Portugal - Coreia do Norte, 7-0
A vitória foi tanto mais extraordinária, quanto eram desfavoráveis as circunstâncias que estavam à sua volta. Portugal entrou em campo depois da imagem miserável do 1º jogo, com muita pressão (extra para Ronaldo), pouca confiança, e até com um caso. No fim, mesmo que o adversário se chame Coreia do Norte, ficou a maior vitória da História do país em grandes competições.
No meio, sem dúvida, a atitude que a equipa emprestou ao jogo. A personalidade que nunca foi o forte desta Selecção de Queiroz, a personalidade que nunca se vislumbrou contra a Costa do Marfim, esteve lá desta vez, e cheia de poder. O resto fala por si. Mais ainda do que o resultado, vale a pena falar da qualidade da exibição. O Portugal "aborrecido" do início da semana, colocou-se, pelo que deu de si, pelo que potenciou da sua qualidade, ao nível do melhor futebol que já se jogou na África do Sul, e é evidente que isso só nos pode encher as medidas.
Mesmo as mudanças tácticas têm tudo a ver com mentalidade. Queiroz manteve o 4-3-3, mas o 4-3-3 não teve nada a ver com o primeiro jogo. A equipa jogou aberta, com ordem para atacar por todos os meios, e é clara a diferença que isso fez: qualidade pura na construção ao meio, fôlego nas laterais, poder nas alas. Talvez, com uma equipa de outro nível, mais experiente pelo menos, não tivéssemos chegado aos 7, mas, com a predisposição de hoje, especialmente depois do 2-0, não seriam assim tantas equipas a poder conter o nosso futebol.
Por mérito próprio, Portugal conseguiu a proeza de, depois de um empate no primeiro jogo, estar virtualmente classificado no 2º, e o que aconteceu hoje só pode servir de incentivo à mudança. Incentivo a que deixemos de ser coitadinhos, e que disputemos as coisas na cara, com toda a gente. A equipa ganhou sem margem para dúvidas, exorcizou os próprios fantasmas e, mais importante, provou a si mesma o que pode jogar se pensar como vencedora. Que tenha sido, pois, um novo começo.
Jogadores:
O Melhor em Campo foi Tiago. Disse, na antevisão, que devíamos entrar em campo com Danny a 10 (a substituir Deco), e não com Tiago, porque o médio do Atlético não é um 10, e porque, mesmo apesar de admirá-lo bastante, ele nunca rendeu por aí além em 4-3-3, ou, pelo menos, com outro médio interior tão próximo. Facto é que Tiago desmistificou isto tudo. Ainda embalado com a 2ª volta em Madrid, ele foi um monstro, não como 10, realmente, mas como um segundo 8, ao lado de Meireles. 2 golos, a assistência magistral para o 1-0, alegria e uma qualidade extrema, ao nível do que sempre prometeu. Estão abertas as portas de um grande Mundial.
Logo a seguir Meireles. Depois da época no Porto, talvez ninguém arriscasse muito nele mas, depois de já ter sido um dos melhores no primeiro jogo (e fora de posição), voltou a box-to-box, e partiu a loiça. Lembra o Maniche dos velhos tempos. Coentrão, agora versão atacante, arrisca-se a ser o melhor lateral esquerdo da competição. Sinceramente, nem o nível da época no Benfica me fazia acreditar que chegasse à África do Sul assim. Ricardo Carvalho voltou a ser o patrão, e até Hugo Almeida, pese as fragilidades que se conhecem, foi uma unidade de valor.
Falar, também, de Ronaldo: o jogo não lhe correu bem durante bastante tempo, é verdade. Mas a última meia hora deve ter feito bastante por ele (oxalá que sim). Sem a pressão extrema de carregar a equipa, Cristiano foi grande no jogo, marcou, deu a marcar e esteve novamente perto da galeria dos melhores golos da competição. Ainda há tempo para Ronaldo deixar a sua marca.
Venha o Brasil.
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