sábado, 3 de novembro de 2012

O fim encontra-nos sempre


Gostava de saber como é que alguém de fora, alheio à realidade da Madeira, avaliaria a campanha de Jardim para a reeleição como líder do PSD. Acho que, mesmo para os madeirenses que tentam permanecer sãos perante tudo isto, é provável que a crítica seja sempre redutora, porque já não nos chocamos o suficiente. Devíamos andar incrédulos na rua. Um dia há de se estudar esta campanha, e perceber, primeiro, como foi possível este absurdo de só haver rival ao fim de 38 anos. Depois, como é que, em Democracia, chegamos a este estado doente e pervertido de medo e de vícios, de purgas, de empregos a serem postos em causa e de ajustes de contas, anunciados com o despudor próprio do velho Oeste. Já todos sabíamos que Jardim estava disposto a tudo para dobrar os inimigos. Descobrimos, agora, que está disposto a esmagar o próprio partido se isso lhe garantir uma vitória.

As eleições para a liderança do PSD-Madeira foram uma alucinação ainda mais radical do que tudo o que já tínhamos presenciado: a sua própria existência foi considerada, compulsivamente, como a afronta de todos os tempos, como uma impossibilidade febril que nunca devia ter acontecido, e da qual brotariam todos os males do mundo, como uma caixa de pandora vezes mil, destinada a incendiar as entranhas do paraíso. A lista de Albuquerque foi tratada com o ódio, o desprezo e as ameaças com que não se humilham os piores inimigos. E, ao que consta, isto é uma democracia. O pasquim do Regime, pago por todos os portugueses, à laia de 10 mil euros por dia, coisa que convém ter sempre presente, depois de um legado de propaganda pelo partido, fez a proeza de afundar ainda mais a sua já cadavérica dignidade, e foi o primeiro jornal generalista da História do Mundo a fazer campanha por uma lista partidária. Jardim usou todos os eventos de Governo para fazer campanha, usou até um tempo de antena na televisão regional, e abusou do aparelho de partido, esganando até o apoio oficial da JSD, enquanto ao rival sobrou a boa vontade.

Ganhou com 51%. A mobilização de toda uma cavalaria, rendeu uma vitória por 80 votos, num partido que governa há 40 anos. A leitura foi simples. Jardim disse que quem perdeu com as primeiras eleições democráticas da história do PSD-Madeira foi o próprio partido. Que a estrutura foi sacudida por um bando de traidores e de infiltrados, que devem ser desterrados. Disse que, para ele, 49% é igual a 2%, porque governa quem ganha, e que isto serviu para descobrir o verdadeiro carácter das pessoas, e fazer melhores escolhas para as Autárquicas. E disse que Albuquerque perdeu como um "ridículo", um "escanzelado", e que a derrota é de todos os que o apoiaram, os quais devem aprender alguma coisa. É esta a sua lucidez.

Metade da Madeira não quer o PSD, metade do PSD já não quer Jardim. Acabou. Enquanto tivesse o partido, Jardim tinha a legitimidade. Como o próprio saberá, independentemente do que diga, o exército já não está lá para ele. Hoje, é ele o tumor que precisa de ser arrancado, é ele quem está a mais. Acabou. Daqui para a frente, só há um caminho, e é sempre a perder, até ao fundo. Jardim murchará no que tocar, será como um leproso moribundo, de quem as pessoas vão fugir, porque sabem que o futuro já não mora ali. Já não há sequer escapatória, remédio, uma saída decente. Enquanto balbucia uma guerra que não poderá ganhar, terá de ver os aliados de sempre a afiarem as facas nas suas costas, a tentarem salvar a própria pele, até chegar a hora de sair sozinho, por uma humilhante porta dos fundos. Não interessa a meia dúzia de votos a mais, não interessa o bastião, não interessa se deu para hoje ou se dá para o ano. Acabou.

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