quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O que ganhámos


A um quarto-de-hora do fim, a minha frustração era que ninguém estivesse a ver. Que ninguém fosse ver, que ninguém ouvisse falar. Estávamos a jogar no mítico St. James Park, estádio de um dos históricos ingleses, com mais propriedade do que se estivéssemos a treinar na nossa própria casa. Confiança, moral, alegria de jogar, de tocar a bola, capacidade para olhar o adversário de frente, ir para cima, tentar a sorte, tentar ser feliz, tentar não ir embora sem deixar no campo, no maior dos palcos, o quanto merecíamos estar ali. Que jogão estava a fazer o Marítimo. Com muito mais posse de bola, muito mais remates, infinitamente mais atitude. 6 milhões de euros para nós, 90 para eles. O Krul, o Coloccini, o Ben Arfa, o Cissé, o Ba do outro lado. Uma brutalidade. E nós a sermos aquilo tudo, e a perdermos pela única infelicidade de ataque deles.

Amanhã teria sido só mais uma derrota. Desta vez, porém, fechámos a cara e fizemos o que tínhamos e o que não tínhamos para este não ser só mais um jogo sem história. Não ganhámos, estamos fora, não vamos abrir telejornais. Mas o golo do Fidélis vai recordar este Marítimo com o respeito que merece, vai emprestar a admiração devida às crónicas, e vai fazer com que aquela gente se lembre que, numa noite fria da Liga Europa, houve uns tipos sem dinheiro mas com um coração do tamanho do mundo, a quem o grande Newcastle não chegou a conseguir ganhar.

Hoje acabou o sonho. 0 vitórias, 2 golos marcados, não há muitos milagres no futebol. Talvez acabemos em último do grupo. De certeza é que valia a pena fazer tudo outra vez. E, com um nó na garganta, enquanto ouvia a nossa gente a gritar Marítimo no silêncio da Premier League, só pensava que quem me dera ter estado hoje no St. James Park, a honrar mais um agigantamento deste tremendo grupo de jogadores. Perdemos a aventura nos resultados, mas ganhámos uma infinidade nos campos. Mostrámos ao Brugges e ao Bordéus e ao Newcastle que, mesmo que o orçamento 10 e 15 vezes inferior não nos faça ganhar no fim, até lá, podemos ganhar seja a quem for. A prova de dignidade e de grandeza não se paga, e é a razão porque, de uma ilha pequenina do Atlântico para o mundo, qualquer um de nós sabe o orgulho que é poder dizer que somos do Marítimo.

Hoje não ganhámos nada, mas, enquanto escrevíamos mais um dos dias para explicar o que é o verde e o vermelho, começámos a ganhar o que pode ser o Marítimo do futuro. Saímos disto melhores, e saímos com a certeza de que é uma obrigação voltar ao lugar onde merecemos estar.

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