terça-feira, 6 de novembro de 2012

To Rome With Love


Não ser um filme de antologia não deve levá-lo à desconsideração. De facto, a ida do Mestre a Roma não surtiu numa obra-prima, como no ano anterior, mas To Rome with Love continua a ser um filme com cor, retrato, bons traços e boas personagens, e qualquer pessoa que aprecie a filmografia de Allen deverá gostar dele.

Será justo dizer que, depois de Londres, Barcelona e Paris, a viagem de Woody Allen pela Cidade Eterna terá sido o seu filme pior concretizado no périplo europeu. Mesmo assim, continua a não haver ninguém que se lhe possa comparar a filmar lugares. Viajar por Roma com Allen, mesmo num filme que não é pleno, é qualquer coisa de delicioso. A forma como capta a essência dos lugares e as cores, tanto nos planos generosos do que se conhece, como nas esquinas e nos recantos escondidos, é um verdadeiro dom. Allen descobre-lhes a vida, o apelo, o romance, as particularidades e os segredos, e força-nos o desejo de os conhecer.

A narrativa da história é quadripartida, entre um casal da província que acaba de chegar a Roma, um funcionário casual que fica famoso, uma turista que se apaixona por um italiano e um jovem americano a estudar na cidade. Allen tentou contar coisas muito diferentes assentando-as na paleta de Roma, com variadas idiossincrasias, sejam as migrações internas do povo simples do Sul, as cunhas de família e a tradição, os excessos latinos, as raízes comunistas, a ópera, ou as fantasias americanas de ser jovem e viver e apaixonar-se em Roma.

Como não podia deixar de ser com Allen, em quase todos os segmentos há ideias com requinte, mas a concretização manifestamente não funciona. São muitas linhas ao mesmo tempo, ora pouco interessantes, ora exageradas, nem sempre bem conduzidas, e que não se cruzam, fazendo com que, a dada altura, quase não haja coesão na história. O segmento de Roberto Benigni é péssimo, e devia todo ele ter ficado de fora. O casal da província, idem. O da turista e do namorado italiano transforma-se no maior devaneio, e é exagerado, mas salva-se pela personagem de Allen, no seu delicioso regresso ao ecrã, 6 anos depois.

O único segmento verdadeiramente brilhante é o do estudante em Roma. Teria transcendido o filme, se fosse só essa a história. Tem um carisma extraordinário, na ponte com o passado, na poesia de se ser estudante e ir viver (e ter vivido) em Roma, tem fôlego de juventude, romance e toda a sexualidade que Allen gosta de emprestar aos seus personagens. Tem, também, as melhores interpretações: tanto Jesse Eisenberg como Ellen Page são magníficos e roubam o filme, ele ritmado como sempre, ligeiramente psicótico, ela desconcertante, com talento e personalidade. Mereciam claramente mais expressão.

Em suma, To Rome with Love é Woody Allen a discorrer as suas ideias e os seus olhos por Roma, de forma menos concertada do que seria ideal, mas com um galanteio omnipresente que vale o filme.

7/10

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