segunda-feira, 23 de junho de 2014

Curtas de um soco no estômago

 

1 - Estamos fora, mas é futebol e é melhor precisar de um milagre do que chegar eliminado ao último jogo. Não, não 'era melhor não ter ido', não, não 'era melhor já ter perdido'. Que se foda, mas vou pensar assim até morrer.

2 - É fácil dizer que foi falta de atitude, mas a boa vontade não ganha jogos. Caso contrário, as Honduras eram campeãs do mundo. A culpa é 200% nossa, mas não vi ali as 'vedetas do gel' a passear. Os problemas foram outros e bem mais complexos.

3 - A raiz foi a má preparação: não podíamos ter chegado ao Brasil de véspera, o que é uma irresponsabilidade da Federação, que preferiu ir fazer uns trocos a Boston; não podemos ter cinco lesionados em dois jogos, a menos que tenhamos pedreiros no lugar dos preparadores e dos fisioterapeutas; não podíamos ter achado que a forma física dos jogadores era um mal menor, o que é culpa integral de quem os avaliou e convocou aos 23. O resultado é ninguém ali ter pernas, tão pouco conseguir lidar com o clima e, portanto, 'controlarmos' os jogos como se estivéssemos nos distritais. Eles não se estão a cagar, só não têm um pulmão a mais. 

4 - O cheque-mate foi a total incompetência estratégica. Fosse qual fosse o estado dos jogadores, a Selecção #4 do ranking da FIFA tem de ter outra fiabilidade táctica. No desenho colectivo, e no que é estritamente da sua responsabilidade, Paulo Bento não usou a táctica nem para alavancar o talento, nem para esconder as fragilidades. Portugal tem um modelo, mas, no Brasil, nem por um momento teve uma estratégia. No plano individual, trocar a razão pela lealdade, e ter insistido ir a jogo com aquele meio-campo, foi grotesco. Que William Carvalho ainda só tenha jogado meia-parte, à força, e sido o melhor português, é uma tragédia.

5 - Confio na seriedade da equipa no último jogo, porque sempre respeitei a seriedade do seleccionador. É com a mesma honestidade de quem lhe reconheceu todo o mérito nas vitórias que digo, sem dramas nem exaltações, que é ele o responsável evidente pelo que acontecer no Brasil. Se for isto, então é um ciclo que tem de se fechar.

2 comentários:

Ricardo Martins disse...

Só agora li a tua crónica Paulo mas só tenho uma pergunta para deixar no ar: como é que vai ser um ciclo que se vai fechar se o seleccionador renovou antes do início do Mundial?

Paulo Pereira disse...

Renovar antes de um torneio é o tipo de coisa bacoca que se faz para declarar confiança. Também nunca vou perceber, seja com o Paulo Bento, seja com o Van Gaal.

Mas, sinceramente, acho que o Bento vai pôr o lugar à disposição, e sem cobrar a rescisão a que teria direito. Vejo-o honestamente a fazer isso, com base em tudo o que foi o perfil dele até hoje. De resto, da parte da Federação, e tendo em conta este impacto na opinião pública, também não penso que vá haver nenhuma vontade irredutível em insistir que ele fique.