"I have no choice but to direct my energies toward the acquisiton of fame and fortune. Frankly, I have no taste for either poverty or honest labor, so writing is the only recourse left for me." Hunter S. Thompson
sábado, 31 de dezembro de 2011
Margin Call
É um thriller com muita classe. O que salta mais à vista é o grande nível da realização de J.C. Chandor (que também escreveu o argumento), um estreante nestas andanças, e que já lhe valeu o prémio do National Board of Review para melhor rookie do ano. Visualmente é um filme magnífico. Tudo é cuidado, muito bem pesado, com o intuito de compor um ambiente tenso, volátil, próprio de lidar com pinças. Metade do filme desenrola-se mesmo pela madrugada num arranha-céus, com escuridão, muito silêncio, planos e diálogos muito pausados. É francamente atraente. Depois o filme praticamente não tem agitação porque vive numa guerra de nervos, com todos os envolvidos a terem experiência e serenidade para compreender e saber lidar com a situação, ainda que esta fosse gravíssima.
O filme trata as primeiras horas da crise financeira mundial num banco de investimento. Os momentos em que se percebeu a amplitude de tudo aquilo e em que se teve de agir o mais rápido possível, a que custo fosse. Gostei de Kevin Spacey. Claro que já não é o ícone dos anos 90, mas tem aqui o papel mais interessante em anos, na pele de um executivo com décadas de casa, voz da consciência em relação às consequências do que estava prestes a acontecer. Um homem desapegado, mas comprometido com o futuro e o legado da instituição. Num elenco com muitos nomes grandes, destaco ainda Paul Bettany, pela tremenda personalidade que consegue sempre emprestar às suas personagens. Jeremy Irons não impressiona, e Zachary Quinto continua tão inexpressivo como o Sylar de Heroes.
O argumento não acrescenta muito, mas a realização cria um clima muito bom, suportado por um elenco que é, no mínimo, fiável. Margin Call é um dos bons filmes deste 2011 às portas do fim.
7/10
O filme trata as primeiras horas da crise financeira mundial num banco de investimento. Os momentos em que se percebeu a amplitude de tudo aquilo e em que se teve de agir o mais rápido possível, a que custo fosse. Gostei de Kevin Spacey. Claro que já não é o ícone dos anos 90, mas tem aqui o papel mais interessante em anos, na pele de um executivo com décadas de casa, voz da consciência em relação às consequências do que estava prestes a acontecer. Um homem desapegado, mas comprometido com o futuro e o legado da instituição. Num elenco com muitos nomes grandes, destaco ainda Paul Bettany, pela tremenda personalidade que consegue sempre emprestar às suas personagens. Jeremy Irons não impressiona, e Zachary Quinto continua tão inexpressivo como o Sylar de Heroes.
O argumento não acrescenta muito, mas a realização cria um clima muito bom, suportado por um elenco que é, no mínimo, fiável. Margin Call é um dos bons filmes deste 2011 às portas do fim.
7/10
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Beginners
É uma história sobre aprender a ser feliz. O protagonista é um quase quarentão que não acredita no amor e que acabou de perder o pai. O pai, aos 75 anos e depois de 44 de um casamento sem chama, assumira-se gay poucos anos antes. A narrativa entrecorta a relação actual do protagonista com esses últimos anos do pai. O filme tem um desencanto intrínseco, falando, acima de tudo, da irónica busca pela felicidade: do pai que só foi feliz escassos anos antes de morrer, e do protagonista, que aos 38 anos, e quando já nem contava com isso, encontrou a mulher que podia fazer a diferença e decidiu tentar aprender.
Beginners tem uma certa magia aqui ou ali, mas no global não é um filme que me tenha cativado. É um pouco lírico demais, e a sua tristeza romantizada acaba por cansar. Se calhar era essa a ideia, mas o típico jeito distante e incerto de Ewan McGregor torna tudo um pouco penoso e desencantado demais. O mais interessante é o desempenho de Mélanie Laurent (Inglourious Basterds), senhora de uma delicadeza insinuante e perfeitamente sedutora, que cai muito bem ao filme. Christopher Plummer - nomeado para o Globo de Ouro - tem um papel bom, mas não extraordinário.
6/10
Beginners tem uma certa magia aqui ou ali, mas no global não é um filme que me tenha cativado. É um pouco lírico demais, e a sua tristeza romantizada acaba por cansar. Se calhar era essa a ideia, mas o típico jeito distante e incerto de Ewan McGregor torna tudo um pouco penoso e desencantado demais. O mais interessante é o desempenho de Mélanie Laurent (Inglourious Basterds), senhora de uma delicadeza insinuante e perfeitamente sedutora, que cai muito bem ao filme. Christopher Plummer - nomeado para o Globo de Ouro - tem um papel bom, mas não extraordinário.
6/10
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
The Help
Nos últimos anos chegaram aos Óscares dois filmes sobre racismo bastante sobrevalorizados: The Great Debaters e Precious. The Help é muitíssimo melhor do que qualquer um deles. É um filme capaz de falar de racismo finalmente de uma maneira sóbria e tocante, sem excesso de drama, heroísmo ou lobby à mistura. É cativante, honesto e mobilizador, e não se ampara em clichés para falar de preconceitos e discriminação, tendo até a capacidade para não demonizar toda a elite dominante. Não tem pejo em mostrar quem discriminava por convicção, mas também arranja espaço para quem não se revia nesse tipo de comportamento, mas que era absorvido pelas convenções sociais.
A acção passa-se no Mississipi dos anos 60, focando-se na vida das serviçais negras que eram parte integrante das famílias brancas, que delas punham e dispunham, tratando-as como se não fossem gente. É nesse contexto, e paralelamente à explosão do movimento afro-americano de luta pelos direitos civis, que uma jovem jornalista decide publicar um livro a contar o ponto de vista das negras. O retrato é duro, cativando-nos pela sobriedade, pelo sentimento e pelo realismo.
Viola Davis é brilhante. Tem uma compostura e uma presença inolvidáveis. É tanto amargurada, fechada e inacessível, como tocante e profundamente devota à criança branca de quem cuida. Um desempenho claramente oscarizável.
Na realidade todo o leque feminino do filme é rico. Emma Stone esteve à altura de um papel bastante diferente do que está habituada: menos sensual mas com a rebeldia de miúda e uma boa dose de coração; Octavia Spencer tem um papel mais estilizado de mãe negra, mas uma presença forte; Jessica Chastain é mais ingénua, mas o alheamento dá-lhe uma cor especial, e representa-a como outro tipo de discriminação; Bryce Dallas Howard é uma vilã um pouco caricaturada, mas tem uma performance muito relevante a servir de âncora da acção, e será possivelmente a melhor das secundárias.
Tate Taylor realizou e escreveu (excelente argumento adaptado) um filme que não banaliza o racismo, que é sério, enche-nos de respeito e tem o dom de nos emocionar. Absolutamente recomendado.
8/10
A acção passa-se no Mississipi dos anos 60, focando-se na vida das serviçais negras que eram parte integrante das famílias brancas, que delas punham e dispunham, tratando-as como se não fossem gente. É nesse contexto, e paralelamente à explosão do movimento afro-americano de luta pelos direitos civis, que uma jovem jornalista decide publicar um livro a contar o ponto de vista das negras. O retrato é duro, cativando-nos pela sobriedade, pelo sentimento e pelo realismo.
Viola Davis é brilhante. Tem uma compostura e uma presença inolvidáveis. É tanto amargurada, fechada e inacessível, como tocante e profundamente devota à criança branca de quem cuida. Um desempenho claramente oscarizável.
Na realidade todo o leque feminino do filme é rico. Emma Stone esteve à altura de um papel bastante diferente do que está habituada: menos sensual mas com a rebeldia de miúda e uma boa dose de coração; Octavia Spencer tem um papel mais estilizado de mãe negra, mas uma presença forte; Jessica Chastain é mais ingénua, mas o alheamento dá-lhe uma cor especial, e representa-a como outro tipo de discriminação; Bryce Dallas Howard é uma vilã um pouco caricaturada, mas tem uma performance muito relevante a servir de âncora da acção, e será possivelmente a melhor das secundárias.
Tate Taylor realizou e escreveu (excelente argumento adaptado) um filme que não banaliza o racismo, que é sério, enche-nos de respeito e tem o dom de nos emocionar. Absolutamente recomendado.
8/10
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Homeland (2011)
Primeiro estranha-se. A série não tem uma grande química, não dá espectáculo, não tem momentos de levar o queixo ao chão. É sóbria, contida e, nos primeiros episódios, nem se dá ao trabalho de lançar grandes iscas para a acção. Dá-se a conhecer, suavemente.
Depois entranha-se, de facto. Não é monumental, mas é ousada, surpreendente, realista e, sobretudo, magistralmente tensa. Não inventa nada ilógico ou exagerado, pegando, pelo contrário, em situações absolutamente realistas para torturar-nos os nervos. O argumento é notável justamente porque torna situações comuns num thriller brilhante, sem precisar de espalhafato nenhum. Muitas vezes só nós e o protagonista é que sentimos o que está a acontecer, perante o alheamento geral.
Homeland (12 episódios) é a história de um prisioneiro de guerra americano desaparecido no Iraque há oito anos, e que se julgava morto, que é resgatado e volta a casa como herói nacional. No seu encalço está, contudo, uma obstinada agente da CIA a quem uma fonte, pouco antes de morrer, garantiu que a Al-Qaeda convertera um prisioneiro americano.
Já salientei o argumento, também tenho de sublinhar a excelente cadência da realização, algo que falta muitas vezes em televisão: não há tempos mortos. Isto porque se eliminam aqueles momentos de reconhecimento que não acrescentam grande coisa. Os episódios, por exemplo, nunca começam no exacto momento em que o anterior parou.
Por fim o cast, que é a jóia da coroa. Damian Lewis e Claire Danes são duas das estrelas do ano, seguramente. Ele é o Sargeant Nicholas Brody, esfíngico e assombrado. O seu permanente esforço de contenção para aparentar equilibrado é colossal; a gestão do regresso a casa e dos segredos que não pode partilhar é de uma violência a toda a prova. Lewis é perfeito para o papel porque tem o dom de nos inquietar. Exala um mistério tão natural que parece uma bomba sempre no limite de explodir.
Danes é Carrie Mathison, uma genial e inortodoxa agente da CIA, que esconde uma desordem bipolar. É provavelmente a melhor female lead que já vi em televisão. O seu talento e instinto misturados com a obsessão pelo novo herói nacional fazem-na parecer genuinamente enlouquecida. A sua cruzada a ver o que mais ninguém vê, sozinha contra o mundo, é brilhante.
Mandy Patinkin, o mítico Gideon de Criminal Minds, é o secundário de luxo. Saul Berenson é uma lenda da CIA e o mentor de Carrie, é a voz da consciência sempre presente. O seu farto carisma faz o resto.
Homeland corre nos Globos para Melhor Drama, Actor e Actriz dramáticos. Lewis e Danes são candidatos de peso. A série não é a melhor do ano, mas que ninguém duvide que é um thriller de todo o tamanho.
Depois entranha-se, de facto. Não é monumental, mas é ousada, surpreendente, realista e, sobretudo, magistralmente tensa. Não inventa nada ilógico ou exagerado, pegando, pelo contrário, em situações absolutamente realistas para torturar-nos os nervos. O argumento é notável justamente porque torna situações comuns num thriller brilhante, sem precisar de espalhafato nenhum. Muitas vezes só nós e o protagonista é que sentimos o que está a acontecer, perante o alheamento geral.
Homeland (12 episódios) é a história de um prisioneiro de guerra americano desaparecido no Iraque há oito anos, e que se julgava morto, que é resgatado e volta a casa como herói nacional. No seu encalço está, contudo, uma obstinada agente da CIA a quem uma fonte, pouco antes de morrer, garantiu que a Al-Qaeda convertera um prisioneiro americano.
Já salientei o argumento, também tenho de sublinhar a excelente cadência da realização, algo que falta muitas vezes em televisão: não há tempos mortos. Isto porque se eliminam aqueles momentos de reconhecimento que não acrescentam grande coisa. Os episódios, por exemplo, nunca começam no exacto momento em que o anterior parou.
Por fim o cast, que é a jóia da coroa. Damian Lewis e Claire Danes são duas das estrelas do ano, seguramente. Ele é o Sargeant Nicholas Brody, esfíngico e assombrado. O seu permanente esforço de contenção para aparentar equilibrado é colossal; a gestão do regresso a casa e dos segredos que não pode partilhar é de uma violência a toda a prova. Lewis é perfeito para o papel porque tem o dom de nos inquietar. Exala um mistério tão natural que parece uma bomba sempre no limite de explodir.
Danes é Carrie Mathison, uma genial e inortodoxa agente da CIA, que esconde uma desordem bipolar. É provavelmente a melhor female lead que já vi em televisão. O seu talento e instinto misturados com a obsessão pelo novo herói nacional fazem-na parecer genuinamente enlouquecida. A sua cruzada a ver o que mais ninguém vê, sozinha contra o mundo, é brilhante.
Mandy Patinkin, o mítico Gideon de Criminal Minds, é o secundário de luxo. Saul Berenson é uma lenda da CIA e o mentor de Carrie, é a voz da consciência sempre presente. O seu farto carisma faz o resto.
Homeland corre nos Globos para Melhor Drama, Actor e Actriz dramáticos. Lewis e Danes são candidatos de peso. A série não é a melhor do ano, mas que ninguém duvide que é um thriller de todo o tamanho.
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terça-feira, 27 de dezembro de 2011
50/50
É competente mas não cumpre o potencial que se adivinhava.
50/50 é a história de um jovem de 27 anos a quem é diagnosticado um tumor maligno, e da maneira como este vai lidar com o impacto da descoberta e lutar contra a doença. É uma comédia-drama com alguma sensibilidade, algum sofrimento, e uma certa pureza, mas que vale, no essencial, pelo retrato que faz, isto porque a acção é previsível do princípio ao fim, e nunca foge da linha para inventar um pouco que seja. Por ser bem feito em vários momentos essa inaptidão para surpreender nalguma coisa é uma desilusão.
O cast também não impressiona. Gordon-Levitt só tem uma grande cena, e não capitaliza um papel que era fácil. É sempre muito distante e senti-mo-lo pouco. Seth Rogen é tão boçal como sempre. A melhor será Anna Kendrick, pela delicadeza e pela aura de romance que traz consigo.
O filme vai aos Globos candidato a Melhor Comédia e a Melhor Actor, o que me parece desajustado, sobretudo se tivermos em conta que Crazy Stupid Love e Steve Carell ficaram de fora.
6/10
50/50 é a história de um jovem de 27 anos a quem é diagnosticado um tumor maligno, e da maneira como este vai lidar com o impacto da descoberta e lutar contra a doença. É uma comédia-drama com alguma sensibilidade, algum sofrimento, e uma certa pureza, mas que vale, no essencial, pelo retrato que faz, isto porque a acção é previsível do princípio ao fim, e nunca foge da linha para inventar um pouco que seja. Por ser bem feito em vários momentos essa inaptidão para surpreender nalguma coisa é uma desilusão.
O cast também não impressiona. Gordon-Levitt só tem uma grande cena, e não capitaliza um papel que era fácil. É sempre muito distante e senti-mo-lo pouco. Seth Rogen é tão boçal como sempre. A melhor será Anna Kendrick, pela delicadeza e pela aura de romance que traz consigo.
O filme vai aos Globos candidato a Melhor Comédia e a Melhor Actor, o que me parece desajustado, sobretudo se tivermos em conta que Crazy Stupid Love e Steve Carell ficaram de fora.
6/10
domingo, 25 de dezembro de 2011
2011, a equipa
sábado, 24 de dezembro de 2011
Xmas key question
Que filme ficar a ver pela madrugada: Armageddon, Gone in Sixty Seconds ou The Fellowship of the Ring? Vencedor só em cima da meta.
Natal Feliz, mundo!
Natal Feliz, mundo!
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Longa vida ao futebol português
Não gosto de chorões das arbitragens e não sou um. Nos últimos 5 jogos o Marítimo acabou 4 vezes com 10 jogadores em campo. Jogou 4 vezes com os grandes. Mas digo desde já: o Ruben é bem expulso contra o nacional, o Olberdam é bem expulso contra o benfica, e há um penalty por marcar a favor do porto, apesar da lambice que foi a expulsão do Roberge. Os pontos que perdemos nesses três jogos não se deveram à arbitragem.
Mas casos como os de ontem tiram-me do sério. Revi os lances agora. O Sporting teve direito não a um, mas a dois penalties tudo menos indiscutíveis; e se o segundo merece no máximo o benefício da dúvida, o primeiro é daquelas coisas podres que só existe no futebol português. Quartos-de-final da Taça, o árbitro sabe que se marca aquilo acaba provavelmente com o jogo: um lance em que os dois jogadores têm o contacto mais normal do mundo numa disputa de bola. Soares Dias não só marcou penalty como, numa jogada não enquadrada com a baliza e com o guarda-redes a um metro, decidiu expulsar o nosso central e pôr, definitivamente, uma pedra na eliminatória. Na outra área nem penalty era.
Dá-me vómitos. E enoja-me ainda mais que hoje a comunicação social deste país vá olhar para os lances com toda a normalidade do mundo, porque quem está em causa é o Marítimo, e toda a gente sabe que clubes como o Marítimo não interessam, são a carne para canhão. Já se os lances tivessem penalizado o Sporting num jogo grande europeu, ou a Selecção, seriam alvo de uma verdadeira onda nacional de protesto, e fariam capas e aberturas de tv a proclamar-se a nossa falta de influência nos centros de poder e o crónico prejuízo a que somos sujeitos. Como é o Marítimo ninguém vê nada fora do normal, nem se escreve uma linha sobre eles.
Dá-me vómitos. Não basta equipas como o sporting terem 5, 6 ou 7 vezes o orçamento do Marítimo, e mesmo assim temos de sofrer sempre na pele com lances que NUNCA seriam marcados na outra área. Em Inglaterra o que aconteceu hoje era igual a zero penalties e zero expulsões. Mas neste futebolzinho de chulos é tudo falta, é tudo penalty, tudo serve para empurrar para trás. Nunca haverá um jogo destes em que sejamos beneficiados, e poucos são aqueles em que pelo menos os lances graves são indiscutíveis.
Ficámos com a nossa sorte traçada desde o primeiro segundo do sorteio. Nos oitavos ainda sobrevivemos ao escândalo de penalty do Nolito; mas como estragámos as receitas do derby dos quartos-de-final, ontem ao menos acabaram o serviço. Ser adepto de um grande deve ser um orgulho do caraças.
Mas casos como os de ontem tiram-me do sério. Revi os lances agora. O Sporting teve direito não a um, mas a dois penalties tudo menos indiscutíveis; e se o segundo merece no máximo o benefício da dúvida, o primeiro é daquelas coisas podres que só existe no futebol português. Quartos-de-final da Taça, o árbitro sabe que se marca aquilo acaba provavelmente com o jogo: um lance em que os dois jogadores têm o contacto mais normal do mundo numa disputa de bola. Soares Dias não só marcou penalty como, numa jogada não enquadrada com a baliza e com o guarda-redes a um metro, decidiu expulsar o nosso central e pôr, definitivamente, uma pedra na eliminatória. Na outra área nem penalty era.
Dá-me vómitos. E enoja-me ainda mais que hoje a comunicação social deste país vá olhar para os lances com toda a normalidade do mundo, porque quem está em causa é o Marítimo, e toda a gente sabe que clubes como o Marítimo não interessam, são a carne para canhão. Já se os lances tivessem penalizado o Sporting num jogo grande europeu, ou a Selecção, seriam alvo de uma verdadeira onda nacional de protesto, e fariam capas e aberturas de tv a proclamar-se a nossa falta de influência nos centros de poder e o crónico prejuízo a que somos sujeitos. Como é o Marítimo ninguém vê nada fora do normal, nem se escreve uma linha sobre eles.
Dá-me vómitos. Não basta equipas como o sporting terem 5, 6 ou 7 vezes o orçamento do Marítimo, e mesmo assim temos de sofrer sempre na pele com lances que NUNCA seriam marcados na outra área. Em Inglaterra o que aconteceu hoje era igual a zero penalties e zero expulsões. Mas neste futebolzinho de chulos é tudo falta, é tudo penalty, tudo serve para empurrar para trás. Nunca haverá um jogo destes em que sejamos beneficiados, e poucos são aqueles em que pelo menos os lances graves são indiscutíveis.
Ficámos com a nossa sorte traçada desde o primeiro segundo do sorteio. Nos oitavos ainda sobrevivemos ao escândalo de penalty do Nolito; mas como estragámos as receitas do derby dos quartos-de-final, ontem ao menos acabaram o serviço. Ser adepto de um grande deve ser um orgulho do caraças.
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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Go big or go home
Ainda não sei se vou conseguir ver o jogo. Sei que, veja ou não, o Marítimo joga hoje uma das partidas mais importantes da sua História. Se formos capazes de voltar a ganhar em Alvalade, como há três meses, acredito que passamos a ser o candidato número 1 à conquista da Taça de Portugal. Não pudemos dizer isto muitas vezes. Desde o mítico Campeonato de Portugal em 1926 que duvido termos estado sequer numa situação parecida. Nas nossas duas idas ao Jamor, fomos gigantes nas meias-finais (fazendo cair os campeões Porto, em 1995, e Boavista, em 2001), mas entrámos na final sempre como underdogs, para jogar com Sporting e Porto, respectivamente. Desta vez jogaríamos uma meia-final a duas mãos, e num cenário em que os grandes e até o Braga e o Guimarães já estariam fora. Um cenário para ser todo nosso.
É um momento singular. Como em todas as grandes histórias, o desafio era extraordinariamente difícil, porque a única chance era vencer um Benfica invicto e ir depois a Alvalade eliminar o melhor Sporting em anos; mas é um desafio que tivemos o mérito de fazer viver, e perante o qual, agora e por todas as razões, temos de estar à altura. E se há algum Marítimo com nível para estar, é este. Vi termos algumas grandes equipas: Vingada 2002, Cajuda 2004, Lazaroni 2008, Mitchell 2010. É justo reconhecer, contudo, que, desde o início dos anos 90 e do mítico Trio Maravilha de Autuori, nenhum Marítimo terá provocado tanto entusiasmo como este.
Hoje o destino abre-nos a porta da História. Orgulho-me imensamente deste grupo, mas hoje não é dia de vitórias morais. Não chega jogar bem e vender cara a derrota. Hoje não há como conformar-se, porque quando a História nos bate à porta não podemos ceder às probabilidades, não podemos ser só normais. Hoje, como nos grandes momentos do nosso passado, temos de mostrar que ser o Marítimo é ser maior. Hoje temos de ser o Marítimo mais do que nunca.
É um momento singular. Como em todas as grandes histórias, o desafio era extraordinariamente difícil, porque a única chance era vencer um Benfica invicto e ir depois a Alvalade eliminar o melhor Sporting em anos; mas é um desafio que tivemos o mérito de fazer viver, e perante o qual, agora e por todas as razões, temos de estar à altura. E se há algum Marítimo com nível para estar, é este. Vi termos algumas grandes equipas: Vingada 2002, Cajuda 2004, Lazaroni 2008, Mitchell 2010. É justo reconhecer, contudo, que, desde o início dos anos 90 e do mítico Trio Maravilha de Autuori, nenhum Marítimo terá provocado tanto entusiasmo como este.
Hoje o destino abre-nos a porta da História. Orgulho-me imensamente deste grupo, mas hoje não é dia de vitórias morais. Não chega jogar bem e vender cara a derrota. Hoje não há como conformar-se, porque quando a História nos bate à porta não podemos ceder às probabilidades, não podemos ser só normais. Hoje, como nos grandes momentos do nosso passado, temos de mostrar que ser o Marítimo é ser maior. Hoje temos de ser o Marítimo mais do que nunca.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Se nunca viram Survivor não fazem ideia do que é um reality-show; season 23: South Pacific!
Comecei a ver condescendentemente. Tanga de reality-shows. Hoje, há coisa de um ano depois, fico envergonhado de pensar que não dava nada por ele. Survivor é muito melhor do que qualquer coisa que dêem por ele. Esqueçam o reality-show no conceito de pé de chinelo a que os associamos; Survivor é, pelo menos, tudo o que um devia ser.
É uma experiência social que vai ao âmago das pessoas, que desperta os instintos, desafia condutas, e esbate tantas vezes a linha entre o que acreditamos e o que temos de sacrificar para ganhar. Tem a dimensão do indivíduo, que faz com que as pessoas se transcendam fisicamente, engrandecendo a ideia de que se formos bons o suficiente só dependemos de nós próprios, mas é sobretudo um jogo social, onde é preciso mentir, trair e manipular para chegar ao fim, mas fazê-lo às próprias pessoas que vão decidir em última instância a quem atribuir o dourado milhão de dólares. O que se põe em causa em cada episódio de Survivor vai às nossas entranhas, custa-nos, causa-nos dilemas. É um jogo de pragmatismo e de romantismo, de lealdade mas de um único vencedor, de pessoas e de lendas, e é um crime pôr-lhe a mesma etiqueta que aos "reality-shows" que se fazem por cá.
Como em tudo, há temporadas boas e más. Voltei a escrever sobre Survivor porque a que agora acabou foi uma das melhores que já vi. Dois mitos do jogo em grande forma, o melhor cast de novos elementos em vários anos, muita história para contar, muito frenesim para ver, uma ponta final electrizante. Isso tudo e o eterno Jeff Probst, vencedor de cinco! Emmys, o senhor anfitrião de sempre.
Deduzo que muito poucas pessoas vejam Survivor em Portugal. Uma coisa garanto: é muito, mas muito melhor do que imaginam. Para amostra, fica o top dos que já vi:
É uma experiência social que vai ao âmago das pessoas, que desperta os instintos, desafia condutas, e esbate tantas vezes a linha entre o que acreditamos e o que temos de sacrificar para ganhar. Tem a dimensão do indivíduo, que faz com que as pessoas se transcendam fisicamente, engrandecendo a ideia de que se formos bons o suficiente só dependemos de nós próprios, mas é sobretudo um jogo social, onde é preciso mentir, trair e manipular para chegar ao fim, mas fazê-lo às próprias pessoas que vão decidir em última instância a quem atribuir o dourado milhão de dólares. O que se põe em causa em cada episódio de Survivor vai às nossas entranhas, custa-nos, causa-nos dilemas. É um jogo de pragmatismo e de romantismo, de lealdade mas de um único vencedor, de pessoas e de lendas, e é um crime pôr-lhe a mesma etiqueta que aos "reality-shows" que se fazem por cá.
Como em tudo, há temporadas boas e más. Voltei a escrever sobre Survivor porque a que agora acabou foi uma das melhores que já vi. Dois mitos do jogo em grande forma, o melhor cast de novos elementos em vários anos, muita história para contar, muito frenesim para ver, uma ponta final electrizante. Isso tudo e o eterno Jeff Probst, vencedor de cinco! Emmys, o senhor anfitrião de sempre.
Deduzo que muito poucas pessoas vejam Survivor em Portugal. Uma coisa garanto: é muito, mas muito melhor do que imaginam. Para amostra, fica o top dos que já vi:
13 - Cook Islands
20 - Heroes vs. Villains
23 - South Pacific
16 - Micronesia: Fans vs. Favorites
8 - All-Stars
22 - Redemption Island
21 - Nicarágua
15 - China
4 - Marquesas
20 - Heroes vs. Villains
23 - South Pacific
16 - Micronesia: Fans vs. Favorites
8 - All-Stars
22 - Redemption Island
21 - Nicarágua
15 - China
4 - Marquesas
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Moneyball
O filme é bom, Pitt é bom, mas fica a faltar-lhe qualquer coisa para assaltar a época dos prémios. É complicado filmar desporto porque há sempre um histórico repetitivo que tem de ser respeitado - o ciclo de jogos, os up and downs, etc -, e Moneyball ressente-se de uma certa falta de intensidade ou de valor acrescido durante boa parte do tempo. É facto que o fim é brilhante, de uma majestade a toda a prova, mas no geral o todo é penalizado por uma certa falta de sumo no caminho para lá chegar.
Destaca-se, acima de tudo, o excelente argumento adaptado dos oscarizados Aaron Sorkin e Steven Zaillian, no retrato do verídico Billy Beane (Pitt). Em 2002 é ele o director desportivo dos Oakland Athletics, uma equipa modesta da Liga Americana de Baseball. Sem dinheiro e depois de perder todas as estrelas da equipa, Beane, com a ajuda de um licenciado em Economia por Yale, vai pôr de parte o tradicional sistema de olheiros, e reforçar o plantel exclusivamente com base em estatísticas e jogadores que todos menosprezam. O que vai engrandecer o protagonista é o seu passado de grande promessa falhada. O argumento utiliza isso para desenhar toda a acção ("it's a lot to be something i'm not"), conseguindo um enquadramento de uma riqueza notável, magistral no romantismo e na obsessão de ganhar.
É impossível não gostar de Pitt, mas infelizmente acho que lhe faltou um cheque-mate para ser indiscutível. Tem presença, tem carisma, nos seus melhores momentos nem precisa de falar, mas é capaz de não ser suficiente para o Óscar. Ele está à altura, o contexto do personagem é muito bom, mas a acção propriamente dita exige pouco dele na maior parte do tempo. É pena. Jonah Hill, contido mas sentido, foi uma boa surpresa, com aquele que será, a alguma distância, o melhor papel da sua carreira.
O fim, reforço, é absolutamente belo, um daqueles que vale o bilhete, e é tocante ao ponto de compensar boa parte do vazio que existe no resto. Mesmo a faltar-lhe qualquer coisa, Moneyball está na lista de melhores do ano.
7/10
Destaca-se, acima de tudo, o excelente argumento adaptado dos oscarizados Aaron Sorkin e Steven Zaillian, no retrato do verídico Billy Beane (Pitt). Em 2002 é ele o director desportivo dos Oakland Athletics, uma equipa modesta da Liga Americana de Baseball. Sem dinheiro e depois de perder todas as estrelas da equipa, Beane, com a ajuda de um licenciado em Economia por Yale, vai pôr de parte o tradicional sistema de olheiros, e reforçar o plantel exclusivamente com base em estatísticas e jogadores que todos menosprezam. O que vai engrandecer o protagonista é o seu passado de grande promessa falhada. O argumento utiliza isso para desenhar toda a acção ("it's a lot to be something i'm not"), conseguindo um enquadramento de uma riqueza notável, magistral no romantismo e na obsessão de ganhar.
É impossível não gostar de Pitt, mas infelizmente acho que lhe faltou um cheque-mate para ser indiscutível. Tem presença, tem carisma, nos seus melhores momentos nem precisa de falar, mas é capaz de não ser suficiente para o Óscar. Ele está à altura, o contexto do personagem é muito bom, mas a acção propriamente dita exige pouco dele na maior parte do tempo. É pena. Jonah Hill, contido mas sentido, foi uma boa surpresa, com aquele que será, a alguma distância, o melhor papel da sua carreira.
O fim, reforço, é absolutamente belo, um daqueles que vale o bilhete, e é tocante ao ponto de compensar boa parte do vazio que existe no resto. Mesmo a faltar-lhe qualquer coisa, Moneyball está na lista de melhores do ano.
7/10
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Vamos todos embora que depois o Passos apaga a luz
Não há emprego para os jovens? Emigrem, já tinha dito o Secretário de Estado da Juventude. Não há emprego para os professores? Fácil, reforçou ontem o primeiro-ministro.
O mais aterrador de tudo é a naturalidade com que se diz isto. O despudor, o conformismo, a aceitação evidente. Isto já não é um país, é de uma vez por todas a choldra que o Eça cunhou. O governo demitiu-se oficialmente de potenciar o crescimento económico, de criar empregos e de, no fundo, esboçar-nos um futuro; agora o objectivo único é gerir isto como se fosse mercadoria, e as pessoas que vão embora enquanto é tempo.
Os nossos políticos morreram. Hoje somos governados por gestores acéfalos, para quem liderar um país é tão simples como fazer contas de somar. Verdadeiros analfabetos sociais, que vêem os portugueses como uma raça mal habituada, à espera desse luxo que é o seu país proporcionar-lhes um futuro. E boa parte do problema é não querermos sair da nossa zona de conforto, explicam os nossos governantes, ao mesmo tempo que acomodam os cus gordurosos nas poltronas aonde chegaram, na maioria, graças ao mais rasca dos carreirismos brochistas.
Já não bastavam os cortes cegos nas prestações sociais que vão conseguir esganar o nosso poder económico até ao último resquício; não chegava que Passos Coelho andasse por essa Europa fora a debitar o discurso de Merkel, e a pedir mais austeridade e mais disciplina para essa corja abominável que são os povos do Sul; agora até nos pedem para ir embora, porque já não há nada para nós aqui.
Fosse outro, e defenderia que a um primeiro-ministro que incentiva os portugueses a emigrar só resta uma saída. Acontece que Passos Coelho nunca escondeu que na sua agenda as pessoas eram só um pormenor. Para ele isto não é resultado de um delírio do momento; foi, desde o primeiro segundo, a própria crença de que o Estado de Bem-Estar é um cancro político. A isso o país respondeu-lhe com uma maioria absoluta. Tem o que merece.
O mais aterrador de tudo é a naturalidade com que se diz isto. O despudor, o conformismo, a aceitação evidente. Isto já não é um país, é de uma vez por todas a choldra que o Eça cunhou. O governo demitiu-se oficialmente de potenciar o crescimento económico, de criar empregos e de, no fundo, esboçar-nos um futuro; agora o objectivo único é gerir isto como se fosse mercadoria, e as pessoas que vão embora enquanto é tempo.
Os nossos políticos morreram. Hoje somos governados por gestores acéfalos, para quem liderar um país é tão simples como fazer contas de somar. Verdadeiros analfabetos sociais, que vêem os portugueses como uma raça mal habituada, à espera desse luxo que é o seu país proporcionar-lhes um futuro. E boa parte do problema é não querermos sair da nossa zona de conforto, explicam os nossos governantes, ao mesmo tempo que acomodam os cus gordurosos nas poltronas aonde chegaram, na maioria, graças ao mais rasca dos carreirismos brochistas.
Já não bastavam os cortes cegos nas prestações sociais que vão conseguir esganar o nosso poder económico até ao último resquício; não chegava que Passos Coelho andasse por essa Europa fora a debitar o discurso de Merkel, e a pedir mais austeridade e mais disciplina para essa corja abominável que são os povos do Sul; agora até nos pedem para ir embora, porque já não há nada para nós aqui.
Fosse outro, e defenderia que a um primeiro-ministro que incentiva os portugueses a emigrar só resta uma saída. Acontece que Passos Coelho nunca escondeu que na sua agenda as pessoas eram só um pormenor. Para ele isto não é resultado de um delírio do momento; foi, desde o primeiro segundo, a própria crença de que o Estado de Bem-Estar é um cancro político. A isso o país respondeu-lhe com uma maioria absoluta. Tem o que merece.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Quem está, quem não está e quem devia estar nos Globos 2012
O Filme e a Série do Ano falham irremediavelmente os Globos de Ouro 2012, o que diz quase tudo. Sinceramente é impensável que quer The Tree of Life quer The Walking Dead tenham chegado ao ponto de não serem sequer nomeados. É qualquer coisa de assassino. Para o segundo não consigo absolutamente explicar; no caso mais "sensível", mesmo quem não adore o devaneio artístico do filme de Malick não pode ignorar que está na presença de um autêntico vulto. Como li algures numa crítica, "2011 passará à História como o ano de Tree of Life, ganhe o que ganhar". Não há muito mais a dizer.
Em Melhor Comédia contava ver Crazy Stupid Love e, especialmente, The Guard; chegaram os protagonistas, mas nenhum dos dois. A minha grande vitória da lista acabou por ser ver o enorme Brendan Gleeson candidato a Melhor Actor Comédia. Também saúdo Gosling, que teve uma performance cheia, mas aí já se torna discutível: a nomear alguém por Crazy Stupid Love escolheria sempre Carell. Uma opção que nem se deveria colocar quando o sensaborão Owen Wilson também está entre os nomes da categoria...
Felizmente Midnight in Paris teve o reconhecimento que merecia, juntando Melhor Comédia, Realizador e Argumento. Ao nível do filme enorme que é e do génio intemporal de Woody Allen. Ficou a faltar Melhor Actriz Comédia para Marion Cotillard.
The Ides of March foi outra das estrelas do dia e até o justifica, mesmo que não em tamanha escala. Clooney para Melhor Realizador era o que se exigia acima de tudo.
No resto lembrar ainda a injustiça de se ter esquecido a brilhante performance de Nick Nolte como Secundário em Warrior.
Em televisão, pese o crime supracitado, enaltecer os gigantes Boardwalk Empire e The Game of Thrones na corrida a Melhor Drama. O primeiro junta o fantástico Steve Buscemi para Melhor Actor Drama (que venceu no ano passado) e Kelly Macdonald para Melhor Secundária, mas esquece-se imperdoavelmente de Michael Pitt, que era uma nomeação instrumental este ano. O segundo tem de novo o obrigatório Peter Dinklage, que no ano passado também já levou para casa Melhor Secundário.
Pese a total desconsideração a que The Walking Dead foi votado, não devo deixar aqui de sublinhar que, com justiça, Jon Bernthal teria sempre de estar na corrida para Melhor Actor Drama. Sempre.
Mireille Enos obtém uma nomeação indiscutível como Melhor Actriz Drama por The Killing, Sofía Vergara continua justamente à procura do seu globo, como Melhor Secundária, por Modern Family.
A maior banhada de todas estará, contudo, em Melhor Actor Comédia. Depois de ter ganho o Globo do ano passado, Jim Parsons falha esta lista com estrondo... em benefício do co-protagonista Johnny Galecki. A Associação de Imprensa Estrangeira olhar para The Big Bang Theory e trocar-lhes as nomeações não é a apologia do ar fresco, é só demência.
Em Melhor Comédia contava ver Crazy Stupid Love e, especialmente, The Guard; chegaram os protagonistas, mas nenhum dos dois. A minha grande vitória da lista acabou por ser ver o enorme Brendan Gleeson candidato a Melhor Actor Comédia. Também saúdo Gosling, que teve uma performance cheia, mas aí já se torna discutível: a nomear alguém por Crazy Stupid Love escolheria sempre Carell. Uma opção que nem se deveria colocar quando o sensaborão Owen Wilson também está entre os nomes da categoria...
Felizmente Midnight in Paris teve o reconhecimento que merecia, juntando Melhor Comédia, Realizador e Argumento. Ao nível do filme enorme que é e do génio intemporal de Woody Allen. Ficou a faltar Melhor Actriz Comédia para Marion Cotillard.
The Ides of March foi outra das estrelas do dia e até o justifica, mesmo que não em tamanha escala. Clooney para Melhor Realizador era o que se exigia acima de tudo.
No resto lembrar ainda a injustiça de se ter esquecido a brilhante performance de Nick Nolte como Secundário em Warrior.
Em televisão, pese o crime supracitado, enaltecer os gigantes Boardwalk Empire e The Game of Thrones na corrida a Melhor Drama. O primeiro junta o fantástico Steve Buscemi para Melhor Actor Drama (que venceu no ano passado) e Kelly Macdonald para Melhor Secundária, mas esquece-se imperdoavelmente de Michael Pitt, que era uma nomeação instrumental este ano. O segundo tem de novo o obrigatório Peter Dinklage, que no ano passado também já levou para casa Melhor Secundário.
Pese a total desconsideração a que The Walking Dead foi votado, não devo deixar aqui de sublinhar que, com justiça, Jon Bernthal teria sempre de estar na corrida para Melhor Actor Drama. Sempre.
Mireille Enos obtém uma nomeação indiscutível como Melhor Actriz Drama por The Killing, Sofía Vergara continua justamente à procura do seu globo, como Melhor Secundária, por Modern Family.
A maior banhada de todas estará, contudo, em Melhor Actor Comédia. Depois de ter ganho o Globo do ano passado, Jim Parsons falha esta lista com estrondo... em benefício do co-protagonista Johnny Galecki. A Associação de Imprensa Estrangeira olhar para The Big Bang Theory e trocar-lhes as nomeações não é a apologia do ar fresco, é só demência.
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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Boardwalk Empire, season 2
Verdadeiramente brilhante.
Não acredito que alguém seja capaz de ver Boardwalk Empire sem reconhecer a sua venerabilidade. É uma daquelas obras que valeria a pena ver qualquer episódio por si só, tamanha é a classe da realização, a qualidade da recriação dos espaços e da época, a fiabilidade do vestuário e da música, e a reinvenção das personagens históricas. Tem uma base tão rica que a distingue necessariamente, um requinte e um glamour que tornam tudo aquilo um prazer.
A primeira temporada resultou num Emmy de Melhor Realizador para nada menos do que Marty Scorsese, e Globos de Ouro para Melhor Série Drama e Melhor Actor (Buscemi), mas até admito que tenha vivido um pouco mais da forma que do conteúdo. Esta segunda, contudo, foi a definitiva afirmação de Boardwalk Empire como um dos pesos-pesados da actualidade.
A bruta qualidade da realização manteve-se, mas o argumento passou ao nível seguinte, e as personagens cresceram desmesuradamente. Boardwalk sempre se evidenciou pelo potencial das diferentes figuras; nesta segunda temporada esse potencial é absolutamente cumprido.
O palco é Atlantic City, New Jersey, na década de 20, época da Lei Seca. A personagem central é Nucky Thompson (Steve Buscemi), inspirado na figura verídica do barão do crime Enoch Johnson, e a série acompanha a luta pelo poder entre os senhores corruptos da América desses tempos. Buscemi é denso e imponente, tudo o que um protagonista deve ser. É cirúrgico, capaz de manter tudo no bolso, e conhece o meio como ninguém. É um diplomata na realidade absolutamente temível, que não esquece, não é engolido, não se redime, não perdoa.
O outro protagonista é Jimmy Darmody (Michael Pitt), um jovem veterano da 1ª Guerra Mundial, que foi criado por Nucky quando este era o número 2 do seu pai, o antigo mandante da cidade. É ele a grande estrela da season 2. É monumental a forma como cresce, depois de no fim da primeira temporada se rebelar contra o seu mentor. Mal aconselhado, nunca consegue ter legitimidade incontestada para controlar os destinos da cidade, o que o deixa numa situação irremediável. Os últimos episódios da temporada são de uma crueza apaixonante e, com justiça, levá-lo-ão a ganhar qualquer coisa este ano.
A série distingue-se, como já disse, pela quantidade de grandes personagens. Tenho de destacar as seguintes: Margaret Schroeder (Kelly Macdonald), a cerebral companheira de Nucky; Gillian Darmody (Gretchen Mol), a insinuante e viperina mãe de Jimmy; Chalky White (Michael Kenneth Williams), o carismático líder da comunidade negra; Richard Harrow (Jack Huston), o desfigurado e leal braço direito de Jimmy; Michael Stuhlbarg, imponente como o verídico Arnold Rothstein, gangster de Nova-Iorque; e Manny Horvitz (William Forsythe), um icónico gangster russo de Filadélfia.
O último episódio da temporada é outro dos marcos de 2011. Providencial, duro, negro, um dos desfechos mais majestosos que já vi. Boardwalk Empire é daquelas que vai ser lembrada daqui a muito tempo. Agora só volta em Outubro de 2012. Para quem nunca viu, é pôr tudo em dia até lá.
Não acredito que alguém seja capaz de ver Boardwalk Empire sem reconhecer a sua venerabilidade. É uma daquelas obras que valeria a pena ver qualquer episódio por si só, tamanha é a classe da realização, a qualidade da recriação dos espaços e da época, a fiabilidade do vestuário e da música, e a reinvenção das personagens históricas. Tem uma base tão rica que a distingue necessariamente, um requinte e um glamour que tornam tudo aquilo um prazer.
A primeira temporada resultou num Emmy de Melhor Realizador para nada menos do que Marty Scorsese, e Globos de Ouro para Melhor Série Drama e Melhor Actor (Buscemi), mas até admito que tenha vivido um pouco mais da forma que do conteúdo. Esta segunda, contudo, foi a definitiva afirmação de Boardwalk Empire como um dos pesos-pesados da actualidade.
A bruta qualidade da realização manteve-se, mas o argumento passou ao nível seguinte, e as personagens cresceram desmesuradamente. Boardwalk sempre se evidenciou pelo potencial das diferentes figuras; nesta segunda temporada esse potencial é absolutamente cumprido.
O palco é Atlantic City, New Jersey, na década de 20, época da Lei Seca. A personagem central é Nucky Thompson (Steve Buscemi), inspirado na figura verídica do barão do crime Enoch Johnson, e a série acompanha a luta pelo poder entre os senhores corruptos da América desses tempos. Buscemi é denso e imponente, tudo o que um protagonista deve ser. É cirúrgico, capaz de manter tudo no bolso, e conhece o meio como ninguém. É um diplomata na realidade absolutamente temível, que não esquece, não é engolido, não se redime, não perdoa.
O outro protagonista é Jimmy Darmody (Michael Pitt), um jovem veterano da 1ª Guerra Mundial, que foi criado por Nucky quando este era o número 2 do seu pai, o antigo mandante da cidade. É ele a grande estrela da season 2. É monumental a forma como cresce, depois de no fim da primeira temporada se rebelar contra o seu mentor. Mal aconselhado, nunca consegue ter legitimidade incontestada para controlar os destinos da cidade, o que o deixa numa situação irremediável. Os últimos episódios da temporada são de uma crueza apaixonante e, com justiça, levá-lo-ão a ganhar qualquer coisa este ano.
A série distingue-se, como já disse, pela quantidade de grandes personagens. Tenho de destacar as seguintes: Margaret Schroeder (Kelly Macdonald), a cerebral companheira de Nucky; Gillian Darmody (Gretchen Mol), a insinuante e viperina mãe de Jimmy; Chalky White (Michael Kenneth Williams), o carismático líder da comunidade negra; Richard Harrow (Jack Huston), o desfigurado e leal braço direito de Jimmy; Michael Stuhlbarg, imponente como o verídico Arnold Rothstein, gangster de Nova-Iorque; e Manny Horvitz (William Forsythe), um icónico gangster russo de Filadélfia.
O último episódio da temporada é outro dos marcos de 2011. Providencial, duro, negro, um dos desfechos mais majestosos que já vi. Boardwalk Empire é daquelas que vai ser lembrada daqui a muito tempo. Agora só volta em Outubro de 2012. Para quem nunca viu, é pôr tudo em dia até lá.
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Jericho (2006-2008)
O pós-apocalipse é uma cena que me assiste, e a glória total de The Walking Dead incentivou a que, mesmo em altura de paragem de Inverno, mantivesse o ritmo. Vai daí fui ressuscitar um velho conhecido com quem tinha simpatizado por alturas do Secundário, quando veio para o ar em Portugal, na SIC. Jericho é a história de uma pequena cidade americana que subsiste a um ataque nuclear em grande escala aos Estados Unidos, causador do desaparecimento de 23 das maiores cidades do país.
A primeira metade da season 1 (que tem, no total, 22 episódios) condensa tudo o que me tinha cativado de início. Uma comunidade que de repente cai num vazio de Estado, que não faz ideia de nada do que se passa à sua volta, que perde electricidade e praticamente todas as suas formas de subsistência. A sobrevivência apela-nos muito aos instintos e cria-se uma empatia grande com aquilo. Decidir pela comunidade, inventar recursos, organizar-se, garantir a segurança de todos em relação ao que está lá fora, não deixar o poder cair na rua, tomar as decisões difíceis, dar valor a tudo o que temos por adquirido.
A primeira metade da season 1 (que tem, no total, 22 episódios) condensa tudo o que me tinha cativado de início. Uma comunidade que de repente cai num vazio de Estado, que não faz ideia de nada do que se passa à sua volta, que perde electricidade e praticamente todas as suas formas de subsistência. A sobrevivência apela-nos muito aos instintos e cria-se uma empatia grande com aquilo. Decidir pela comunidade, inventar recursos, organizar-se, garantir a segurança de todos em relação ao que está lá fora, não deixar o poder cair na rua, tomar as decisões difíceis, dar valor a tudo o que temos por adquirido.
O coração da série é a família Green. O pai, Johnston (Gerald McRaney), é o presidente da Câmara há 20 anos; o filho mais novo e exemplar, Eric (Kenneth Mitchell), é o vice-presidente; e o mais velho, Jake (Skeet Ulrich), é o protagonista, um carismático predestinado que abandonara a cidade anos antes por nunca ter estado à altura do legado da família. As questões familiares e ainda o romance de outros tempos (com a belíssima Ashley Scott) levantadas pelo regresso (que era só passageiro) de Jake são também um indiscutível valor acrescentado para a série.
Ainda assim, é ele e a construção da trama à sua volta o calcanhar de Aquiles da série. A acção é heroicizada para lá de todos os limites, e isso tira-lhe muita credibilidade. Jake pode tudo, faz o que mais ninguém faria, sacrifica-se sempre, safa-se sempre. Tem um fulgor muito para além do recomendado, e a série desgasta-se com isso.
O outro protagonista é o misterioso Robert Hawkins (Lennie James, que teve igualmente um papel curto mas intenso na primeira temporada de The Walking Dead!), um forasteiro que se instala na cidade com a família escassos dias antes do ataque, justamente por saber de tudo o que ia acontecer. Hawkins é o exacto oposto de Jake, e também por isso é a personagem mais notável da série. Racional, frio, absolutamente inteligente, nunca é apanhado desprevenido porque nunca se põe a jeito. Está sempre no controlo da situação, é um ícone. Também merece a nota o velho Mayor Green, a "segunda melhor" personagem, todo ele experiência, classe e carisma.
Na segunda parte da primeira temporada perde-se a mão, e a storyline de confronto com uma cidade vizinha é no geral bastante mal conseguida. A série foi mesmo cancelada por baixas audiências, mas após uma mítica campanha de fãs voltou para uma segunda temporada de 7 episódios. Pese a síndroma dos heroísmos adensar-se até um bocado mais, acho que foi bem acabada, conseguindo dar um fim aberto muito meritório às grandes linhas conspiratórias da trama.
Jericho começa muito forte mas desgasta-se com o tempo. Ainda assim não deixa de ser uma série marcante, com predicados muito particulares, e que explora bem o contexto em que se insere. Não é à toa que em 2007 a TV Guide a colocou em 11º na lista de Séries de Culto de todos os tempos. O legado fez com que os criadores lhe dessem sequência numa série de banda desenhada, sendo que a hipótese de um filme nela baseado foi mesmo aventada na Comic-Con deste ano. Quem sabe.
Ainda assim, é ele e a construção da trama à sua volta o calcanhar de Aquiles da série. A acção é heroicizada para lá de todos os limites, e isso tira-lhe muita credibilidade. Jake pode tudo, faz o que mais ninguém faria, sacrifica-se sempre, safa-se sempre. Tem um fulgor muito para além do recomendado, e a série desgasta-se com isso.
O outro protagonista é o misterioso Robert Hawkins (Lennie James, que teve igualmente um papel curto mas intenso na primeira temporada de The Walking Dead!), um forasteiro que se instala na cidade com a família escassos dias antes do ataque, justamente por saber de tudo o que ia acontecer. Hawkins é o exacto oposto de Jake, e também por isso é a personagem mais notável da série. Racional, frio, absolutamente inteligente, nunca é apanhado desprevenido porque nunca se põe a jeito. Está sempre no controlo da situação, é um ícone. Também merece a nota o velho Mayor Green, a "segunda melhor" personagem, todo ele experiência, classe e carisma.
Na segunda parte da primeira temporada perde-se a mão, e a storyline de confronto com uma cidade vizinha é no geral bastante mal conseguida. A série foi mesmo cancelada por baixas audiências, mas após uma mítica campanha de fãs voltou para uma segunda temporada de 7 episódios. Pese a síndroma dos heroísmos adensar-se até um bocado mais, acho que foi bem acabada, conseguindo dar um fim aberto muito meritório às grandes linhas conspiratórias da trama.
Jericho começa muito forte mas desgasta-se com o tempo. Ainda assim não deixa de ser uma série marcante, com predicados muito particulares, e que explora bem o contexto em que se insere. Não é à toa que em 2007 a TV Guide a colocou em 11º na lista de Séries de Culto de todos os tempos. O legado fez com que os criadores lhe dessem sequência numa série de banda desenhada, sendo que a hipótese de um filme nela baseado foi mesmo aventada na Comic-Con deste ano. Quem sabe.
(o genérico de cada episódio é acompanhado por uma mensagem áudio em código morse, com pistas sobre ele)
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terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Quem te viu e quem te vê
Nunca dei grande coisa por Balotelli. Fazer merda quase todos fazem, mas ele sempre abusou. E andar armado em infant terrible sem render em campo nunca encheu barrigas. No Inter era só um miúdo sobrevalorizado num clube esquecido, e quando passou incorrigível pelas mãos de Mourinho dei-o de vez como caso perdido.
Hoje admito que me enganei. Balotelli continua a fazer merdas numa base diária. É notícia todas as semanas, seja por atirar dardos a juvenis, por incendiar a casa de banho de casa ou por sair à noite na véspera de jogos grandes. A diferença é que Mancini fez dele um jogador. Ontem, mesmo na derrota com o Chelsea, foi ele o mais exuberante em campo. Marcou, como já tinha bisado em Old Trafford, ou marcado outras duas vezes na Liga dos Campeões. Vai com 11 golos em 16 jogos, e é daqueles que cheira os jogos grandes. Está feito num misto incendiário de potência, controlo e capacidade de definir. A arrogância continua lá (não que seja um problema), mas agora quando arranca é sempre para fazer estragos. Fica mais temível a cada dia que passa.
Quando foi eleito Golden Boy, no ano passado, disse que melhor do que ele só Messi. Saiba continuar ligado ao que verdadeiramente interessa, e não haja dúvidas de que o céu é o limite.
Hoje admito que me enganei. Balotelli continua a fazer merdas numa base diária. É notícia todas as semanas, seja por atirar dardos a juvenis, por incendiar a casa de banho de casa ou por sair à noite na véspera de jogos grandes. A diferença é que Mancini fez dele um jogador. Ontem, mesmo na derrota com o Chelsea, foi ele o mais exuberante em campo. Marcou, como já tinha bisado em Old Trafford, ou marcado outras duas vezes na Liga dos Campeões. Vai com 11 golos em 16 jogos, e é daqueles que cheira os jogos grandes. Está feito num misto incendiário de potência, controlo e capacidade de definir. A arrogância continua lá (não que seja um problema), mas agora quando arranca é sempre para fazer estragos. Fica mais temível a cada dia que passa.
Quando foi eleito Golden Boy, no ano passado, disse que melhor do que ele só Messi. Saiba continuar ligado ao que verdadeiramente interessa, e não haja dúvidas de que o céu é o limite.
Vivos
O Chelsea foi finalmente feliz. Numa partida modesta, com poucas oportunidades, é verdade que não brilhou, nem sequer jogou mais do que o City, mas teve o mérito de, com um golo sofrido absolutamente a frio, e com tudo a perder, ainda ter ido a tempo de acreditar que era possível. Depois foi saber ter estrelinha. É uma grande vitória de Villas-Boas. Tem corrido quase tudo mal a este Chelsea e, apesar de já ter mostrado que há ali futebol para mais, há uma semana a sepultura estava escancarada: 12 pontos de atraso para o primeiro, derrotas em todos os quatro jogos grandes!, e a própria Liga dos Campeões em risco. Sem um fio de rede que o segurasse numa semana que podia definir o rumo da sua carreira, Villas-Boas foi supremo. Ganhou em Newcastle, casa da equipa-sensação da Liga, ganhou o grupo da Champions ao Valência, e hoje impôs a primeira derrota da época ao líder.
O homem do jogo, qual assinatura do novo Chelsea de "miúdos", foi um tal de Danny Sturridge. Avançado, 22 anos, nome menor ainda que com história nas selecções jovens inglesas, parecia condenado a uma época de jogos na sombra. Hoje, como nos últimos tempos, deixou Torres e Malouda no banco, Anelka na bancada, e inventou os dois golos da vitória. É um avançado moderno, móvel, de remate fácil, com um grande pé esquerdo. É capaz de dar que falar no Euro.
No fim, mesmo na noite de um Chelsea onde agora pontificam ele, Ramires, Meireles ou Mata, Lampard marcou o golo da vitória, Drogba foi o farol que iluminou os últimos minutos, e Terry o mais entusiasta de todos nos festejos. Omnipresentes, quais monstros destinados a proteger Stamford Bridge para a eternidade. No fundo, o Chelsea são eles. Numa era de renovação, a equipa precisará dos três mais do que nunca.
O 2-1 de hoje não muda praticamente nada no panorama da Premier League. City e United continuam a ser os grandes favoritos, 7 pontos de atraso continuam a ser muita coisa, e não é garantido que este Chelsea já tenha sequer força para se aguentar sobre as próprias pernas. Certo é que, no momento do tudo ou nada, a equipa mostrou que está viva. Foi essa a primeira grande vitória de Villas-Boas. Era também a mais difícil.
O homem do jogo, qual assinatura do novo Chelsea de "miúdos", foi um tal de Danny Sturridge. Avançado, 22 anos, nome menor ainda que com história nas selecções jovens inglesas, parecia condenado a uma época de jogos na sombra. Hoje, como nos últimos tempos, deixou Torres e Malouda no banco, Anelka na bancada, e inventou os dois golos da vitória. É um avançado moderno, móvel, de remate fácil, com um grande pé esquerdo. É capaz de dar que falar no Euro.
No fim, mesmo na noite de um Chelsea onde agora pontificam ele, Ramires, Meireles ou Mata, Lampard marcou o golo da vitória, Drogba foi o farol que iluminou os últimos minutos, e Terry o mais entusiasta de todos nos festejos. Omnipresentes, quais monstros destinados a proteger Stamford Bridge para a eternidade. No fundo, o Chelsea são eles. Numa era de renovação, a equipa precisará dos três mais do que nunca.
O 2-1 de hoje não muda praticamente nada no panorama da Premier League. City e United continuam a ser os grandes favoritos, 7 pontos de atraso continuam a ser muita coisa, e não é garantido que este Chelsea já tenha sequer força para se aguentar sobre as próprias pernas. Certo é que, no momento do tudo ou nada, a equipa mostrou que está viva. Foi essa a primeira grande vitória de Villas-Boas. Era também a mais difícil.
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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
A Total Film fez um top das 50 mulheres mais sexy do cinema e, em consciência, deixou esta senhora de fora.
Aqui.
Não que desculpe, mas ao menos a Scarlett fica em primeiro. Menção honrosa de fim de ano para Jolie, Hendricks, Mila, Emma Stone, Rosie e January, por esta ordem.
domingo, 11 de dezembro de 2011
A inevitabilidade da derrota
Perder para o Barça já me deixa mais apático do que irritado. Parece que jogar é uma mera formalidade. Independente ao momento, às circunstâncias do jogo ou ao ambiente, o Barça vem, vê e vence. Hoje houve outra vez a ilusão de que estava tudo na mão do Real, potenciada ao céu pela fortuna de um golo aos 22 segundos. Pura brincadeira. Com tanta tensão como num treino com os juniores, o Barcelona não só virou e matou o jogo, como acabou a maltratar o Real com o fantasma de mais uma goleada. Mesmo sem a magistralidade de outras noites, mesmo com um Messi muito menos exuberante do que é costume, o resultado final foi mais um banho de futebol.
A questão colocou-se em cada "El Clásico" dos últimos dois anos, uma sobre outra vez com esperança renovada para o lado dos de Mourinho, mas é determinante reconhecer a evidência de uma vez por todas: não é que o Real seja banal, ou que Mourinho seja insuficiente, mas o Barcelona é uma das 2 ou 3 melhores equipas da História do futebol. E com uma dessas, não nos enganemos mais, é impossível jogar de igual para igual.
Mourinho lançou mesmo Ozil, quis estar à altura, tocou as estrelas durante meia-hora, mas depois foi varrido pela dureza da realidade. Acreditou, como acreditávamos muitos, que era possível; não é. E, goste-se ou não, da próxima o Real tem de ter a humildade de voltar a baixar a fasquia, meter a faca entre os dentes e voltar a cerrar as fileiras, porque essa é a única maneira de voltar a ter uma chance.
Mesmo em dia de uma derrota a toda a linha, que fique aqui uma certeza: se Mourinho for capaz de ser campeão frente a este Barcelona, pois que não restem dúvidas de que é o melhor treinador de todos os tempos.
A questão colocou-se em cada "El Clásico" dos últimos dois anos, uma sobre outra vez com esperança renovada para o lado dos de Mourinho, mas é determinante reconhecer a evidência de uma vez por todas: não é que o Real seja banal, ou que Mourinho seja insuficiente, mas o Barcelona é uma das 2 ou 3 melhores equipas da História do futebol. E com uma dessas, não nos enganemos mais, é impossível jogar de igual para igual.
Mourinho lançou mesmo Ozil, quis estar à altura, tocou as estrelas durante meia-hora, mas depois foi varrido pela dureza da realidade. Acreditou, como acreditávamos muitos, que era possível; não é. E, goste-se ou não, da próxima o Real tem de ter a humildade de voltar a baixar a fasquia, meter a faca entre os dentes e voltar a cerrar as fileiras, porque essa é a única maneira de voltar a ter uma chance.
Mesmo em dia de uma derrota a toda a linha, que fique aqui uma certeza: se Mourinho for capaz de ser campeão frente a este Barcelona, pois que não restem dúvidas de que é o melhor treinador de todos os tempos.
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sábado, 10 de dezembro de 2011
Sí, se puede
Segundo a lenda, Mourinho deve ter passado a semana a rever um único DVD: Camp Nou, 29 de Novembro de 2010. Provavelmente a maioria das pessoas não se lembrará, mas no ano passado, à boca do Clássico, as coisas estavam surpreendentemente parecidas ao que estão hoje. A Espanha e a Europa estavam rendidas ao futebol do Real, que chegava ao seu primeiro derby também na liderança isolada do campeonato. Os próprios blaugrana transpiravam respeito e, apesar de o jogo ser no Camp Nou, acreditava-se que aquela estava destinada a ser a primeira pedra do projecto Moudrid. Em campo, no entanto, o que houve foi um abismo perfeitamente colossal. Mourinho sofreu a maior derrota e a maior humilhação da carreira, o Barça acelerou de maneira irremediável para o tri-campeonato.
É um jogo que assombrará Mourinho para todo o sempre. Nem ele, feiticeiro, foi capaz de o prever nos seus piores pesadelos. A sorte quis que Barcelona e Real se voltassem a encontrar mais 4 vezes durante a época, e que passasse à História o Madrid do futebol agressivo, duro e de faca nos dentes, dos três trincos e do anti-jogo. Quase ninguém se lembrará, contudo, que nessa já distante noite na Catalunha, Mourinho entrou... ao ataque, disposto a jogar o jogo pelo jogo. E que no miolo estava Ozil, ao invés do combo Pepe-Xabi-Khedira que foi sempre usado depois.
O destino, irónico e incontrolável, achou que era altura de voltar a tentar Mourinho. E lá está o Real, ainda mais supremo, ainda mais líder, ainda mais candidato. Desta vez até a abrir as hostilidades em pleno Bernabéu. E, no entanto, resume-se tudo ao mesmo: querer jogar, como no histórico 0-5, e poder pôr tudo a perder outra vez? Ou cerrar fileiras, sacrificar as maiores possibilidades de vitória, mas ser pragmático?
É um dos jogos da vida de Mourinho, sinceramente. Empatar é continuar numa posição muito boa, privilegiada; por outro lado, só a vitória será a verdadeira legitimação deste Real. A equipa precisa deste jogo. Mourinho saberá melhor do que ninguém que não pode perder - porque os três pontos à maior rapidamente se esfumariam num desalento tremendo -, mas terá a consciência de que não haverá maior oportunidade de ganhar do que esta: o Real providencial e contagiante, com o Bernabéu a explodir, frente a um Barça muito menos incondicional, atrás de 6 pontos de prejuízo.
Atacar o Barcelona será sempre uma armadilha. Mas, se fosse Mourinho, era uma armadilha onde hoje arriscaria entrar. Porque manter a vantagem não prova nada; ganhar, contudo, é um cheque-mate.
É um jogo que assombrará Mourinho para todo o sempre. Nem ele, feiticeiro, foi capaz de o prever nos seus piores pesadelos. A sorte quis que Barcelona e Real se voltassem a encontrar mais 4 vezes durante a época, e que passasse à História o Madrid do futebol agressivo, duro e de faca nos dentes, dos três trincos e do anti-jogo. Quase ninguém se lembrará, contudo, que nessa já distante noite na Catalunha, Mourinho entrou... ao ataque, disposto a jogar o jogo pelo jogo. E que no miolo estava Ozil, ao invés do combo Pepe-Xabi-Khedira que foi sempre usado depois.
O destino, irónico e incontrolável, achou que era altura de voltar a tentar Mourinho. E lá está o Real, ainda mais supremo, ainda mais líder, ainda mais candidato. Desta vez até a abrir as hostilidades em pleno Bernabéu. E, no entanto, resume-se tudo ao mesmo: querer jogar, como no histórico 0-5, e poder pôr tudo a perder outra vez? Ou cerrar fileiras, sacrificar as maiores possibilidades de vitória, mas ser pragmático?
É um dos jogos da vida de Mourinho, sinceramente. Empatar é continuar numa posição muito boa, privilegiada; por outro lado, só a vitória será a verdadeira legitimação deste Real. A equipa precisa deste jogo. Mourinho saberá melhor do que ninguém que não pode perder - porque os três pontos à maior rapidamente se esfumariam num desalento tremendo -, mas terá a consciência de que não haverá maior oportunidade de ganhar do que esta: o Real providencial e contagiante, com o Bernabéu a explodir, frente a um Barça muito menos incondicional, atrás de 6 pontos de prejuízo.
Atacar o Barcelona será sempre uma armadilha. Mas, se fosse Mourinho, era uma armadilha onde hoje arriscaria entrar. Porque manter a vantagem não prova nada; ganhar, contudo, é um cheque-mate.
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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Em casa são sempre bem-vindos
Deco e Liedson têm 34 anos. O primeiro foi figura maior em tudo o que de grande se fez na última década. 75 internacionalizações a falarem por ele, um dos pilares indiscutíveis do grande Portugal que espantou a Europa e o Mundo. O segundo coroou a carreira brilhante por cá com uma participação instrumental no nosso apuramento para o último Campeonato do Mundo. Ambos jogadores notáveis, decisivos, referências, ambos a despedirem-se da Selecção no pós-África do Sul. Deco por iniciativa, Liedson por uma qualquer dedução tácita.
Aos 34 anos, foram duas das figuras do Brasileirão que agora acabou. O Mágico mais intermitente, mas mesmo assim a ser considerado o segundo melhor interior-direito da competição. O Levezinho imponente, melhor marcador do Corinthians campeão nacional, idolatrado pelos seus e admirado pelos rivais, nomeado segundo melhor jogador do campeonato pelos adeptos. Claro que na América do Sul garantiram anos pela frente que se calhar já não teriam na Europa, mas hoje são tudo menos velhos. A qualidade abundante e a capacidade de definir continuam lá, insinuantes, intocadas.
As selecções vivem muito de ciclos e os ciclos fazem sentido, devem ser respeitados. Agarrar-se ao passado pode ser perigoso e muitas vezes contra-producente. O tempo passa, os antigos já não são o que eram, tira-se espaço à frescura dos novos e, pelo caminho, a dinâmica de grupo pode sair ferida de morte. Se fosse para apostar, diria que nem passa pela cabeça de Paulo Bento recorrer a qualquer um deles. O que compreendo... mas não posso concordar. Porque Deco e Liedson têm uma história na Selecção e no país; porque continuariam a ser, hoje, aos 34 anos, depois do adeus, mesmo já fora da competitividade europeia, duas incríveis mais-valias para o grupo; e porque, no fundo, nenhum deles é o tipo de jogador que possa simplesmente ser dispensado quando está ao nosso alcance.
Figo saiu depois do Euro-2004, mas voltou para jogar o Alemanha-2006. Se fosse eu a escolher, Deco e Liedson estariam sempre nos 23 para ir à Polónia e à Ucrânia.
Aos 34 anos, foram duas das figuras do Brasileirão que agora acabou. O Mágico mais intermitente, mas mesmo assim a ser considerado o segundo melhor interior-direito da competição. O Levezinho imponente, melhor marcador do Corinthians campeão nacional, idolatrado pelos seus e admirado pelos rivais, nomeado segundo melhor jogador do campeonato pelos adeptos. Claro que na América do Sul garantiram anos pela frente que se calhar já não teriam na Europa, mas hoje são tudo menos velhos. A qualidade abundante e a capacidade de definir continuam lá, insinuantes, intocadas.
As selecções vivem muito de ciclos e os ciclos fazem sentido, devem ser respeitados. Agarrar-se ao passado pode ser perigoso e muitas vezes contra-producente. O tempo passa, os antigos já não são o que eram, tira-se espaço à frescura dos novos e, pelo caminho, a dinâmica de grupo pode sair ferida de morte. Se fosse para apostar, diria que nem passa pela cabeça de Paulo Bento recorrer a qualquer um deles. O que compreendo... mas não posso concordar. Porque Deco e Liedson têm uma história na Selecção e no país; porque continuariam a ser, hoje, aos 34 anos, depois do adeus, mesmo já fora da competitividade europeia, duas incríveis mais-valias para o grupo; e porque, no fundo, nenhum deles é o tipo de jogador que possa simplesmente ser dispensado quando está ao nosso alcance.
Figo saiu depois do Euro-2004, mas voltou para jogar o Alemanha-2006. Se fosse eu a escolher, Deco e Liedson estariam sempre nos 23 para ir à Polónia e à Ucrânia.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Monta-te, Pro Evolution Soccer
Estou farto de ti. Juro. Centenas de jogos depois, e tu ainda me fazes isto, seu cabrão. É de mais. Se isto fosse um casamento, não havia APAV que te safasse. Já tinhas sido imolado, e esse teu cd tinha ficado em papa de plástico. Um gajo até passa bons momentos contigo, corre com o Ronaldo e o caraças, até dá um certo show na internet, só para tu, à primeira oportunidade, me vires à cara. Seu cabrão. Aproveita e passa o seguinte ao japonês que te criou:
1. Foras-de-jogo em linha não são foras-de-jogo, besta.
2. Como é que vocês fazem um jogo de futebol sem saber o que é a lei da vantagem? É agradecer a deus por terem posto balizas e uma bola.
3. Deixa-me seleccionar os meus próprios jogadores, seu cabrão. Não os troques no meio de um ataque adversário, não os desselecciones porque sim, deixa-me em paz.
4. Quando a bola passa a meio palmo de um jogador que por alguma razão do mundo não está seleccionado, ele não pode continuar a andar indiferente como se fosse a Alice no país das maravilhas.
5. Um bola no espaço não pode ter três jogadores meus desseleccionados e desseleccionáveis no mesmo segundo. Isto não é um jogo de pessoas em coma, seu deficiente, a inteligência artificial existe.
6. Quando eu estou num ombro a ombro com um adversário e ele ganha (mesmo que ele seja um duende e eu seja o Golias, até te dou isso de barato), agradecia que o meu jogador não ficasse inerte como se tivesse levado um combo no Teken.
7. Os jogadores com mais técnica do mundo não recebem a bola com as canelas SEMPRE, e não têm de correr 30 metros para trás só para poderem dominá-la.
8. Jogadores em fora-de-jogo sem interferência no lance não anulam uma jogada.
9. Abalroar os meus jogadores NÃO É uma carga de ombro.
10. Não existem jogos em que nenhum remate pode entrar na baliza. Não existem. Isto não é a merda de uma macumba; isto é uma porra virtual em que a mesma acção tem de produzir sempre o mesmo resultado. Acertar 3 vezes no poste, depois por cima, depois ao lado, depois no guarda-redes, depois tropeçar, depois o passe sair muito fraco, depois o mesmo passe sair muito forte, depois levar o golo da derrota, não existe.
É por estas e por outras que o PES 12 vai ficar a olhar cá para casa lá da prateleira da loja. É por estas e por outras que o FIFA anda a vender 25 vezes mais. Ah pois é bebé, karma is a bitch. Eat shit and die.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
"A magnitude da desgraça que há muito lhe fazia uma espera"
"Passa da meia noite e assim se inicia o dia mais importante da vida de Vítor Pereira. Apoio-o. Não por inteira convicção, mas pelo desejo convicto de dizer que tentei tudo. O medo do remorso no adeus faz de mim um cobarde narcisista, um conservador-romântico temeroso dos ocasos. Duvido do treinador, gosto do homem, custa-me a magnitude da desgraça que há muito lhe faz uma espera. Não contem comigo para ter razão antes do tempo. Fico na pista até à derradeira valsa."
Bruno Sena Martins antes do Shakthar-Porto, em Avatares de um Desejo
Depois do descalabro em Coimbra, a sobrevivência imediata de Vítor Pereira dependia não de uma, não de duas, mas de três vitórias seguidas. Shakthar-Braga-Zenit, chegar ao Natal líder da Liga e nos oitavos-de-final da Champions. O Porto sobreviveu a Donetsk, passou o Braga, as hostes ganharam um entusiasmo compreensível mas, como escrevi logo após esse jogo na Ucrânia, este Porto trilhou um caminho que não costuma ter regresso. Ninguém acreditava verdadeiramente na mudança, no máximo tentava crer que o falhanço quem sabe não chegasse. Chegou hoje.
Com o melhor plantel do grupo mais acessível que disputou em anos, o Porto sai da Liga dos Campeões pela porta dos fundos, frente a um Zenit banalíssimo, porque, em casa, não foi capaz de marcar um único golo aos russos. A meia-hora do fim já o destino parecia consumado, o que fala por si. O Porto meteu bolas na área, instalou-se no meio-campo russo, mas os jogadores pura e simplesmente não acreditavam. Ninguém acreditava, e quanto a isso não há nada a fazer. Vítor Pereira voltou a entrar com um onze que não era a sua melhor equipa, voltou a abdicar do meio-campo durante uma parte e voltou a fazer uma caricatura de tudo isto, alimentada, ainda por cima, pelo inócuo "caso Danny", que instigou todo contente antes do jogo, tornando a técnica de "guerrilha" numa piada desoladora.
Olhando para o modus operandi do clube, provavelmente Vítor Pereira até vai continuar em funções, pelo menos enquanto não comprometer a campanha interna. Não restam dúvidas, contudo, de que desta vez Pinto da Costa deu um potente tiro ao lado.
Com o melhor plantel do grupo mais acessível que disputou em anos, o Porto sai da Liga dos Campeões pela porta dos fundos, frente a um Zenit banalíssimo, porque, em casa, não foi capaz de marcar um único golo aos russos. A meia-hora do fim já o destino parecia consumado, o que fala por si. O Porto meteu bolas na área, instalou-se no meio-campo russo, mas os jogadores pura e simplesmente não acreditavam. Ninguém acreditava, e quanto a isso não há nada a fazer. Vítor Pereira voltou a entrar com um onze que não era a sua melhor equipa, voltou a abdicar do meio-campo durante uma parte e voltou a fazer uma caricatura de tudo isto, alimentada, ainda por cima, pelo inócuo "caso Danny", que instigou todo contente antes do jogo, tornando a técnica de "guerrilha" numa piada desoladora.
Olhando para o modus operandi do clube, provavelmente Vítor Pereira até vai continuar em funções, pelo menos enquanto não comprometer a campanha interna. Não restam dúvidas, contudo, de que desta vez Pinto da Costa deu um potente tiro ao lado.
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Warrior
É de altos e baixos. No geral o argumento é mau: dois irmãos fora do circuito profissional que acabam num duelo pelo título mundial de pesos médios (não é spoiler, está no trailer). O cenário - um grande torneio com os melhores do planeta e um prize pool nunca visto - é pobre, e o percurso de cada um deixa a desejar. Para mais, desde o momento em que vemos o trailer sabemos como é que acaba.
Felizmente o filme é muito bom a nível humano. O combate e as motivações de cada um para ganhar são só a envolvência para o verdadeiro cerne da acção, que é um triângulo profundamente despedaçado de um pai e dos seus dois filhos. A família separara-se há muito, em virtude do alcoolismo do primeiro, e ambos os irmãos tornaram-se tão distantes dele como de si próprios. A história, com um subtileza notável, vai andar em bicos de pés sobre os cacos dessa relação tripartida, e os diferentes momentos de choque entre cada um dos protagonistas são realmente tocantes. A cena entre Nick Nolte e Tom Hardy no casino é mesmo um dos maiores nós na garganta do ano.
O fim acaba por ser bastante bom, porque a tal previsibilidade torna-se num mero pormenor; o que está em jogo não é a vitória, mas o desfecho da própria relação entre homens do mesmo sangue com muito para se redimir. Esta "reinvenção" do que estávamos à espera de ver é um corolário com chave de ouro.
A grande estrela do filme é Nick Nolte, o pai à procura de perdão. É um secundário de todo o tamanho, consumido por uma imensa mágoa e pela vontade de corrigir o passado. A maneira como aguenta com que os filhos o passem a ferro é de uma crueza a toda a prova, e o desalento na sua cara é de uma empatia inevitável. É bom o suficiente para chegar às nomeações.
Joel Edgerton, filho mais velho, o homem de família que teve de voltar aos ringues, sai-se bem. Tinha um papel mais fácil, mas tem postura. De Tom Hardy, filho mais novo, revoltado, esperava mais. Cresce com o filme, mas faltou-lhe qualquer coisa: mais clarividência, mais expressividade.
Warrior não vale os 8.3 que ostenta no imdb, mas é um filme com nível em muitos momentos e que merece reconhecimento por isso.
7/10
Felizmente o filme é muito bom a nível humano. O combate e as motivações de cada um para ganhar são só a envolvência para o verdadeiro cerne da acção, que é um triângulo profundamente despedaçado de um pai e dos seus dois filhos. A família separara-se há muito, em virtude do alcoolismo do primeiro, e ambos os irmãos tornaram-se tão distantes dele como de si próprios. A história, com um subtileza notável, vai andar em bicos de pés sobre os cacos dessa relação tripartida, e os diferentes momentos de choque entre cada um dos protagonistas são realmente tocantes. A cena entre Nick Nolte e Tom Hardy no casino é mesmo um dos maiores nós na garganta do ano.
O fim acaba por ser bastante bom, porque a tal previsibilidade torna-se num mero pormenor; o que está em jogo não é a vitória, mas o desfecho da própria relação entre homens do mesmo sangue com muito para se redimir. Esta "reinvenção" do que estávamos à espera de ver é um corolário com chave de ouro.
A grande estrela do filme é Nick Nolte, o pai à procura de perdão. É um secundário de todo o tamanho, consumido por uma imensa mágoa e pela vontade de corrigir o passado. A maneira como aguenta com que os filhos o passem a ferro é de uma crueza a toda a prova, e o desalento na sua cara é de uma empatia inevitável. É bom o suficiente para chegar às nomeações.
Joel Edgerton, filho mais velho, o homem de família que teve de voltar aos ringues, sai-se bem. Tinha um papel mais fácil, mas tem postura. De Tom Hardy, filho mais novo, revoltado, esperava mais. Cresce com o filme, mas faltou-lhe qualquer coisa: mais clarividência, mais expressividade.
Warrior não vale os 8.3 que ostenta no imdb, mas é um filme com nível em muitos momentos e que merece reconhecimento por isso.
7/10
Estar ou não estar
"Cristiano a trabalhar sempre muito, cada dia mais. A resistir às tentações. A ganhar. A trabalhar ainda mais. A ganhar de novo. A ganhar quase sempre, novo e já o melhor jogador português de sempre, coisa que não se diz alto porque há Eusébio e Eusébio é Eusébio, aprendemos todos muito cedo na vida de apaixonados pelo futebol."
Ronaldo vai perder esta Bola de Ouro 2011. Não é por isso que estar nomeado é menos importante. A esmagadora maioria dos melhores jogadores do Mundo não tem a honra de fazer parte do trio finalista uma única vez na vida; aos 26 anos, Ronaldo falo-á pela... quarta vez. Não é indiferente ganhar ou perder, mas faz toda a diferença estar ou não estar, seja para qual deles for. E Ronaldo tem estado quase sempre lá, no lugar devido ao melhor jogador português de todos os tempos, porque todos os dias faz mais, faz melhor, e porque, no fundo, todos os dias está mais perto de ganhá-la outra vez.
Luís Sobral, no maisfutebol
Ronaldo vai perder esta Bola de Ouro 2011. Não é por isso que estar nomeado é menos importante. A esmagadora maioria dos melhores jogadores do Mundo não tem a honra de fazer parte do trio finalista uma única vez na vida; aos 26 anos, Ronaldo falo-á pela... quarta vez. Não é indiferente ganhar ou perder, mas faz toda a diferença estar ou não estar, seja para qual deles for. E Ronaldo tem estado quase sempre lá, no lugar devido ao melhor jogador português de todos os tempos, porque todos os dias faz mais, faz melhor, e porque, no fundo, todos os dias está mais perto de ganhá-la outra vez.
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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
"Quero morrer em um domingo e com o Corinthians campeão"
Disse-o Sócrates... há 28 anos. Ontem, domingo, dia da sua morte, o Timão honrou-o com o 5º título da sua história.
É por isto que o futebol é diferente de tudo. Apaixonante, místico, arrepiante, incomparável. Isto só existe aqui. "Doutor" Sócrates chegou ao Corinthians aos 24 anos, só depois de se licenciar em Medicina, e, enquanto se celebrava como um dos melhores playmakers da história do jogo - também no Brasil de 82, a melhor selecção de todos os tempos - tornou-se no símbolo político de uma geração.
O seu punho cerrado ao alto foi a imagem suprema da Democracia Corinthiana, o movimento nascido no clube para combater a ditadura militar que vigorava no Brasil dos anos 80. "Era um grupo de jogadores inteligentes, cultos, que tinham estudado e defendiam ideais. Os militares proibiam-nos as mensagens, coagiam-nos e perseguiam-nos. Mas pessoas de todas as áreas juntaram-se à luta. Jorge Amado escrevia sobre nós, Gilberto Gil dedicou-nos uma música, Rita Lee cantava com a camisola do Corinthians" lembra Washington Olivetto, vice-presidente da altura.
"Doutor" Sócrates era um daqueles bigger than life, um dos que mostrou, inequivocamente, a verdadeira dimensão do fenómeno futebol. Mereceu ser relembrado como o foi ontem. E mereceu partir na sua própria profecia.
É por isto que o futebol é diferente de tudo. Apaixonante, místico, arrepiante, incomparável. Isto só existe aqui. "Doutor" Sócrates chegou ao Corinthians aos 24 anos, só depois de se licenciar em Medicina, e, enquanto se celebrava como um dos melhores playmakers da história do jogo - também no Brasil de 82, a melhor selecção de todos os tempos - tornou-se no símbolo político de uma geração.
O seu punho cerrado ao alto foi a imagem suprema da Democracia Corinthiana, o movimento nascido no clube para combater a ditadura militar que vigorava no Brasil dos anos 80. "Era um grupo de jogadores inteligentes, cultos, que tinham estudado e defendiam ideais. Os militares proibiam-nos as mensagens, coagiam-nos e perseguiam-nos. Mas pessoas de todas as áreas juntaram-se à luta. Jorge Amado escrevia sobre nós, Gilberto Gil dedicou-nos uma música, Rita Lee cantava com a camisola do Corinthians" lembra Washington Olivetto, vice-presidente da altura.
"Doutor" Sócrates era um daqueles bigger than life, um dos que mostrou, inequivocamente, a verdadeira dimensão do fenómeno futebol. Mereceu ser relembrado como o foi ontem. E mereceu partir na sua própria profecia.
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sábado, 3 de dezembro de 2011
EURO 2012: Medo?
Mas medo de quê? Grupos da morte são a nossa cena. Não há cá mariquices de azar e termos de nos transcender e sofrer e ter esperança. Nós nascemos para isto. Isto das grandes competições só tem piada se pudermos achincalhar os gajos grandes, gozar com o favoritismo deles e ir-lhes à cara com a naturalidade do nosso talento, mesmo que eles é que sejam os maiores, os melhores, os mais ricos, ou que mandem na União Europeia. No campo podemos ser melhores do que eles, e não dizemos isso de muitas coisas. Imaginem, então, o degredo que era irmos ao Leste jogar um grupo como o dos mijões dos gregos, e ainda termos um azar nos oitavos, como em 2008? O que se quer é aquilo quentinho desde o primeiro pontapé de saída, tragá-los a todos como em 2000 ou, no pior dos casos, quinar alguém que interessa antes de vir para casa. Europeu para nós só com jogos a sério. Não é à toa que em 2004 demos duas abébias aos gregos: o que nós queríamos era aviar espanhóis, ingleses e holandeses, o resto eram trocos.
E o sorteio até teve a gentileza de nos afastar de França e Itália, esses porcos do Sul que nos põem sempre a coçar. O universo tem a consciência de que o nosso forte é o eixo anglo-centro-germano-nórdico e fez questão de ser fofo. Quem é que se arrelia com os dinamarqueses? É como pôr aqueles putos que são os maiores nos jogos de aviões a conduzir um a sério. Ganhar as qualificações é como ganhar os treinos, e o pessoal lá de cima vai ter de aprender da pior maneira como elas mordem quando não estamos todos a brincar.
A cena do medo em relação a este sorteio só percebia se fosse holandês. Porra, aí sim. Tinha perdido a noite e já tinha ligado a alguma associação de protecção à vítima. Nos últimos 10 anos pusemos os gajos fora de dois Mundiais e de um Europeu... Marcámos-lhes golos que desafiam as leis da física, e em Nuremberga, quando se tornou numa batalha... ganhámos na mesma. Acho que devíamos ser processados pelo que fazemos aos holandeses.
E no fim a Mannschaft, qual cereja no topo do bolo, nos dias em que a imperatriz pensa que isto é tudo deles outra vez. É como apanhar no recreio o cabrão do miúdo culpado por estarmos de castigo; é o universo, na sua infinita sabedoria, a convidar-nos a ajustar contas lá no campo, onde somos todos iguais.
A única coisa que correu mal foi não podermos apanhar os ingleses logo nos quartos-de-final. É uma vergonha já não haver respeito pelo melhor cliente da casa.
E o sorteio até teve a gentileza de nos afastar de França e Itália, esses porcos do Sul que nos põem sempre a coçar. O universo tem a consciência de que o nosso forte é o eixo anglo-centro-germano-nórdico e fez questão de ser fofo. Quem é que se arrelia com os dinamarqueses? É como pôr aqueles putos que são os maiores nos jogos de aviões a conduzir um a sério. Ganhar as qualificações é como ganhar os treinos, e o pessoal lá de cima vai ter de aprender da pior maneira como elas mordem quando não estamos todos a brincar.
A cena do medo em relação a este sorteio só percebia se fosse holandês. Porra, aí sim. Tinha perdido a noite e já tinha ligado a alguma associação de protecção à vítima. Nos últimos 10 anos pusemos os gajos fora de dois Mundiais e de um Europeu... Marcámos-lhes golos que desafiam as leis da física, e em Nuremberga, quando se tornou numa batalha... ganhámos na mesma. Acho que devíamos ser processados pelo que fazemos aos holandeses.
E no fim a Mannschaft, qual cereja no topo do bolo, nos dias em que a imperatriz pensa que isto é tudo deles outra vez. É como apanhar no recreio o cabrão do miúdo culpado por estarmos de castigo; é o universo, na sua infinita sabedoria, a convidar-nos a ajustar contas lá no campo, onde somos todos iguais.
A única coisa que correu mal foi não podermos apanhar os ingleses logo nos quartos-de-final. É uma vergonha já não haver respeito pelo melhor cliente da casa.
A uma certa distância o melhor lateral-esquerdo do mundo
Com Di María, Ronaldo e Sérgio Ramos igualmente endiabrados, o Madrid chega imaculado ao "El Clásico".
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Prá semana à mesma hora
Passei uma semana a ouvir falar do Sporting-Benfica dos quartos-de-final da Taça. O Marítimo entrar hoje em campo era só uma formalidade para a comunicação social deste país: a Taça deste ano era o que vinha a seguir. Logo no sorteio o representante do Benfica disse que jogar nos Barreiros duas vezes seguidas era "uma prenda para os benfiquistas da Madeira." Jesus anteviu o jogo garantindo que nenhuma equipa joga de olhos nos olhos com o Benfica. E entrou em campo com os suplentes. E, a jogar mal, teve direito a um penalty escandalosamente espoliado, daqueles que uma equipa como o Marítimo nunca vai ter num jogo destes.
Acontece que demos para tudo. E, com uma segunda-parte do outro mundo, demos também um chuto no rabo da única equipa europeia sem derrotas. No fim do jogo, Jesus não falou por menos: "Se o Marítimo ganhou é claro que estou surpreendido." Ao menos na próxima semana já sabem ao que vão.
Ah, e o golo do ano foi de graça, não é preciso agradecerem.
Acontece que demos para tudo. E, com uma segunda-parte do outro mundo, demos também um chuto no rabo da única equipa europeia sem derrotas. No fim do jogo, Jesus não falou por menos: "Se o Marítimo ganhou é claro que estou surpreendido." Ao menos na próxima semana já sabem ao que vão.
Ah, e o golo do ano foi de graça, não é preciso agradecerem.
Agora vamos a Belém, ou a Alvalade, ou ao fim do mundo, mas só paramos no Jamor. Não somos grandes, Marítimo, somos enormes.
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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
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