sábado, 17 de novembro de 2012

Os tortuosos caminhos do Chelsea de Di Matteo


Ter sido Campeão Europeu com a equipa do ano passado, é uma daquelas coisas que só acontece mesmo uma vez na vida. Debater-se-á para sempre se não foi mais sorte ou mera aleatoriedade do Universo, e quem viu sabe que teve decerto de ambos, mas se há alguma coisa garantida no futebol, é que não há nenhum campeão que não o mereça. Ter-se estreado como treinador principal no navio a afundar que era aquele Chelsea, e ter aguentado ser pior do que quase todos os adversários que apanhou, para, no fim, ganhar a melhor competição de clubes do Mundo, não é coisa que possa ser menosprezada.

Aquela Champions saiu da pele de Di Matteo, e parece justo dizer que provavelmente não teria acontecido sem ele. Sucede que, no futebol, não há passado nem há gratidão. Não pode haver. E, mesmo quem fez a vénia ao treinador italiano, foi forçado a relativizar o seu sucesso. Com tudo a ruir à sua volta, às vezes à parte de qualquer razão, foi ele, de facto, quem encontrou o caminho. Os campeões, porém, não costumam germinar de circunstâncias anormais, antes pelo contrário, e a normalidade está muito longe de ser uma coisa mais fácil. Escolher os jogadores certos, pensar uma equipa, e concretizá-la em campo, subsistir às provações de um ano inteiro e nunca falhar. No caos, quando não há nada a perder e quando não esperam nada de nós, a transcendência propicia-se; a verdade é que as épocas das grandes equipas dependem de condições bem menos líricas - resiliência, pragmatismo, maturidade -, que só se manifestam se houver capacidade genuína.

Di Matteo não ficou porque confiavam nele; ficou por decreto, porque não se despede um Campeão Europeu, seja esse estigma mais ou menos justo para com ele. O conjunto, contudo, respondeu cedo. O Chelsea foi a primeira grande equipa inglesa desta época: 8 vitórias nos primeiros 9 jogos, liderança com uma folga simpática para os rivais, possivelmente o melhor futebol da Premiership. Hazzard chocou de tão bom, Mata explodiu autenticamente no ano de afirmação, o miúdo Óscar revelou-se com sustento, e a defesa sofreu pouco e marcou que se fartou.

Parecia uma paisagem mais do que suficiente para se trabalhar em cima, e arrancar para uma grande época com naturalidade. O Chelsea, porém, pareceu sempre duvidar de si próprio, inexplicavelmente. Mesmo num início tão promissor, perdeu as supertaças, a Europeia sendo triturado pelo Atlético. Depois, e apesar de estar num grupo difícil, não se conseguiu afirmar na Champions. Lidera, mas a qualificação está longe de estar assegurada. Finalmente, é a Liga que está a escorregar por entre os dedos. A equipa não ganha há um mês (2 empates e 2 derrotas), e uma vantagem que chegou a ser de 4 pontos, é hoje um 3º lugar com 4 pontos de atraso.

Continua tudo em aberto, claro, e o Chelsea merece crédito pelo que já jogou este ano. Ao mesmo tempo, é inevitável que exista uma certa nuvem sobre Di Matteo. O plantel curto foi uma péssima ideia (a inexistência de um suplente para Torres é absurda), e ideias como a de hoje, de ir rodar o seu parcimonioso plantel ao estádio de uma das equipas mais fortes da Liga em casa, não ajuda. A capacidade de Di Matteo para pragmatizar a equipa no próximo mês, e garanti-la à altura, perante a consistência dos rivais de Manchester e face à decisão na Champions, determinará, necessariamente, se é ele, ou não, o homem certo para o lugar.

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