terça-feira, 27 de março de 2012

Perder para este Chelsea


 É ingrato.

A equipa de Di Matteo é um organismo em pura sobrevivência. Banal e incapaz de mandar no jogo, o Chelsea sujeita-se ao que o adversário for capaz de fazer, e limita-se ao instinto dos seus contra-ataques. Há 2 meses, não acredito que tivesse passado na Luz. Hoje, contudo, não chegou ao Benfica ser melhor. A equipa já andou a jogar, a palmos largos, o melhor futebol do país, mas, entretanto, perdeu o glamour, e perdeu, sobretudo, a confiança na superioridade e na classe do seu jogo. O futebol-carrossel já não mora na Luz, e o onze de Jesus opta, cada vez mais, por fazer as coisas em velocidade, força e individualidade. Podia perfeitamente ter dado, tal é a banalidade do Chelsea, mas a falta de lucidez tornaria sempre o Benfica vulnerável ao veneno do jogo adversário.

Mesmo apesar do resultado ser mau, acho que a eliminatória está muito longe de fechada. Não sei se está ao alcance do Benfica do último mês, mas o que a equipa já jogou este ano prova que ir a Stamford Bridge marcar 2 golos é perfeitamente possível. A chave é reencontrar o seu estilo.


PS1 - Às vezes mina a fluidez da própria equipa, mas Gaitán tem o toque de bola dos predestinados. Se tivesse um Maxi nas costas, em fez de um calhau, seria ainda melhor. Na 2ª mão, o Benfica precisa de mais gente a tratar a bola como ele: Capdevilla, Nolito, Saviola, e um Aimar inspirado.

PS2 - Já era fantástico no Benfica mas, nos dias que correm, Ramires é um dos melhores médios do mundo. Sinceramente, não me lembro de mais ninguém com tamanha capacidade para esticar o jogo, tão rápido e com tanto critério. Verdadeiramente impressionante.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Nenhum grande campeão, e um grande fora do pódio


Se acabasse agora, era assim. E se acabasse assim, era bonito.

Pelo meu Marítimo, a caminho da melhor época de sempre, mas também por este Braga extraordinário, que é um exemplo para todos.

Haja História. 

terça-feira, 20 de março de 2012

3 anos a não liderar bem

Marca bonita celebra o estaminé amanhã. 

Criei-o numa já tão distante noite de caloiro, num daqueles acessos de inspiração pela madrugada que encheram tantas noites das Águas Férreas. Nunca pensei se ia sobreviver ou não, mas fez mesmo a Faculdade comigo, e cá está ele. Segundo o blogger, até hoje com 21 mil visualizações de páginas. Parabéns miúdo!

FM 2012, Napoli


4 épocas com o Nápoles. Campeão Europeu, Tricampeão italiano, 2 Taças e 3 Supertaças. 576 golos marcados! Na 3ª época, recorde de pontos da Série A - 101 -, e 2º melhor registo de golos: 120. O Cavani a marcar 64 golos oficiais num único ano. Acima, a equipa-tipo que valeu a Liga dos Campeões na 4ª época.

O FM envolve muito mais variáveis do que as que poderia quantificar. Será, acima de tudo, um jogo de leitura, paciência e agilidade mental. Não escolho tubarões europeus por questão de princípio. Ceifa-lhe a magia, e, se calhar acima de tudo, porque serei inveteradamente pelos underdogs. Nunca tinha ganho uma competição europeia. Desta vez, o save é para emoldurar.

"Desde a primeira jornada, o Sporting tem sido sistematicamente prejudicado"


Se o Sporting acredita mesmo nisso, então que se prepare para uns bons anos fora do pódio. 


P.S. - Estou longe de ser um fã de António Fiúza, com os últimos episódios na Liga à cabeça. De qualquer maneira, as declarações de ontem foram impagáveis: “Há jogadores no Sporting que não trocava pelos do Gil Vicente. O que o Elias custou, por exemplo, dava para pagar três orçamentos do nosso clube. O Sporting tem feito exibições deploráveis no campeonato, e devia olhar para si próprio."

segunda-feira, 19 de março de 2012

"Esqueçam, não vamos ganhar a Liga"


Guardiola irrita-me.

Sempre tive mais consideração por excesso de auto-estima do que por falsa modéstia, e a aura de homem-modelo beatificável de Guardiola tira-me do sério: é condescendência mascarada de respeito, choradinho disfarçado de palmatória, e cinismo a fazer de humildade, mas tudo olhado com um encanto celestial por uma imprensa e uma opinião pública que lhe são completamente devotas. Dá-me uma volta ao estômago ouvi-lo desfazer-se em elogios bacocos aos adversários, dizer que nunca fala de arbitragem mas, qual santinho humanizado, mandar o bitaite quando lhe convém, e o pior de tudo, esta última moda de dizer todas as semanas que acabou a Liga Espanhola para o Barça.

Admito que esta baboseirada é uma boa forma de chegar à cabeça do rival, mas não a suporto, nem consigo respeitá-la minimamente. Se Mourinho agride o Barça, cai o carmo e a trindade, e merece ser irradiado do futebol; se Guardiola se põe com estas paneleirices, é a consciência e a humildade de um grande senhor. Não tenho paciência, e mais, acho deplorável que alguém que é tricampeão espanhol, bicampeão europeu e mundial, e que tem em mãos uma das melhores equipas da História, não tenha pejo nenhum em ter um discurso de bebés como este.

No fim, Mourinho fará questão de dar razão a Guardiola. Até lá, e mesmo sendo desnecessário dramatizar os 2 pontos perdidos ontem, o que importa é que o Real tenha consciência de que o mais provável é que este Barcelona não volte a falhar. O resto é palhaçada.

domingo, 18 de março de 2012

Life's Too Short


Mais um perfeito mimo, fruto do génio de Ricky Gervais, coadjuvado por Stephen Merchant, parceiro criativo de longa data.

Life's Too Short é a história de um actor anão - Warwick Davis, a fazer de si próprio! -, que é profundamente falhado a nível pessoal e profissional, mas que tem um ego do tamanho do universo. A primeira temporada (7 episódios) é deliciosa. Predispõe-se a desmistificar os preconceitos em relações aos anões, só para ser provocadora, e fazer anedota dos piores mitos em relações a eles. É mundana, e goza com as limitações de tamanho, as quedas, as desconsiderações, etc, mas não se pense que não é de um extremo requinte: a forma é só um pormenor, porque o insulto da série não tem a ver com anões, mas com os egos desmesurados e a falta de noção de si próprio.

Warwick Davis, que também contribuiu para a criação da série, é absolutamente impagável. A capacidade para rir de si mesmo e para massacrar o seu próprio estereótipo é sensacional e, com a dureza com que o faz, verdadeiramente incomum. Ao caricaturar-se na sua própria pele, a de um actor que nunca teve um grande papel, produz um resultado tanto mais curioso: inventa a melhor performance da carreira. Fantástico. Além de Gervais e Merchant, que surgem sempre no registo jocoso de super-estrelas para quem o anão é um fardo, Rosamund Hanson (a assistente) e, especialmente, Steve Brody (o contabilista) são óptimos secundários.

Life's Too Short é humor do mais alto quilate.

terça-feira, 13 de março de 2012

"Não acredito que os clubes, por não descerem, vão deixar de lutar"


É surpreendente que Mário Figueiredo também não tenha proposto uma Liga de 40 equipas, sob o lema "Há mama para todos". Éramos tão mais felizes assim, e, de caminho, aproveitávamos para inventar um jogo novo, já que, como é bom de ver, a competitividade e a excelência são necessariamente um cancro neste país de putas e vinho verde.

Ponto prévio: continuo a acreditar que a aberração que o Presidente da Liga defendeu ontem não será concretizada, seja por pressão da opinião pública, seja pelo veto da Federação, ou da FIFA. No entanto, o mero acto de pô-la em cima da mesa é absolutamente assustador.

Aquando da sua eleição, escrevi aqui que Mário Figueiredo, o primeiro Presidente da Liga a ser eleito sem o apoio de nenhum dos grandes, tinha tudo para ser uma lufada de ar fresco no futebol português. Arrependo-me amargamente de cada palavra desse texto. Figueiredo ganhou sem os grandes, de facto, mas agora mostra como. Agora é a hora dos pequenos caciques lhe cobrarem os favores, e ele, feito palhaço, lá veio defender apaixonadamente que um campeonato onde não desce ninguém é um verdadeiro oásis de competitividade. Afinal de contas, não há almoços de graça.

A nova direcção da Liga podia ter servido para combater a ditadura dos grandes, e fazer do futebol português muito maior do que tem sido. Afinal, envergonhou-nos a todos, abrindo a caixa de Pandora da típica podridão nacional, e fez da Liga o derradeiro circo. O futebolzinho português é isto. Nunca vai mudar, e ninguém merece melhor.

domingo, 11 de março de 2012

quinta-feira, 8 de março de 2012

2012: Os 10 filmes mais esperados

Na sua própria lista de 50 títulos, o Metacritic considerou que 2012 apresenta o melhor catálogo de filmes em mais de uma década. Certo é que, com mais ou menos optimismo, há toda uma lista de coisas a deixar água na boca.


1. The Hobbit: An Unexpected Journey (Dezembro), Peter Jackson

As expectativas são indescritíveis, e o trailer já escancarou o apetite. Até custa a crer que passaram 9 anos, e que o mago Peter Jackson vai mesmo materializar um filme que pareceu tantas vezes não ir existir. An Unexpected Journey é a primeira parte da adaptação de The Hobbit, que já tive a oportunidade de ler, uma prequela a O Senhor dos Anéis. É indispensável ter consciência da dificuldade que será estar ao nível de uma obra-prima, além de que Hobbit é uma obra mais ligeira, mas estão quase todos de volta, há uns quantos novos dignos de registo, e está, sobretudo, Peter Jackson na cadeira que lhe pertence. O apelo é irreprimível.


2. The Dark Knight Rises (Julho), Christopher Nolan

Se Peter Jackson tem legado, Chris Nolan está lá bem perto em devoção: 4 anos depois do melhor filme de super-heróis de todos os tempos, o mais genial realizador da actualidade prepara-se para fechar a trilogia do seu Batman. Com o que está para trás, também aqui é tão difícil estar à altura como moderar as expectativas, mas se Hobbit é um "renascimento", Dark Knight Rises tem a grandiosidade de um último capítulo, e acredito piamente que Nolan não vá desiludir. A acção ocorre 8 anos depois dos eventos de Dark Knight, e a grande aquisição do elenco é o irascível Tom Hardy, na pele de Bane, que tentará destronar a performance oscarizada de Heath Ledger, como Joker.


3. Django Unchained (Dezembro), Quentin Tarantino

Um filme de Tarantino seria sempre razão mais do que suficiente para justificar o entusiasmo, quanto mais o seu regresso ao fim de três anos, e com Di Caprio como trunfo. Django Unchained é um Western sobre um escravo liberto que se tornou no braço direito de um caçador de recompensas, e conta a sua caminhada para resgatar a mulher das garras de um brutal fazendeiro esclavagista. Haja espectáculo, num elenco onde ainda pontificam Jamie Foxx e Christopher Waltz.


4. World War Z (Dezembro), Marc Forster

E agora algo razoavelmente surpreendente: o filme de zombies do ano será protagonizado por... Brad Pitt! Ache-se o que se quiser, mas se Pitt está no barco, o melhor é confiar. A história baseia-se num livro de Max Brooks (2006), que, em vez de uma narrativa tradicional, compôs a sua obra pós-apocalíptica como se de uma reunião de testemunhos se tratasse. É um compacto de entrevistas às mais diversas pessoas que, ao longo de uma década, teriam vivido a guerra frente aos zombies e, aquando da publicação, a crítica chegou a considerar que a obra reinventava o género. Matthew Carnahan, que fez um grande trabalho em State of Play, vai adaptar o argumento, e a excelente Mireille Enos (The Killing), será o par de Pitt. Muita curiosidade.


5. Lincoln (Dezembro), Spielberg

A última década não tem sido meiga para Spielberg: um único grande filme - Munich -, e já lá vão 7 anos. Lincoln surge, ainda para mais, na ressaca de um ano miserável (War Horse e Tintin...), pelo que as expectativas são mais moderadas do que seria suposto. De qualquer maneira, as condições para o regresso aos grandes filmes não poderiam ser melhores: a história é a de um presidente-ícone, o argumento é de John Logan (Gladiator, The Last Samurai e, no ano passado, Hugo), e o protagonista é nada menos do que Daniel Day-Lewis (2 Óscares), que regressa após 3 anos. O filme, que se centrará nos últimos 4 meses da vida de Lincoln, conta ainda com Tommy Lee Jones e Joseph Gordon-Levitt.


6. Brave (Junho), Mark Andrews & Brenda Chapman (Pixar)

Depois de dois anos pobres a nível de Animação, a Pixar volta finalmente aos originais, e Brave será a sua única não-sequela no espaço de 5 anos (2009-2014). A história é a de uma jovem princesa escocesa do século X, determinada a fazer o seu próprio caminho, e que, para tal, vai desafiar as tradições de todo um reino. Será a primeira vez que a Pixar tem uma protagonista feminina, e da Pixar espera-se sempre o melhor.


7. 007 Skyfall (Novembro), Sam Mendes

Há 6 anos, Casino Royale marcou uma autêntica revolução na percepção dos filmes Bond, por ter consumado a espantosa transição entre a acção-espectáculo, tão enraizada, e um verdadeiro argumento. Toda a gente passou a levar os 007 a sério e, apesar de Quantum of Solace ter desiludido, parecem reunidas as condições para a saga voltar a deslumbrar: a realização ficou a cargo de Sam Mendes (American Beauty!), e o argumento será da co-autoria do já aqui referido John Logan, que, este ano, também assina Lincoln. Javier Bardem, como vilão, é a cereja no topo do bolo.


8. Nero Fiddled (Junho), Woody Allen

Depois de um ano extraordinário, que lhe valeu o filme mais rentável da carreira e o seu 4º Óscar, o mestre Woody Allen continua o seu périplo pela Europa e, desta vez, assenta malas e bagagens em Roma. Nero Fiddled é mais uma comédia romântica, com o destaque de marcar o seu regresso à interpretação, ao fim de 6 anos. A acompanhá-lo, estão as magníficas Penélope Cruz e Ellen Page, e ainda Jesse Eisenberg e Alec Baldwin. O filme sai a abrir o Verão, como no ano passado, e é imperdível, como sempre.


9. Argo (Setembro), Ben Affleck

No ano em que chega aos 40, o antigo menino bonito de Hollywood apresenta a sua terceira realização, depois dos bem sucedidos Gone Baby Gone e The Town. Desta vez não assina o argumento (lembre-se o magnífico Good Will Hunting, que lhe valeu o Óscar), mas o trabalho de Affleck merece ser olhado cada vez mais com olhos de ver, e Argo é promissor. O filme baseia-se no resgate verídico de 6 diplomatas americanos de Teerão, na sequência da Revolução Islâmica de 1979 e, ao lado de Affleck no grande ecrã, estarão nomes notáveis como Bryan Cranston e Alan Arkin.


10. The Great Gatsby (Dezembro), Baz Luhrmann

É a adaptação do histórico livro homónimo de Scott Fitzgerald (1925), considerado uma das obras literárias de referência do século XX, que retrata, com um olhar trágico, o sonho americano dos Loucos Anos 20. O australiano Baz Luhrmann (criador de Moulin Rouge) realiza e adapta o argumento, mas é no cast que está o deslumbre: Di Caprio protagoniza, naquela que parece ser, claramente, a sua grande aposta para os Óscares, e é acompanhado pela brilhante Carey Mulligan. Como secundários, os nomes consistentes de Tobey Maguire e Joel Edgerton.


Merecem referência:
The Master, Paul Thomas Anderson. O realizador-argumentista californiano foi 5 vezes nomeado para os Óscares, e é notícia de cada vez que volta ao trabalho. Depois de 5 anos parado, regressa com a história de um veterano da 2ª Guerra Mundial que, na ressaca do conflito, cria uma Religião. O filme, protagonizado pelo fantástico Philip Seymour Hoffman, promete polémica, por estar a ser associado às origens da Cientologia.

Untitled Malick Project, Terrence Malick. Sabe-se muito pouco a respeito do filme, nem sequer se vai mesmo existir em 2012, dado o facto de Malick nunca realizar em dois anos seguidos. De qualquer maneira, depois de Tree of Life, vale a pena esperar por este romance dramático, encabeçado pelos excelentes Javier Bardem e Jessica Chastain.

Untitled Osama bin Laden Film (Dezembro), Kathryn Bigelow.
4 anos e 1 Óscar depois, Bigelow regressa no mesmo tom, para filmar o clima de guerra como já provou ser capaz. O que é verdadeiramente curioso a respeito deste filme sobre a captura e morte de Bin Laden é que estava previsto e escrito... ainda antes destas terem acontecido. Os episódios do ano passado obrigaram a uma revisão total do guião, para colá-lo, então, à realidade. No elenco, Jessica Chastain, Joel Edgerton e Mark Strong.

Les Misérables (Dezembro), Tom Hooper. De caras para os Óscares, e realizado por Tom Hooper, que venceu no ano passado, pelo trabalho brilhante em The King's Speech. A base é, obviamente, a histórica obra de Victor Hugo sobre um ex-condenado que chega a mayor, em França, que é considerada uma das mais importantes do século XIX. Hugh Jackman e Russel Crowe são as estrelas, num filme que, pessoalmente, só tem um grande senão: é um musical.

The Gangster Squad (Outubro), Ruben Fleischer. É uma crónica da luta da LAPD para manter a Máfia fora da Los Angeles, na década de 40. Será o filme mais "normal" da lista, mas o destaque está todo no elenco: é o único filme de Sean Penn previsto para 2012, e conta ainda com Ryan Gosling, Nick Nolte e Emma Stone, todos a virem de um ano magnífico.

A ver se em 2013 as expectativas se confirmaram.

terça-feira, 6 de março de 2012

O calcanhar de Witsel


Um monumento a forma como inventou o caminho para os quartos-de-final.

Na conjuntura da equipa, o apuramento tem uma importância indizível. Como bem lembrou Jesus, o Benfica chega aos quartos-de-final da Liga dos Campeões pela 2ª vez em 20 anos, o que diz muito sobre o mérito do seu trabalho, e prova, se calhar mais importante, que haverá mesmo campeonato até ao fim.

Boa notícia para o futebol português, sob todos os prismas.

segunda-feira, 5 de março de 2012

"Não preciso do apoio dos jogadores"


O Chelsea não é um clube confortável nem tem um balneário fácil, toda a gente sabia disso à partida, Villas-Boas incluído. A história do "projecto de três anos" era muito bonita, mas ninguém podia crer que sobrevivesse a uma época tão má, muito menos no Chelsea. Ao mesmo tempo, não podemos querer fazer de Stamford Bridge uma casa dos horrores: Ancelotti foi campeão há dois anos, e o plantel não é propriamente de pobres. Era preciso fazer uma transição, mas não é normal, nem nunca será aceitável que, em Março, o Chelsea esteja em 5º, a 20 pontos do líder!, e com pé e meio fora da Champions, prestes a ser eliminado pelo Nápoles.

Villas-Boas podia não ganhar nada, mas tinha de lutar por alguma coisa. Isso era, quanto muito, o que faria dele o "treinador para o futuro". O que mostrou não chega. E a culpa não é de Abramovich, como toda a gente gosta tanto de dizer, nem de um balneário minado, nem de um clube onde é muito difícil trabalhar: a culpa foi dele.

O grande erro, está claro, foi a gestão de balneário. Até Mourinho se queimou com um balneário do Chelsea, mas Villas-Boas geriu este como se fosse uma criança de 5 anos. Acho piada dizer-se que o problema foram as vacas sagradas, Terry-Lampard-Drogba: mas algum dia ter um deles pode ser encarado como um problema? O problema foi Villas-Boas mentalizar-se que a única forma de fazer uma transição era dar um corte a direito. Achou que podia ganhar no campo sem ter balneário, e a ostracizar jogadores que, além de ainda serem mais-valias, personificaram o clube na última década. As declarações sobre só interessar o apoio do presidente foram pavorosas, e dizem tudo. Estava à espera de quê? O resultado óbvio foi ver quer a performance quer o balneário a desfazerem-se como um castelo de cartas.

Villas-Boas constatou, da pior maneira, que no relvado só se joga uma parte do sucesso, e que nem todos os clubes gozam da estrutura que o Porto oferece. No entanto, como bem lembrou Ferguson, isto não apaga tudo o que de bom foi feito no ano passado. Villas-Boas já provou o que pode fazer, e acredito que começará a próxima época no banco de uma boa equipa europeia. Crucial é que tenha aprendido alguma coisa, sobretudo se Milão for a próxima paragem.

The Girl with the Dragon Tattoo


Grande injustiça terem ficado tanto o filme como Fincher à porta dos Óscares.

The Girl with the Dragon Tattoo é um dos filmes mais distintos de 2011. A história é a de um jornalista de investigação (Mikael Blomkvist, por Daniel Craig) que é contratado por um velho bilionário para investigar o homicídio de uma sobrinha sua, num caso com mais de 40 anos. Para o efeito, esse irá recorrer aos préstimos de uma detective peculiar (Lisbeth Salander, por Rooney Mara), uma jovem brilhante, mas socialmente inapta, e com um passado problemático.

O filme é absolutamente cativante, e o seu estilo gore choca-nos tanto quanto nos agarra ao ecrã. É negro, na essência e no ambiente (para o que contribuem os cenários escuros e gelados da Suécia), tem misticismo (os detalhes da história envolvem a Bíblia), carisma, nervos, violência, sexo, enfim, é surpreendente, agressivo, e vai aos limites para nos provocar.

Em paralelo com a investigação, cruzam-se as histórias dos protagonistas, como um peso evidente para a personagem de Rooney Mara, que rouba o desfecho do filme. Grande adaptação de Steve Zaillian (que esteve em altíssimo nível este ano, assinando, igualmente, Moneyball), à trilogia do sueco Stieg Larsson. Só fica a faltar um fim melhor ponteado, que não quisesse arrebanhar tantas coisas, como, por exemplo, querer fechar a história de Daniel Craig, que abre o filme.

Depois do filme bacoco que fez no ano passado - The Social Network -, o grande David Fincher está de volta. The Girl with the Dragon Tattoo é um espectáculo visual permanente, filmado com a tensão e o negrume que lhe são tão característicos. É tudo tão pesado quanto poderoso, sempre com requinte, e tem o dom de deixar-nos pregados ao ecrã durante umas pouco comuns 2h40. Mantenho uma relação de amor-ódio com Fincher (Se7en, Benjamin Button, The Game vs. Fight Club, The Social Network, Zodiac), mas quando acerta, acerta em grande. É bom tê-lo de volta ao que faz melhor.

Daniel Craig equilibra o filme, mas o ás de trunfo é, obviamente, a performance extraordinária de Rooney Mara. A nova-iorquina leva tudo à frente no primeiro grande papel da carreira: é poderosa, imprevisível e, às vezes, até arrepiante, fazendo-nos entranhar toda a sua estranheza. Brilhante.

Steve Zaillian e David Fincher já se comprometeram para o resto da trilogia Millennium, como é conhecida, e o próximo filme - The Girl Who Played with Fire -, está previsto para o Inverno de 2013, apesar da falta de unanimidade sobre o primeiro filme, nas críticas e nas bilheteiras, ter levantado algumas dúvidas sobre a sequela.

The Girl with the Dragon Tattoo não é só um filme bom a todos os níveis: o negrume, a violência e a intensidade fazem dele, indubitavelmente, um dos maiores filmes do ano.

8/10

The Adventures of Tintin


Paupérrimo.

Nunca li Tintin, mas esperava uma história de aventuras pura, cativante e criativa. O resultado, contudo, é deprimente. A estreia de Spielberg na Animação rendeu uma amálgama largamente exagerada de efeitos especiais sem sentido nenhum e, pior do que tudo, uma história de uma banalidade constrangedora, alicerçada em protagonistas que são muito mais MacGyvers ilógicos, do que personagens humanizadas (para nem falar nos super-animais). Aliás, o filme não tem contacto nenhum nem com a lógica nem com a realidade. É uma história de impossibilidades e exageros, que usa um suposto grande mistério do passado para tentar ser muito melhor do que é, e que não tem, durante a 1h40 de duração, traço nenhum de empatia. A juntar a isso, os bonecos são todos pobres, com destaque para o protagonista, que não tem um rigoroso pingo de alma.

Com War Horse, foi um ano absolutamente desolador para Spielberg, que não realizava há 3 anos, e que, saliente-se, não faz um filme bom desde 2005 (Munich), e um muito bom há uma década (Catch Me If You Can, 2002). Para a próxima temporada, as fichas estarão todas em Lincoln, mas não está fácil manter as expectativas altas.

Em suma, Tintin é um filme de densidade zero, que só se evidencia pelo espectáculo visual inerente a ser um produto caro. Ficou, e com toda a justiça, fora dos Óscares, depois de, sabe-se lá como, ter ganho o Globo de Ouro. Mau demais.

4/10

domingo, 4 de março de 2012

There goes United


A saída de Capello torna impossível que se perspective alguma coisa para a Inglaterra no Euro, mas facto é que há muita gente nova e em forma, e os ingleses podem ser uma das grandes surpresas da competição. Hoje foi Ashley Young a resolver o jogo para o United, de forma monumental. A sua explosão só chegou a um grande aos 26 anos, mas, mesmo sem ser ainda um indiscutível, percebe-se que as muitas expectativas à sua volta não foram goradas: Young tem aparecido nos momentos decisivos (bis ao Arsenal, bis ao Tottenham, golo ao Ajax), e com golos espectaculares como o de hoje.

Depois do tormentoso fim de ano, o United continua a responder como o campeão que é à escalada do City. Nos últimos 7 jogos, 6 vitórias e 1 empate em Stamford Bridge (3-3, depois de estar a perder por 0-3!). Hoje o Tottenham fartou-se de jogar, foi muito melhor equipa até ao 0-2... mas o United é que se fartou de marcar, com uma maioridade assassina. Desde o início do ano, a equipa de Ferguson jogou com 5 dos 7 primeiros, e completa agora esse ciclo com uma auto-confiança fantástica, e a apenas 2 pontos de distância para os homens de Mancini. Até pode perder o título, mas o velho Fergie venderá muito cara a derrota.

O título a três


- Lima é o melhor ponta-de-lança da Liga neste momento. Quer em profundidade, quer no último toque, é, hoje, um jogador avassalador, capaz de finalizar de qualquer maneira, em qualquer zona da área (até fora dela). Depois de ter desiludido na época passada, Leonardo Jardim descobriu, finalmente, até onde pode ir o poço de força que deslumbrou no Belém. Vai com 21 golos este ano, e a este ritmo ameaça a barreira dos 30.

- Vitória à "campeão" do Braga. O Nacional marcou primeiro, foi muito melhor na primeira-parte, mas, tal como tinha feito nos Barreiros, a equipa virou o jogo com uma naturalidade impressionante, quase como se ter estado na mó de baixo fosse um mero pormenor do guião do jogo. Nuno André Coelho e, sobretudo, Elderson são jogadores de menos para este Braga, mas o critério na construção ofensiva, e a inteligência de quem tem do miolo para a frente, torna todos os jogos um pouco mais fáceis. O recorde de vitórias seguidas continua a crescer, e não é crível que a equipa deixe de ganhar os três jogos que faltam até à ida à Luz.

- Candeias merecia melhor do que o Nacional.


P.S. - Logo depois, o Sporting foi perder a casa do antepenúltimo. Duas notas: a primeira para sublinhar que, mesmo com todos os defeitos e limitações que tem, José Mota é treinador de primeira divisão; a segunda para notar a pobreza de mais um penalty anedótico oferecido ao Sporting.

sábado, 3 de março de 2012

Mais um mergulho na reality tv americana: The Amazing Race!


Não era preciso ter visto mais um para ter a certeza de que nunca existiu um reality show em Portugal.

The Amazing Race é mais uma coisinha extraordinariamente viciante. Que não é de agora, note-se, começou em 2001, e a season 20 teve o pontapé de saída há duas semanas. Aproveitei o balanço e vi a temporada 19 (12 episódios). É tão dinâmico, criativo e apelativo que até parece que inventar aquilo era fácil. A série consiste em 10 pares que têm de correr autenticamente o mundo a cumprir diversas missões. Todos os pormenores contam: apanhar o avião certo, saber gerir o dinheiro, ter sentido de orientação, ter atenção aos pormenores, manter a cabeça fria, e nunca, mas nunca, desistir. O último par a chegar em cada etapa é geralmente eliminado, até atingirmos uma final a três, onde o primeiro ganha 1 milhão de dólares. Só para se ter uma ideia, a season 19 passou em 5 continentes, 10 países e 20 cidades. Phil Keoghan é um host com imponência, ainda que não tenha a preponderância nem o carisma de Jeff Probst (Survivor).

O percurso e as missões são uma pequena aula que podia ser patrocinada pela National Geographic. Apresentam-nos os sítios imperdíveis de cada cidade visitada, que são geralmente check-points, e introduzem-nos às principais tradições e hábitos dos povos em questão, que são replicados pelos concorrentes nas respectivas missões (fazer manteiga na Holanda, semear arroz na Indonésia ou carregar tabaco no Malawi, por exemplo). Nós vamos conhecer o mundo com eles, o que é obviamente sedutor.

É um jogo bem menos complexo psicológica e emocionalmente do que o mítico Survivor, mas é muito superior a nível visual, espacial, de dinâmica e de adrenalina. Afinal de contas, corre-se o mundo, e ganha quem cometer menos erros de juízo. A composição dos pares é curiosa. Estes podem ser casais, familiares ou simples amigos e, apesar da elevada componente física, não ganha necessariamente o mais forte. É um jogo de inteligência, agilidade, atenção aos pormenores, e, especialmente, de capacidade de comunicação e química entre os elementos.

A título de curiosidade, as temporadas 3 e 12 tiveram várias etapas em Portugal.

Survivor continua a ser o preferido, mas a cadência, a vertigem e o raciocínio sob pressão tornam The Amazing Race num produto de altíssimo nível. Não é à toa que, em 10 anos, ganhou 8 Emmys para melhor reality show.

Estava no ar


Grande jogo de futebol, acima de tudo.

Ganhou o Porto, como se sentia na antecâmara, fruto de uma resposta de sonho a todos os momentos do jogo: entrada em força a garantir o 0-1, empate numa altura chave em que o Benfica tinha o jogo ganho, e cheque-mate a fazer render a superioridade numérica (mais predestinados como Hulk ou James). Não poderia ter saído melhor. Goste-se ou não de Vítor Pereira, a verdade é que a equipa foi mentalmente extraordinária, arrancando, agora, para um terço final de campeonato na liderança isolada da Liga e com a motivação nas nuvens. Ninguém levou este Porto a sério durante muito tempo, mas roubar-lhe o título será duríssimo.

Globalmente, foi o Benfica a ter mais jogo. Depois do primeiro quarto de hora, que gelou a equipa, até ao golo de James, a partida podia ter ficado resolvida (e parecia que tinha ficado), mas o empate e a expulsão de Emerson foram, contudo, um golpe dramático para quem chegou ao jogo quase sem rede mental. No derby com o Sporting, por exemplo, o Benfica também jogou bastante tempo com 10, e a resposta foi imperturbável, mas, hoje, o 2-3 pareceu mesmo uma questão de tempo. Na pior série de resultados desde que chegou ao banco do Benfica, Jesus pode muito bem ter acabado de perder o campeonato, o que seria impensável há um mês. Se não recuperar, então dificilmente será treinador do Benfica na próxima época.

Uma última nota sobre a arbitragem: foi tão má como Proença, e em prejuízo do Benfica. No entanto, um grande nunca perderá um campeonato em Portugal pelos árbitros. É bom não esquecer esse pormenor.

sexta-feira, 2 de março de 2012