Huntelaar marcou 1 golo em cada um dos 4 jogos) que, projectando a grande qualidade que tem, e a grande Bundesliga que está a fazer, tem tudo para roubar o grupo ao Arsenal, como ficou patente nos dois jogos entre ambos.

PORTUGUESES - Uma jornada que tinha tudo para ser gorda, acabou por ficar com um irremediável sabor agridoce. Começou muito bem, com o Porto a chegar-se à frente de toda a gente, e a ser o primeiro da prova a atingir os oitavos-de-final. Depois do trauma do ano passado, a equipa de Vítor Pereira tem sido plena, e aproveitou o grupo favorável que teve. Se antes a culpa era do treinador, este ano o mérito também é dele, e este Porto é um projecto acabado e um caso sério. A cereja, e é uma cereja importante, será ganhar o grupo em Paris, coisa que, acredito, irá acontecer.

Na Luz, bom jogo do Benfica. É uma equipa mudada este Benfica, mais longe dos equilíbrios e do toque glamouroso dos anos recentes, mais apostada na intensidade e na velocidade. Entre tudo o que foi mal feito no planeamento da época, ao menos o reforço do ataque foi feliz: Lima é a figura da temporada, e Ola John, depois do desterro de 3 meses, é cada vez mais uma revelação: tem a velocidade, a técnica e o critério dos melhores colegas, e vai ganhar o lugar. Com o eterno Cardozo, sempre desprezado e sempre extraordinariamente rentável, foi o melhor em campo. Infelizmente, para o Benfica, aconteceu uma hecatombe no Celtic Park, que praticamente desfez as perspectivas de passagem. Mesmo que ganhe ao Celtic, só um milagre na última jornada poderia valer os oitavos.

O Braga esteve a ganhar ao United, em Old Trafford, por 0-2, e, em casa, até 10 minutos do fim. Perdeu os dois jogos com um fado quase perverso. A equipa fez o mais difícil, e teve uma grandeza competitiva total; fraquejou, porém, onde não era previsível, na consistência e na capacidade de sacrifício, a que juntaram erros individuais graves. As 3 derrotas em 4 jogos são penosas, mas têm o dom de deixar um reverso encorajador: o Braga é último, mas o papão já foi, e bater o Cluj e o Galatasaray é coisa que a equipa deve a si própria.

CERTEZAS - Mesmo que longe de estar a fazer um passeio, o United foi o único apurado com um pleno, o que fala pela sua força. Podia ter perdido 3 dos 4 jogos, mas o seu ataque sensacional - bem diz Fergie, quando alude à reedição do "melhor ataque da Europa" de 1998 - tem dado para quase tudo, dentro e fora de portas.

Pese o choque de hoje, o Barça também ganhará o seu grupo com a ligeireza de sempre. Na dupla jornada que acabou, Arsenal e Real foram caçados pela fúria alemã, e é provável que tenham de contentar-se com a prata, mas também não estão em perigo. O Bayern até ruiu com estrondo na ida à Bielorússia, mas a dupla jornada com o Valência vergou as aspirações do BATE. Mesmo sem estar fechado, alemães e espanhóis já não deixarão fugir a passagem. Finalmente o PSG, às costas de Ibracadabra, também tem sabido aproveitar o rebuçado de grupo que teve, e passará aos oitavos com propriedade, podendo, ainda, discutir a liderança do grupo, no último jogo em Paris.

FRACASSOS - O topo do pódio é do City, com todas as honras que se possam associar. Campanha chocante está a fazer a equipa de Mancini. As primeiras duas jornadas deram a entender que Real e Borussia podiam ser melhores, mas os dois jogos com o Ajax foram perturbadores, e deixam o City na situação impensável de nem prosseguir na Liga Europa. Com tão monstruoso investimento, passar duas vergonhas seguidas no palco onde toda a gente quer jogar pode muito bem ser fatal a Mancini.

Se estivesse num grupo ligeiramente mais competitivo, também o Milan já podia estar de malas feitas. Com 1 vitória em 4 jogos, e vulgarizado pelo Málaga, sobrevive à tona do 2º lugar, mas ninguém se surpreenderá caso acabe por cair frente a um dos dois outros errantes do grupo.

Finalmente, no "outro" grupo da morte, parece cada vez mais certo que ou Chelsea ou Juventus irão ser sacrificados pelo Shakthar. O nível de exigência distingue-os dos outros fracassos, e cada um tem pontos para depender de si. Para a Juve, no entanto, o incompreensível empate na Dinamarca, na jornada 3, poderá muito bem ter deitado tudo a perder.

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