Nenhuma outra selecção se dará ao luxo de chegar ao Brasil com carinho reunido de tantos quadrantes diferentes. De facto, ao longo dos últimos dois anos, a Bélgica tornou-se num caso bestial de popularidade, alimentado pelo mediatismo da Premier League, onde jogam quase todos e, acima de tudo, pela quantidade pornográfica de diamantes pueris que os belgas reúnem hoje no seu joalheiro. No ano passado já falei disso cá, mas nunca é demais lembrar: Courtois, Kompany, Hazzard, Fellaini, Witsel, Lukaku, uma segunda geração de ouro que parece não ter fim. Ainda no mês passado, por exemplo, foi a pedra da coroa do United, Adnan Januzaj, a escolher a nacionalidade belga, dentre as suas seis possíveis. 12 anos após o seu último Mundial, e depois de cinco grandes competições falhadas, os diabos vermelhos de Marc Wilmots chegam ao Brasil com um capital sequer impensável no pós-África do Sul. A cereja no topo do bolo é um grupo onde são os favoritos. A Bélgica será a menina dos olhos no Brasil... feliz ou infelizmente, o nosso mais provável adversário dos oitavos-de-final.
Se a Bélgica é a segunda equipa de toda a gente, a única que lhe beliscou esse estatuto foi a Colômbia. Às costas de um Tigre, os Cafeteros, que não marcavam presença num Mundial desde 1998, ficaram a uma unha negra de ganharem a zona americana de qualificação. No ano passado, chegaram a estar três colombianos no top-10 de marcadores da UEFA (Radamel, Jackson, Bacca), ao passo que craques como James, então no Porto, ou Cuadrado, na Fiorentina, eclodiam sem margem para dúvidas. A história de como o céu se abateu sobre as suas cabeças toda a gente se lembra: o ano novo foi só um dantesco presente envenenado, soube-mo-lo todos, assim que o melhor #9 do mundo se prostrou sem tornozelo num jogo redundante e esquecido da Taça de França. A ausência de Falcão é, singularmente, a ferida mais funda do Mundial do Brasil e, porque estas coisas são mesmo assim, ceifou meio coração a uma esquadra inteira. Seja como for, os colombianos fizeram por merecer toda a consideração e, num grupo propenso, têm uma história a contar.
Um Mundial sul-americano é, naturalmente, lugar dos nativos. Uruguai e Chile, à parte serem equipas brutalmente carismáticas, serão mais duas a passear alegremente nesse carrossel. Desde logo, têm duas semelhanças fundamentais, que deverão definir, em boa parte, a sua sorte: serão jokers em grupos de nobreza europeia e têm o seu melhor jogador em processo de cicatrização, naquela que parece ser, aliás, uma das imagens de marca da prova. Em 2010, o exército charrua foi a equipa do povo. O Uruguai ficou em 4º, mas levou o coração da gente e Forlán reclamou nada menos do que a Bola de Ouro do torneio. Um ano depois, os homens de Tabárez viriam mesmo a ganhar a Copa América, assumindo o estatuto detido em tempos esquecidos: o de casa mais forte do continente. Hoje, as coisas voltam a ser menos escorreitas, como o provou a duríssima fase de qualificação, mas é hora de uma estrela tanto maior: com toda a raça do Rio da Prata condensada num só corpo, Luisito Suárez, bota de Ouro, chegava ao Brasil como uma das figuras extremas da temporada... até uma operação de última hora ao menisco, que ninguém viu chegar, ter sido o nosso enésimo soco no estômago. Resta esperar, sabendo que, sob o misticismo do Maracanazo, a história do regresso do Uruguai ao Brasil estará directamente ligada à sua. Seja como for, aposto tanto num como noutro para seguirem em frente nos seus grupos, na vez de ingleses e holandeses, respectivamente. O Chile, até ver, também não foi feliz, com o traumatismo de Arturo Vidal, mas com uma alma da altura dos Andes, mais Alexis Sanchéz e uns bons amigos, pode-se muito.
Finalmente, também creio que o Brasil será um lugar ao sol para a ex-Jugoslávia, justamente a pátria tantas vezes apelidada de Canarinha da Europa. Acima de tudo, na companhia de bailado que é a Croácia, senhora de um meio-campo de cristal que tem tudo para forjar memória em terras de Vera Cruz. Modric e Rakitic, um par de génios, guiaram as respectivas equipas às conquistas europeias da época e fundem-se agora para trazer justiça à campanha de 2012, onde os croatas sucumbiram dramaticamente num grupo com campeão e vice-campeão europeu. Desta vez, estarão de caras na fase a eliminar e daí é o que vier. A Bósnia é outra que já merecia. Depois de, nos últimos quatro anos, lhes termos servido de bestas negras no play-off, Dzeko e companhia reservaram-se ao direito de apurar de vez o seu crescimento. Ganharam, na negra, o bilhete directo à muito mais experimentada Grécia de Fernando Santos e o karma premiou-os com um grupo, a todos os títulos, acessível. Ao Diamante de Sarajevo, junta-se uma respeitável elite com Pjanic e Ibisevic à cabeça, que há muito batalhava por esta oportunidade. Absolutamente a ter em conta.
Para revisão de matéria dada, e antes da auto-avaliação nacional, fica aqui o quadro de apostas.
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