domingo, 27 de junho de 2010

Foi Assim Que Aconteceu #17 - OITAVOS

Alemanha - Inglaterra, 4-1

À partida, provavelmente ninguém acreditaria no melhor jogo da competição. Facto é que o foi, pelo futebol posto em campo por dois nomes como a Alemanha e a Inglaterra, pelos muitos golos, pelos casos, e pelo simbolismo e a historicidade que este resultado vai alcançar.

Como apostei, esperava uma vitória inglesa. Não porque não estivesse a torcer pela Alemanha, ou porque não reconhecesse a maior qualidade da equipa de Löw, mas porque, mesmo depois do exemplo da queda italiana, acreditava que, para Capello, há coisas que nunca mudam. Esperava que a Inglaterra jogasse pior, sofresse, mas controlasse, e, no fim, fosse qualificada. Não aconteceu, nem de perto. A Inglaterra nunca esteve sequer perto de ter o jogo controlado, nunca manipulou a Alemanha e, depois da banhada nos dois primeiros golos, só sobreviveu porque pôs o coração em campo. Foi o melhor período do jogo. Entre o 2-0 e o 3-1, a Inglaterra jogou o melhor futebol que lhe vimos nos 4 jogos, com problemas de construção, sim, mas sem amarras, o que a levou ao 2-1, ao virtual 2-2, e a que Lampard ainda falasse com a trave outra vez.

O golo não validado a Lampard, ao contrário do que se poderá querer fazer passar, não será a razão da eliminação inglesa. Com o 2-2 nessa altura, provavelmete a Alemanha não teria marcado dois golos em contra-ataque, depois, mas a Inglaterra perdeu, pura e simplesmente, porque foi pior, sempre pior, em quase tudo. A sua defesa foi mais fraca, o meio-campo menos inteligente e o ataque infinitamente menos criativo, e, mesmo com o 2-2, acredito que a Alemanha acabaria sempre por ganhar o jogo de hoje. A Mannschaft provou que a qualidade do seu futebol pode bater quase tudo, e que é justo olhá-la, daqui para a frente, não como uma equipa juvenil, liderada pelos miúdos Özil e Muller, mas como uma selecção que está em campo para o título. Transições violentíssimas, um super contra-ataque, e um meio-campo ofensivo genial, composto, imagine-se, por dois miúdos na fronteira do desconhecimento, e um desacreditado. É pena que o Alemanha-Argentina venha tão cedo.

Jogadores:
Alemanha - MVP Muller. O extremo-direito do Bayern é classe da cabeça aos pés. É inteligente, movimenta-se lindamente, e parece que tem sempre o toque que define a jogada. Do atómico Özil já disse quase tudo. Reforço que entre ele, Muller e Messi está o melhor jogador do torneio. Podolski continua a ser uma certeza a toda a prova, Klose ainda tem muito para dar (sanguinário no 1-0), e Neuer, o 3º guarda-redes alemão no início da qualificação, é daqueles em quem se pode confiar.

Inglaterra - No melhor período do jogo, Lampard e Gerrard. Mais ou menos conjugáveis, são dois jogadores tremendos, e a passada e o poder de construção que conseguiram imprimir ao jogo inglês, foram os únicos minutos decentes que a Inglaterra deixou na África do Sul. Rooney foi a maior desilusão individual do Mundial.

Argentina - México, 3-1

Jogo ingrato para o México. Perante uma Argentina com uma espécie de 1 médio e 5 avançados, a selecção de Aguirre entrou tranquila, com a qualidade que sempre patenteou até agora e, mesmo perante o toque argentino, apanhou o jogo, e teve 2 ocasiões soberanas para marcar primeiro. Nem sequer se sentia a Argentina até ao erro de arbitragem que originou o 1-0. Foi um erro grave, que mudou o jogo, precipitou o 2-0 e condicionou todo o plano mexicano. Depois, o México só pôde tentar sobreviver, e então, com um balão de oxigénio para jogar, foi a vez do incrível universo de individualidades da Alviceleste começar a jogar. O pisar da bola de Higuaín no 2-0, o monumento de Carlito Tévez no 3-0, o permanente enleio dançante de Messi, são trechos quase impossíveis de conter. O México ainda foi bom mentalmente, reduziu, esteve surpreendentemente perto do 3-2, mas não era dia para milagres. Ainda assim, contra a Alemanha, só o talento individual não chegará à Argentina.

Jogadores:
Argentina - Tévez é um jogador quase no plano da inspiração. O golo hoje é dum predestinado, e a corrida e o abraço a Maradona falam por si. É todo ele carisma, um ídolo na sua plenitude. Messi continua na sua perturbadora via sacra de 4 ou 5 quase golões por jogo. Não haverá, no entanto, dúvidas duma coisa: este é mesmo o Messi do Barça, não a espécie de sombra que pairava muitas vezes pela Selecção. Tal como Maradona em 86, talvez o nirvana chegue nos quartos.

México - Salcido é um jogador tremendo. Foi o melhor da defesa, e, seja perante quem for, é violência em movimento na ala esquerda. Hoje, com 3 incríveis remates de pé direito, foi o jogador mais perigoso da equipa. Guardado, que nunca foi uma aposta constante, e Juárez, são dois médios interiores duma qualidade acima da média, o primeiro mais técnico (novamente pertíssimo do golo), o segundo mais intenso. Chicharrito, no ataque, despediu-se em beleza (trabalho monumental no golo), e o miúdo Barrera, não engana: sairá do Pumas em breve.

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