Brasil 3-1 Croácia
O Mundial é como um comboio em andamento. Mesmo quem queira
ser sôfrego a respeito, não pode jamais competir com o facto de
qualquer notícia deixar de o ser nem duas horas depois. Será impossível
acompanhá-lo por cá com o detalhe e a abrangência desejadas, sobretudo
em cima do acontecimento, mas tentar é mais do que uma missão, é um
vício. Daí que, antes de seguir ao resto, seja inevitável recuperar o
venturoso jogo de abertura. Acredito que qualquer pessoa minimamente
avisada saberia que, para a sua tão ansiada estreia, o Brasil não se
daria ao luxo de contar com algo como uma guarda de honra. De facto,
apesar do Escrete não morar num grupo proibitivo, e de ser favorito aos 9
pontos, o nível médio da pole não era desprezável e as armadilhas estariam
no caminho como, de resto, a selecção das 'camisolas esquisitas' já se
encarregou e muito bem de provar.
Como escrevi na antevisão, a Croácia era uma das equipas para
quem guardava maiores expectativas neste Campeonato do Mundo.
Tradicionalmente hábeis e cativantes, os croatas chegavam ao Brasil com
uma geração notável, cujos líderes espirituais, Modric e Rakitic, haviam
acabado de guiar as respectivas equipas à glória uefeira. Se a isso
juntarmos um Euro-2012 de água na boca, os ingredientes estavam mais do
que reunidos para cozer um underdog de estimação. Todavia, devo dizer
que os croatas me desiludiram. A equipa de Niko Kovac demonstrou a resiliência que se lhe
reconhecia, sim. Criou muitos problemas ao Brasil e, além de não merecer
a derrota, só perdeu numa aberração arbitral para a qual sinceramente
não há palavras. Ainda assim, os croatas ficaram a milhas do que podem
fazer. Não tiveram à vontade com bola, não souberam ser criativos, nem
tiveram lucidez para explorar os tormentos do Brasil e fazerem valer as
suas maiores armas (bola no chão, posse nos interiores), limitando-se a
ser arrumados e verticais (jogo na ala e cruzamento rasteiro vezes
infinito). Se ia resultando assim, imaginem com ambição e sem a auto-censura no
miolo...
A Canarinha, por seu lado, gastou a primeira vida e mais
vale não contar com muitas mais. O primeiro jogo era positivamente
crucial e salvou-se o imprescindível, o que pode vir a resumir quase
tudo. No entanto, os homens de Scolari não estiveram sequer perto de
convencer. Não houve surpresas no onze e era um dado mais ou menos
adquirido que este seria o Brasil menos fantasista de que há memória, em
benefício do equilíbrio e da força. O que vimos, na verdade, foi uma
equipa sem ideias e sem processo, à qual nem valeu essa ilusão de
pujança, com laterais atados, duplo-pivot de chumbo, Hulk em São Petersburgo e
Fred ainda a orar pela dádiva que é ser titular. A virtude do Brasil
parece ser a reactividade, mas Scolari não poderá ser Campeão do Mundo se não
souber assumir as suas próprias fases no jogo.
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