Shutter Island é um dos filmes mais extraordinários que já vi. É tão perturbadoramente bom, que, mesmo tendo acabado de vê-lo, é-me difícil escrever sobre ele. Shutter Island rompe quase todos os cânones de densidade, de complexidade e de nervo de um thriller, de um drama, ou do cinema em geral, sendo uma obra monstruosa, à qual não falta nada, desde os mais inesperados twists and turns, e deus sabe como é difícil eles serem tão perfeitos, a um argumento verdadeiramente de tirar o fôlego, incrível (baseado no livro dum senhor chamado Dennis Lehane, também autor, imagine-se, do extraordinário Mystic River), aos quais se juntam a realização do Scorsese, esmagadora em todos os pormenores, o show do Di Caprio (talvez, hoje, o melhor do mundo), e até os 5 minutos de cena do Jackie Haley (o Rorschach de Watchmen), numa lista que podia continuar e continuar.
Shutter Island é um filme sobre a mente humana. Fala de traumas, e de como eles nos podem perseguir a todos, independentemente de quem formos, para nos ultrapassarem e nos vergarem, inapelavelmente. Trata o perturbador mundo da psiquiatria, para abordar a realidade e tudo o que nos ultrapassa, e, ainda assim, fala sobre lucidez, segundos de lucidez, sobre o âmago, e sobre o extremo sacrifício que leva às verdadeiras vitórias. É um filme sobre o que somos, sobre o que sabemos que somos, e sobre tudo o que não podemos dominar. E, acima de tudo, sobre consciência. Mesmo que de uma centelha, sobre consciência.
Provavelmente não dará para perceber muito do que é Shutter Island pelo que acabei de escrever, mas nem eu terei percebido, ainda, o verdadeiro alcance do filme de Scorsese. Garanto, no entanto, que vê-lo, será, muito provavelmente, a melhor opção cinematográfica que vão tomar este ano. Mais do que como um ensaio moral ou reflexivo, pela verdadeira obra-de-arte que é.
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