segunda-feira, 16 de junho de 2014

Copa, dia 4: os suíços chegam sempre a horas


Suíça 2-1 Equador

Para não destoar da média, mais um grande jogo este Suíça-Equador. Final dramático para os sul-americanos, que foram muito melhores do que estava a contar e mereceram o empate, mas vitória do mais forte. O país dos relógios resolveu no último minuto e já tem um pé nos oitavos-de-final.

O Equador é um caso de estudo porque nunca se tem a certeza do que esperar quando a equipa é retirada ao seu habitat que, como se sabe, é muito particular: os jogos em casa na zona de qualificação sul-americana são jogados a quase 3000 metros de altitude, o que é uma espécie de pesadelo a cores para os adversários e que, grosso modo, proporciona aos visitados um registo quase imaculado de vitórias que os coloca, de resto, no terceiro dos últimos quatro mundiais. Depois de ter sido sensação em 2006, o Equador falhou a ida à Alemanha e, oito anos depois, parecia chegar ao Brasil com uma selecção, a olho nu, razoavelmente desinteressante, da qual haveria pouco a esperar. Nada mais errado. É facto que o desfecho fatídico do jogo de hoje pode bem ter traçado a sua sorte na competição, mas os tricolores deixaram uma bela imagem e ainda podem ter uma palavra a dizer. Sendo talvez a selecção sul-americana mais atlética, o Equador sabe temperar o seu futebol e tem lucidez no último terço. A força, a velocidade e a verticalidade são o estilo, mas os homens de Reinaldo Rueda não são unidimensionais. Estiveram a ganhar e discutiram o jogo até ao fim, sempre com a mentalidade certa. A jogada do 2-1 é a súmula perfeita de como o jogo podiam ter caído para qualquer lado da rede.

Passando largamente despercebida, a Suíça tem potencial para ser uma das grandes sensações do Brasil 2014. Muito bem armada pelo histórico Ottmar der General Hitzfeld num elegante 4-2-3-1, os suíços têm boas soluções para todos os lugares do campo, ponteadas no talento cativante da sua nova geração. São uma equipa limpa a jogar, muito pendular, sem nunca ser entediante. O coração é made in Nápoles, onde o capitão Inler define todos os ritmos, bem auxiliado pela potência de Behrami. À sua frente, um meio-campo ofensivo que gosta de jogar por dentro, encabeçado pela pequena brutalidade de Xerdan Shaquiri. Isto possibilita que os laterais se discorram pelo corredor inteiro e a Suíça tem um dos melhores pares do torneio: Lichsteiner e Ricardo Rodríguez. Uma equipa assumidamente agradável, a seguir. Os suíços não estariam à espera do soco no estômago que foi o 1-0, num erro terrível de marcação, mas nunca perderam a personalidade e a compostura. Hitzfeld também agiu com prontidão e acerto (golos de ambos os suplentes, empate a abrir a segunda-parte) e, tudo somado, sustentou o golpe de fortuna final. Diria que é quase impossível que a Suíça não esteja na fase seguinte e mais vale contarem com uma candidatura à vitória no grupo.

SUÍÇA -  Praticamente já os enunciei. O jogador-chave foi Gokhan Inler. O capitão é um daqueles futebolistas de fina casta, cuja autoridade se vê ao longe. Idealiza o jogo da equipa, é o primeiro a construir desde trás e não se coíbe de subir sempre que o entende. Muita classe. Na lateral-esquerda, ficou denunciado que este será o Mundial de Ricardo Rodríguez. O descendente de hispânicos fez uma época bestial na Bundesliga - 5 golos, 9 assistências no Wolfsburgo - e apresentou-se hoje ao serviço com mais dois tentos oferecidos. Sairá do Brasil para um grande plantel europeu. Shaquiri também sairá do Bayern neste Verão e abriu o leilão como devia. É o ás da equipa e aquela canhota tem uma história a contar neste campeonato do Mundo. Finalmente, muito bom jogo de Behrami, um box-to-box não raras vezes impressionante e literal. A jogada do 2-1 é avassaladora.

EQUADOR - Jefferson Montero, na extrema-esquerda, é o arquétipo das virtudes da equipa: grande passada, grande disponibilidade e um acabamento criativo. Foi o mais perigoso. Enner Valencia, o shadow striker, tem pouco de sombra. Um passo atrás de Caicedo, está sempre à procura da bola e de poder encarar os defesas. Na lateral canhota, o veterano e capitão Walter Ayoví ainda dá cartas.

Sem comentários: